Raros criadores contemporâneos ousam voltar a um tempo em que os papéis masculinos eram bem definidos e  falar de jovens dedicados a tarefas rurais – quando as novas tecnologias encantam e desafiam diferentes gerações –, mas o jovem dramaturgo e diretor argentino Marcelo Mininno (foto abaixo) revolveu as próprias origens no campo para escrever e dirigir “Lote 77″, que será apresentando no MIRADA.

O espetáculo, que tem assinatura e atuação de Mininno – ele atua ao lado dos atores  André D’Adamo e Rodrigo González Garillo –, estreou em maio de 2008 e desde então percorreu vários festivais na Argentina, além do Chile e Brasil. “‘Lote 77′ é resultado do trabalho de um ano, que desenvolvemos com os atores, partindo de duas linhas de trabalho, que foram a aproximação do trabalho de produtores rurais e a reflexão sobre a identidade masculina na sociedade Argentina”, disse o diretor, em entrevista ao blog MIRADA.

Trata-se apenas da primeira experiência de Mininno na direção, mas a peça já é considerada uma obra-prima em seu país de origem. Muito da inspiração para o espetáculo partiu das lembranças do diretor de sua infância em Salto, província rural de Buenos Aires, onde desempenhava diversas tarefas ao lado de seu pai – ao convidar os atores para montar “Lote 77″, Mininno lhes mostrou um vídeo em que ele ajudava o pai a castrar um bezerro.

O espetáculo aborda a descoberta da própria masculinidade por três rapazes que trabalham na seleção e classificação de gado em lotes de venda, e perpassa momentos históricos dos últimos 30 anos da República Argentina.

O passado rural recente das sociedades latino-americanas – especialmente do Brasil – talvez faça com que diferentes plateias se identifiquem com o universo abordado em “Lote 77″. “Tivemos a grata surpresa de descobrir, em Belo Horizonte (MG), que o público recebeu a obra com entusiasmo e refletiu conosco, assim como faz o público argentino”, ressalta Mininno, ao lembrar da apresentação no X Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte. “A peça indaga sobre quem somos, quais são as marcas herdadas socialmente para nos construir como indivíduos, e estas são perguntas universais.”

Apesar da precocidade como diretor, Mininno tem trajetória larga como ator de teatro, cinema e televisão, atuando em mais de 25 produções. Ele está bastante satisfeito com o convite para o MIRADA: “É muito gratificante termos sido convidados para o Festival Ibero-americano MIRADA, não somente para compartilhar nosso teatro, como para seguir crescendo. Creio que o encontro alimenta um intercâmbio que enriquece a cada país, a cada espectador e a cada artista. Nossa companhia está muito entusiasmada e esperamos poder mostrar um trabalho à altura do convite”, finaliza Mininno.

“Lote 77″ será apresentado nos dias 7 e 8 de setembro, às 19h, na Casa da Frontaria Azulejada, Centro de Santos. Além disso, o diretor participa de uma das atividades formativas promovidas pelo Festival: o encontro Produção Argentina Contemporânea, no dia 6 de setembro, às 11h.

Coordenado pelo curador e diretor artístico do Festival Internacional de Buenso Aires, Alberto Ligaluppi, o encontro reúne Mininno, Santiago Loza (autor de “Nada del Amor me Produce Envidia”) e Carlos Pacheco (crítico teatral do “La Nación”).