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08/09

08/09, Blog do Mirada »

Sem efeitos

O cenário é o interior de um apartamento. Mentira. O cenário é o cenário de um espetáculo mesmo. Os atores fazem a trilha ao vivo, vez ou outra, dedilhando um piano. A luz é chapada, sem efeitos. Na cena, quatro atores manejando com maestria uma história de inveja e traição. Assim é “Todos los Grandes Gobiernos han Evitado el Teatro Intimo”, versão do diretor argentino Daniel Veronese para a peça “Hedda Glaber”, de Henrik Ibsen.

08/09, Blog do Mirada »

O absurdo universal

O idioma é o espanhol, os atores, venezuelanos, mas a história de “Passport” é universal. Os absurdos gerados pelo abuso de poder e pelo preconceito ganham contornos kafkianos na peça escrita pelo dramaturgo carraquenho Gustavo Ott. Apresentada em duas noites no MIRADA (3 e 4 de setembro), na Casa da Frontaria Azulejada, a montagem dirigida por Luiz Domingos González coloca no centro da cena uma imigrante.

08/09, Brasil, Nacional, Praça Luiz La Scala, espetáculo, teatro de rua »

O Amargo Santo da Purificação

O grupo surgido há 32 anos no Rio Grande do Sul retrata a vida e o pensamento do revolucionário Carlos Marighella (1911-69), que lutou contra a ditadura militar (1964-85). A criação coletiva apropria-se do espaço ao ar livre com movimentos corais, máscaras, percussão ao vivo e demais elementos afro-brasileiros. A inspiração vem do cineasta Glauber Rocha: tratamento documental e abordagem épica ao aspirar à liberdade e à justiça. Um dos mais premiados e respeitados coletivos de teatro de rua do Brasil comunica sua visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte de um sonhador. O Ói Nóis surge em 1978 propondo-se uma renovação radical da linguagem cênica. E assim segue, vendo o teatro como função social para desvelar e analisar a realidade.

07/09, 08/09, Brasil, Nacional, Teatro SESC Santos, destaque, espetáculo »

Policarpo Quaresma

O romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (1881-1922) é emblemático ao condensar a verve nativista e ufanista do começo da República. O anti-herói simboliza o homem-nação. Toma para si o ideal de um país regido pelo bem-estar de seu povo e deposita esperanças na força civilizatória do Estado. Ao teatralizar a obra, Antunes Filho, 28 anos à frente do CPT, correlaciona linguagens diversas como a commedia dell’arte, o circo, o teatro de revista e as operetas. O premiado e respeitado diretor foi assistente de encenadores estrangeiros na fase moderna do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, nos anos 1950. Hoje, as assinaturas cênica, dramatúrgica e pedagógica de Antunes tornaram-se referenciais para a arte do ator.

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O Mundo Tá Virado, Tá no Vai ou Não Vai.<br />Uma Banda Pendurada, a Outra em Breve Cai

A ingenuidade pode ser irmã da esperteza. O núcleo de Sergipe equilibra-se no arame entre instâncias demasiado humanas ao narrar três histórias curtas extraídas da literatura de cordel. O pano de fundo é a critica à associação automática entre as culturas popular e de massa – o balaio desta é o consumo e o daquela, o suprassumo. Em 33 anos de dedicação contínua ao teatro de rua, os criadores se dizem conscientes de que são necessários novos procedimentos na pesquisa do cômico. Fugir da convenção ao visitar os universos da cultura popular, do cordel e do folclore. Afinal, foi o princípio da resistência que fez esses artistas chegarem até aqui, mesmo diante da precariedade econômica que significa fazer arte em alguns cantos do Nordeste. De 1977 para cá, o Imbuaça cruzou o Brasil de norte a sul e já se apresentou em países como Equador, Cuba, México e Portugal.

