espetáculo
03/09, 04/09, Casa da Frontaria Azulejada, Internacional, Venezuela, espetáculo »

Franz Kafka é a principal referência literária do dramaturgo caraquenho em sua peça de 1988 que ganhou duas montagens três anos depois, na capital do país e em Madri. A produção apresentada no Mirada é de 2003 e traz uma mulher no papel central, e não um homem, como na versão original. Numa estação de trem, em algum país esquecido, uma passageira sofre arbitrariedades à maneira do romance O Processo. Um soldado e um oficial agem com truculência com a imigrante que, parece, não fala sua língua. Os excessos geram confusões e absurdos. A incomunicabilidade avança com a desconfiança presumida. Um clima tomado por forças ocultas que amordaçam, cegam e destroem o indivíduo, afrontando os direitos humanos. Com formação que inclui passagens por EUA e França, Gustavo Ott despontou como dramaturgo no início dos anos 1980. Ele também é jornalista e suas peças foram traduzidas para o inglês, italiano, alemão, francês, russo, japonês etc.
08/09, 09/09, Brasil, Fonte do Sapo, Nacional, Praça Mauá, espetáculo, teatro de rua »

A ingenuidade pode ser irmã da esperteza. O núcleo de Sergipe equilibra-se no arame entre instâncias demasiado humanas ao narrar três histórias curtas extraídas da literatura de cordel. O pano de fundo é a critica à associação automática entre as culturas popular e de massa – o balaio desta é o consumo e o daquela, o suprassumo. Em 33 anos de dedicação contínua ao teatro de rua, os criadores se dizem conscientes de que são necessários novos procedimentos na pesquisa do cômico. Fugir da convenção ao visitar os universos da cultura popular, do cordel e do folclore. Afinal, foi o princípio da resistência que fez esses artistas chegarem até aqui, mesmo diante da precariedade econômica que significa fazer arte em alguns cantos do Nordeste. De 1977 para cá, o Imbuaça cruzou o Brasil de norte a sul e já se apresentou em países como Equador, Cuba, México e Portugal.
06/09, 07/09, 08/09, 09/09, 10/09, 11/09, Brasil, Galpão do Porto - Armazém 7a, Nacional, destaque, espetáculo »

A produção deste ano reúne criadores ligados ao Teatro de Grupo em São Paulo. A recriação do clássico de Dostoiévski teve boa repercussão crítica e ingressos esgotados. No Brasil, o substantivo “novela” é mais associado à trama em episódios na TV do que à narrativa literária. O subtítulo refere-se às três partes, uma por noite, em que o espectador pode acompanhar a adaptação. Michkin é o príncipe despido de dotes, um visionário misto de Cristo e Dom Quixote. Ele retorna à Rússia após tratar de epilepsia. Do trem à estadia, envolve-se em novelo amoroso, financista e sagrado. Quem ancora o projeto é a Mundana Companhia, fundada em 2007. A diretora é da Companhia Livre. Ela e outros nomes do projeto passaram pelo histórico Grupo Oficina. Vertigem e Companhia São Jorge de Variedades também estão representados.
06/09, 07/09, Brasil, Nacional, Parque Municipal Roberto Mário Santini, Praça Luiz La Scala, espetáculo, teatro de rua »

Trata-se de uma livre adaptação do clássico francês medieval e universal A Farsa do Advogado Pathelin, de autor desconhecido. O espetáculo de 2004 recorre ao cordel nordestino, esquetes de picadeiro, fábulas, ditos e outras variantes da cultura popular. Um advogado vigarista, que sobrevive dando golpes nos clientes, se vê envolvido no caso de assassinatos de cabras e bodes. Uma trama cheia de traições, trapaças e reviravoltas. Esposa maliciosa engana o marido advogado que engana comerciante ganancioso que engana empregado que engana juiz que quer enganar todo mundo. Por trás do riso, o espelho das relações de poder e de hierarquia implícitas no cotidiano. A Teatro Nu Escuro completa 14 anos com sede em Goiás, onde mantém espaço para espetáculos, ensaios e acervo. Nesse percurso, ajudou a formar novos espectadores, recebeu premiações locais e já circulou por outros Estados com seu repertório.
10/09, 11/09, Chile, Internacional, Teatro Guarany, espetáculo »

A criação coletiva retrata a estupidez e o vazio dominantes na sociedade pós-ditadura chilena (1973-1990). Na sala de (mal) estar de uma casa, seis pessoas revelam-se cada uma delas em sua ilha. São talvez quatro horas da madrugada, acabou a bebida, a música, ninguém dança e elas tampouco têm ideia do que celebram. O marasmo e o silêncio dão lugar ao riso postiço, aos diálogos fugazes. Algumas apelam a “shows” individuais na ânsia por dissimular o desconcerto. O espetáculo propõe uma partitura feita de movimentos, atmosferas, sensações e ruídos. Em suma, os malefícios da inconsciência, da desmemória. Trinidad González dirige o projeto paralelo a seu grupo, o Teatro en el Blanco – premiado núcleo surgido na cena chilena em 2004 e que o Brasil conheceu há pouco com Neva e Diciembre, nos quais ela atua sob encenação de Guillermo Calderón.
11/09, Brasil, Ginásio SESC Santos, Nacional, espetáculo, infantil »

