Menino prodígio
Em 1970, em Xochimilco, na Cidade do México, nascia um menino que, por obra do destino e por conta das escolhas certas, se tornaria um prodígio. Javier Medina, hoje com 4o anos, ainda aparenta ser um menino e tem timbre vocal de criança.
Ele é a principal estrela do espetáculo “De Monstruos y Prodigios – La Historia de los Castrati”, que abriu a programação do MIRADA na noite de quinta-feira, no Teatro do SESC SANTOS, com representação hoje. Durante a peça, os solos de Medina com sua voz de registro soprano arrancaram aplausos em cena aberta.
Em cartaz há 10 anos, o espetáculo marcou a estreia de Medina como solista e foi criada especialmente para ele, por Jorge Kuri na dramaturgia e Claudio Valdés Kuri na direção, mas o processo de montagem também contou com pesquisa do próprio Medina acerca da história dos cantores “castrati”, que ganhou bolsa do Fondo Nacional para la Cultura y las Artes (FONCA).
Durante o coquetel após o espetáculo, o blog do MIRADA foi conversar com ele e descobriu que Medina não canta em falsete durante suas apresentações – como costumam fazer os homens contratenores.
Ele tem o mesmo registro de voz de uma cantora soprano ou de um castrati – cantores líricos que fizeram muito sucesso na Itália do século 16 por serem homens que cantavam como mulheres ou meninos, mas que só conseguiam essa façanha por conta da mutilação genital que sofriam ainda crianças.
Como? Medina contou-nos, sem nenhum embaraço, que sobreviveu a uma leucemia que teve aos 6 anos de idade e que causou-lhe distúrbios hormonais que o deixaram para sempre como um menino. “Não produzo hormônios masculinos. Nunca tive barba”, disse com voz fina, passando a própria mão no rosto imberbe enquanto segurava uma taça de champanhe. Sua laringe também se manteve como a de uma criança.
Medina tornou-se cantor lírico. Em 1994, passou a ser orientado por Magda Zalles e se juntou ao Ancient Music Emsemble Ars Nova, que dirigiu e excursionou pelos Estados Unidos e Europa. Também foi estudar com Edith Contreras, da Universidade da Cidade do México. “Eu não sabia que eu era soprano. Descobri isso estudando”, conta.
Sua capacidade vocal versátil lhe permite cantar vários gêneros musicais como ópera (recriando as pontuações feitas para os castratti dos séculos 16), musicais (com o papel escrito para sopranos e mezzo-sopranos) e música popular também, que ele diz adorar, tanto que diz ter conhecido o diretor Claudio Valdés Kuri (da peça “De Monstruos…”) em um karaokê na Holanda, onde fora se apresentar com o conjunto Ars Nova. “Ele ficou impressionado comigo cantando uma música de Whitney Houston”.
Em 2001 e 2002, Medina desempenhou o papel de Mary Sunshine em “Chicago: The Musical”, na Cidade do México. Em 2002 ele foi eleito pela Associação Mexicana de Críticos de Teatro como o melhor ator musical, e ganhou o prêmio Claudio Brook 2000-2001. Na foto abaixo, Medina durante o coquetel do MIRADA.
[...] por gestos, atitudes e falas, reforçando o jogo dual da dramaturgia. E o canto e o carisma de Javier Medina, rapaz cuja expressão no olhar, a postura física arqueada e, claro, o timbre agudo de voz o faz [...]
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