06/09, 07/09, 08/09, 09/09, 10/09, 11/09, Brasil, Galpão do Porto - Armazém 7a, Nacional, destaque, espetáculo »

O Idiota – Uma Novela Teatral

A produção deste ano reúne criadores ligados ao Teatro de Grupo em São Paulo. A recriação do clássico de Dostoiévski teve boa repercussão crítica e ingressos esgotados. No Brasil, o substantivo “novela” é mais associado à trama em episódios na TV do que à narrativa literária. O subtítulo refere-se às três partes, uma por noite, em que o espectador pode acompanhar a adaptação. Michkin é o príncipe despido de dotes, um visionário misto de Cristo e Dom Quixote. Ele retorna à Rússia após tratar de epilepsia. Do trem à estadia, envolve-se em novelo amoroso, financista e sagrado. Quem ancora o projeto é a Mundana Companhia, fundada em 2007. A diretora é da Companhia Livre. Ela e outros nomes do projeto passaram pelo histórico Grupo Oficina. Vertigem e Companhia São Jorge de Variedades também estão representados.

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Mi Muñequita

Gabriel Calderón contava 17 anos quando escreveu o enredo que se passa em um ambiente opressivo e expõe a perversidade adulta sob a perspectiva de uma menina e sua boneca. Em 2004, aos 21 anos, seu texto foi acolhido num dos palcos tradicionais de Montevidéu, o Teatro Circular, atraindo o público jovem. Também codiretor e um dos intérpretes, o autor premiado quer mostrar a intimidade através de uma lente deformante: segredos sujos de pessoas condenadas a repetir-se. No olho desse redemoinho de entorno cruel, a protagonista será, ao lado do inseparável brinquedo, uma nada cândida sobrevivente. A irreverência e a contradição alimentam a Complot, companhia fundada há cinco anos por Calderón e o coreógrafo Martín Inthamoussú. Desde 2007, soma a dramaturga Mariana Percovich, nome destacado no panorama recente do país.

07/09, 08/09, Argentina, Casa da Frontaria Azulejada, Internacional, destaque, espetáculo »

Lote 77

Alguns sinais característicos do gênero latino-americano são colocados em xeque na história concebida pelo ator, diretor e dramaturgo. A masculinidade é dissecada sob o ponto de vista de quem vem do interior, um atalho biográfico para o idealizador Marcelo Mininno nascido em Salto e habitante da capital do país desde os 18 anos. O texto prospecta, afinal, como se constrói um varão. Três sujeitos envolvidos na criação, seleção e classificação de gado bovino em lotes de venda experimentam um processo de autoconhecimento ao olhos do outro. A montagem promove interface rural e urbana. Estreou em 2008 após um ano de investigação junto ao elenco convidado pelo autor. A obra também recorre a feitos históricos destacados nos últimos trinta anos da República Argentina. Mininno já atuou em mais de 25 produções. Por Lote 77, conquistou prêmios de referência em seu país. Atualmente, é professor da Escola Metropolitana de Arte Dramática.

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La Omisión de la Familia Coleman

Um dos fenômenos de público e crítica de Buenos Aires, onde está em cartaz desde 2005 e já fez turnê por Saravejo, Irlanda, Espanha e Brasil (festivais em Porto Alegre, Brasília e Londrina), o espetáculo aplica tons absurdos e realistas ao retratar o processo de desmanche de uma família. O adoecimento da avó, alicerce da casa, fragiliza de vez as relações com a filha e os quatro netos. É como se o espectador estivesse sob o mesmo teto desses moradores afetados pela miséria material. O espetáculo foi bastante associado aos reflexos do baque econômico que se abateu sobre o país em 2001. O texto é de Claudio Tolcachir, um dos fundadores da Timbre 4, em 1999, na qual também ministra aulas em sua sede no bairro de Boedo. Muitos núcleos do circuito independente da cidade surgiram nessa escola.

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In on It

Premiado no Rio de Janeiro, em 2009, e em circulação pelo país, o projeto é uma feliz triangulação da maturidade artística de Emilio de Mello e Fernando Eiras com o diretor Enrique Diaz em trabalho paralelo à Companhia dos Atores. Dois atores, duas cadeiras, um casaco, um lenço, um molho de chaves e o desenho de luz em palco nu como que bastam para defender a narrativa do autor canadense. Um homem escreve uma peça sobre alguém que sofre acidente, dois amantes vêem seu caso terminar e dois homens contam essa história. São dez personagens costurados em três camadas: a peça (escrita por um dos personagens), o espetáculo e o passado. A peça é a historia de Ray, mais “teatral” do que os demais planos. O espetáculo é o que acontece aqui e agora. O passado fala de como a relação dos protagonistas se desenvolveu. Uma estrutura metalinguística e um poético jogo de atuar levam a trama a um desfecho surpreendente.