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10/09, 11/09, Chile, Internacional, Teatro Guarany, espetáculo »

A criação coletiva retrata a estupidez e o vazio dominantes na sociedade pós-ditadura chilena (1973-1990). Na sala de (mal) estar de uma casa, seis pessoas revelam-se cada uma delas em sua ilha. São talvez quatro horas da madrugada, acabou a bebida, a música, ninguém dança e elas tampouco têm ideia do que celebram. O marasmo e o silêncio dão lugar ao riso postiço, aos diálogos fugazes. Algumas apelam a “shows” individuais na ânsia por dissimular o desconcerto. O espetáculo propõe uma partitura feita de movimentos, atmosferas, sensações e ruídos. Em suma, os malefícios da inconsciência, da desmemória. Trinidad González dirige o projeto paralelo a seu grupo, o Teatro en el Blanco – premiado núcleo surgido na cena chilena em 2004 e que o Brasil conheceu há pouco com Neva e Diciembre, nos quais ela atua sob encenação de Guillermo Calderón.
11/09, Brasil, Ginásio SESC Santos, Nacional, espetáculo, infantil »

O tom desse musical para crianças é a mistura entre o popular e o erudito com atalho para o circo-teatro, uma casamento típico da cultura pelo interior do país. Samba e ópera vão à mesma roda de brincadeiras para falar de amor e arte. O texto conta as confusões do criado Espoleta. Ele promete ao desafinado patrão uma ópera em seu castelo. Mas, tentado a economizar algumas moedas, contrata uma trupe de picadeiro para a tal apresentação. O espectador em formação acompanha um jeito brasileiro de criar e, sobretudo, de mesclar influências. São 11 atores-músicos que não saem de cena, cantando e tocando ao vivo canções que flertam com a MPB. A Banda Mirim surgiu 2004 com o show Felizardo, que depois virou teatro e inovou no jeito original de contar histórias. Chega à quarta peça que também caiu nas graças do público e da crítica.
07/09, Argentina, Auditório SESC Santos, Internacional, destaque, espetáculo »

O diretor sempre dá um jeito de falar do teatro dentro do teatro em suas montagens. A versão para Tio Vânia, de Anton Tchekhov, saúda essa arte milenar de forma ímpar. Como em Ibsen, o cultuado encenador partilha a paixão pelos clássicos e tenta lê-lo de outro modo ao espectador atual. A peça trata das relações entre membros de uma família de origem rural e os que vivem na cidade e a difícil convivência de pessoas tão distintas. Cofundador do El Periférico de Objetos (1989), grupo que estreitou laços do teatro de animação com performance e artes plásticas, ele seguiu voos autônomos. Com uma vasta produção, Veronese tornou-se sinônimo da cena argentina das mais inquietas e ousadas em termos formais e temáticos, cativo em festivais pelo mundo.
03/09, 04/09, Espanha, Internacional, Parque Municipal Roberto Mário Santini, destaque, espetáculo, teatro de rua »

Ao sugerir a imagem do fogo do mar, o título remete às raízes mediterrâneas do grupo que há 27 anos alia magnetismo e colorido das festas populares à ousadia formal em criações de grande formato ao ar livre. A oportunidade de assistir a uma obra do repertório, de 1994, permite conferir o domínio de linguagem e a tentativa permanente de escapar ao virtuosismo. O roteiro visita lendas e costumes valencianos, dispensa a palavra, assume a pirotecnia e interfere na percepção dos passantes em seu cotidiano. A obra quer ressignificar, dar a ver com outros olhos e apropriação dionisíaca do espaço público. O Xarxa é militante quanto à inovação permanente para a rua combinada a recursos de multimídia. A acolhida do núcleo em mais de 40 países dá conta da universalidade de seu trabalho.
05/09, Argentina, Auditório SESC Santos, Internacional, espetáculo »

Uma norueguesa de 26 anos, casada, três filhos, escandalizou a burguesia do final do século XIX ao contrariar “deveres” de esposa e mãe. Abandonou o lar com rumorosa batida de porta. O gesto de Nora, a protagonista de Henrik Ibsen, pode soar anacrônico aos dias de hoje. Mas o encenador e dramaturgo cava fundo ao refletir o quanto a questão de gênero ainda é determinante. Estão aí, na ordem do dia, as afrontas aos direitos humanos. A versão de 2009 equilibra o peso dos demais personagens centrais, marido, agiota, médio e amiga. Dinheiro é o que os move e estanca. O espaço cênico diminuto da casa corresponde à cenografia de outro Ibsen por Veronese, Todos los Grandes Gobiernos han Evitado el Teatro Íntimo, que também integra o Mirada.
09/09, 10/09, Argentina, Fosso SESC Santos, Internacional, destaque, espetáculo »