O tom desse musical para crianças é a mistura entre o popular e o erudito com atalho para o circo-teatro, uma casamento típico da cultura pelo interior do país. Samba e ópera vão à mesma roda de brincadeiras para falar de amor e arte. O texto conta as confusões do criado Espoleta. Ele promete ao desafinado patrão uma ópera em seu castelo. Mas, tentado a economizar algumas moedas, contrata uma trupe de picadeiro para a tal apresentação. O espectador em formação acompanha um jeito brasileiro de criar e, sobretudo, de mesclar influências. São 11 atores-músicos que não saem de cena, cantando e tocando ao vivo canções que flertam com a MPB. A Banda Mirim surgiu 2004 com o show Felizardo, que depois virou teatro e inovou no jeito original de contar histórias. Chega à quarta peça que também caiu nas graças do público e da crítica.
07/09, Argentina, Auditório SESC Santos, Internacional, destaque, espetáculo »

O diretor sempre dá um jeito de falar do teatro dentro do teatro em suas montagens. A versão para Tio Vânia, de Anton Tchekhov, saúda essa arte milenar de forma ímpar. Como em Ibsen, o cultuado encenador partilha a paixão pelos clássicos e tenta lê-lo de outro modo ao espectador atual. A peça trata das relações entre membros de uma família de origem rural e os que vivem na cidade e a difícil convivência de pessoas tão distintas. Cofundador do El Periférico de Objetos (1989), grupo que estreitou laços do teatro de animação com performance e artes plásticas, ele seguiu voos autônomos. Com uma vasta produção, Veronese tornou-se sinônimo da cena argentina das mais inquietas e ousadas em termos formais e temáticos, cativo em festivais pelo mundo.
03/09, 04/09, Espanha, Internacional, Parque Municipal Roberto Mário Santini, destaque, espetáculo, teatro de rua »

Ao sugerir a imagem do fogo do mar, o título remete às raízes mediterrâneas do grupo que há 27 anos alia magnetismo e colorido das festas populares à ousadia formal em criações de grande formato ao ar livre. A oportunidade de assistir a uma obra do repertório, de 1994, permite conferir o domínio de linguagem e a tentativa permanente de escapar ao virtuosismo. O roteiro visita lendas e costumes valencianos, dispensa a palavra, assume a pirotecnia e interfere na percepção dos passantes em seu cotidiano. A obra quer ressignificar, dar a ver com outros olhos e apropriação dionisíaca do espaço público. O Xarxa é militante quanto à inovação permanente para a rua combinada a recursos de multimídia. A acolhida do núcleo em mais de 40 países dá conta da universalidade de seu trabalho.
05/09, Argentina, Auditório SESC Santos, Internacional, espetáculo »

Uma norueguesa de 26 anos, casada, três filhos, escandalizou a burguesia do final do século XIX ao contrariar “deveres” de esposa e mãe. Abandonou o lar com rumorosa batida de porta. O gesto de Nora, a protagonista de Henrik Ibsen, pode soar anacrônico aos dias de hoje. Mas o encenador e dramaturgo cava fundo ao refletir o quanto a questão de gênero ainda é determinante. Estão aí, na ordem do dia, as afrontas aos direitos humanos. A versão de 2009 equilibra o peso dos demais personagens centrais, marido, agiota, médio e amiga. Dinheiro é o que os move e estanca. O espaço cênico diminuto da casa corresponde à cenografia de outro Ibsen por Veronese, Todos los Grandes Gobiernos han Evitado el Teatro Íntimo, que também integra o Mirada.
09/09, 10/09, Argentina, Fosso SESC Santos, Internacional, destaque, espetáculo »

O pecado capital da inveja perpassa o monólogo. Um melodrama musical em que a protagonista narra como ela foi pivô de um episódio que envolveu duas rainhas do rádio dos anos 30 na Argentina: Eva Perón e Libertad Lamarque. O cineasta e autor Santiago Loza toma como gancho a mítica bofetada que Libertad teria dado em Eva. O enredo trata do dilema de uma costureira de bairro, fã de cantarolar a antiperonista Libertad o tempo todo. Certo dia, a própria artista baixa em sua oficina para encomendar-lhe um vestido. Atraída pela súbita fama da moça, Eva também vai atrás e pede exclusividade para o mesmo vestido a ser finalizado. A aparente disputa traz à tona visões sobre questões da memória política e social do país. A obra de 2008 marcou a estreia do também cineasta Diego Lerman como diretor teatral. Nascido em 1976, ele integra a boa fase cinematográfica do país. Filmou Tan de Repente (2002) e La Mirada Invisible, este exibido no Festival de Cannes este ano.