O pecado capital da inveja perpassa o monólogo. Um melodrama musical em que a protagonista narra como ela foi pivô de um episódio que envolveu duas rainhas do rádio dos anos 30 na Argentina: Eva Perón e Libertad Lamarque. O cineasta e autor Santiago Loza toma como gancho a mítica bofetada que Libertad teria dado em Eva. O enredo trata do dilema de uma costureira de bairro, fã de cantarolar a antiperonista Libertad o tempo todo. Certo dia, a própria artista baixa em sua oficina para encomendar-lhe um vestido. Atraída pela súbita fama da moça, Eva também vai atrás e pede exclusividade para o mesmo vestido a ser finalizado. A aparente disputa traz à tona visões sobre questões da memória política e social do país. A obra de 2008 marcou a estreia do também cineasta Diego Lerman como diretor teatral. Nascido em 1976, ele integra a boa fase cinematográfica do país. Filmou Tan de Repente (2002) e La Mirada Invisible, este exibido no Festival de Cannes este ano.
04/09, 05/09, Argentina, Internacional, Teatro Guarany, espetáculo »

A ebulição intelectual da Argentina entre 1960 e 1970 serve como pano de fundo às vozes e olhares literários de Alejandra Pizarnik (1936-1972) e Silvina Ocampo (1903-1994). As duas escritoras pertenciam a gerações e classes sociais distintas. Costurada a quatro mãos, a dramaturgia assimila traços biográficos para juntá-las ainda mais no plano da ficção. Na vida real, ambas estudaram em Paris, por exemplo. Alejandra suicidou-se aos 36 anos. Silvina era mulher de Adolfo Bioy Casares. Contos, poemas, diários e cartas são entrelaçados a passagens históricas da nação que sempre olha para si por meio da arte, suas peculiaridades nas entrelinhas. Com personagens ora cúmplices ora dissonantes, a produção estreou este ano. A atriz e diretora Lía Jelín conciliou a formação internacional em dança com a trajetória teatral desde 1960.
08/09, 09/09, Auditório SESC Santos, Internacional, Uruguai, destaque, espetáculo »

Gabriel Calderón contava 17 anos quando escreveu o enredo que se passa em um ambiente opressivo e expõe a perversidade adulta sob a perspectiva de uma menina e sua boneca. Em 2004, aos 21 anos, seu texto foi acolhido num dos palcos tradicionais de Montevidéu, o Teatro Circular, atraindo o público jovem. Também codiretor e um dos intérpretes, o autor premiado quer mostrar a intimidade através de uma lente deformante: segredos sujos de pessoas condenadas a repetir-se. No olho desse redemoinho de entorno cruel, a protagonista será, ao lado do inseparável brinquedo, uma nada cândida sobrevivente. A irreverência e a contradição alimentam a Complot, companhia fundada há cinco anos por Calderón e o coreógrafo Martín Inthamoussú. Desde 2007, soma a dramaturga Mariana Percovich, nome destacado no panorama recente do país.
07/09, 08/09, Argentina, Casa da Frontaria Azulejada, Internacional, destaque, espetáculo »

Alguns sinais característicos do gênero latino-americano são colocados em xeque na história concebida pelo ator, diretor e dramaturgo. A masculinidade é dissecada sob o ponto de vista de quem vem do interior, um atalho biográfico para o idealizador Marcelo Mininno nascido em Salto e habitante da capital do país desde os 18 anos. O texto prospecta, afinal, como se constrói um varão. Três sujeitos envolvidos na criação, seleção e classificação de gado bovino em lotes de venda experimentam um processo de autoconhecimento ao olhos do outro. A montagem promove interface rural e urbana. Estreou em 2008 após um ano de investigação junto ao elenco convidado pelo autor. A obra também recorre a feitos históricos destacados nos últimos trinta anos da República Argentina. Mininno já atuou em mais de 25 produções. Por Lote 77, conquistou prêmios de referência em seu país. Atualmente, é professor da Escola Metropolitana de Arte Dramática.
10/09, 11/09, Casa da Frontaria Azulejada, Colômbia, Internacional, destaque, espetáculo »

Formado em 1994, o coletivo de Bogotá estende as artes cênicas a territórios do vídeo, música e artes plásticas, entre outros, para jogar com o imaginário social. A produção de 2010 é exemplar disso. Às vésperas do Réveillon de 2009, o Mapa Teatro rumou para a cidade de Guapi, na costa do país, beirando o Pacífico. O objetivo: acompanhar o Dia dos Santos Inocentes, 28 de dezembro, quando as ruas são tomadas por mascarados que dão chibatadas a quem lhe cruzar o caminho, tal Herodes perseguindo crianças, reza a crença local. Um testemunho da barbárie e autoflagelos. As imagens capturadas intercalam cenas ao vivo de um fim de festa. Narradores e artistas populares vindos da terra do rebu espelham a guerra colombiana entre realidade e ficção.