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PONTO DIGITAL MIRADA

Para entender o caranguejo, só entrando na lama

Separamos alguns pontos que influenciaram a construção de Caranguejo Overdrive, pra você ir mais fundo na lama

Por André Venancio – Sesc SP

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A temporada de Caranguejo Overdrive, d’Aquela Companhia, chegou ao fim ontem no Mirada. Durante os últimos dois dias, quem visitou o C.A.I.S Vila Mathias, em Santos, conheceu Cosme, homem-caranguejo ou caranguejo-homem que, devastado pela fome, tenta reconhecer sua cidade natal enquanto a sua própria humanidade não é mais reconhecida.

Para ir mais a fundo na lama impregnada na personagem, separamos alguns pontos que influenciaram a construção do texto de Pedro Kosovski, e podem ampliar a reflexão proposta pela Cia.

A GUERRA DO PARAGUAI

Toda guerra é devastadora, não importa quem vence. O Brasil, aliado ao Uruguai e Argentina, pode ter sido vencedor no embate contra o Paraguai. Porém, as consequências recaíram sobre todos. A precariedade na alimentação e na higiene tornavam as zonas de conflito território propício para a cólera e outras doenças que elevaram a taxa de mortalidade. Para além disso, findada a longa ocupação militar do Paraguai pelo Brasil, os combatentes (escravos) que retornavam ao país sentiam sérias dificuldades de adaptação.
Apesar de ser o maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a Guerra do Paraguai não costuma ser abordada nos livros didáticos da história do Brasil. Você pode começar a sua pesquisa aqui.

O MANGUEBEAT

A canalização do mangue até a Baía de Guanabara é abordada com algum protagonismo no espetáculo, já que as consequências afetaram diretamente os catadores de caranguejo, como Cosme. Dando um salto no tempo e indo do Rio de Janeiro a Recife, foi o abandono econômico-social das regiões de manguezais que inspirou o movimento musical conhecido como Manguebeat, que por sua vez inspirou as músicas tocadas em cena.

Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi, é um dos discos fundamentais desse movimento.

A FOME

“Apesar de sermos unidos pelo apetite, há uma importante diferença entre mim e os homens, pois eu não morro de fome como eles, eu me farto de restos que um dia foram eu, enquanto eles morrem de fome porque não há caranguejos para tantos homens”.

Vista como o ápice dos problemas causados pela segregação social, a fome que Cosme sente ao longo do espetáculo é, em si, uma personagem. Foi o livro Geografia da Fome, do geógrafo brasileiro Josué de Castro, uma das principais referências para o texto de Caranguejo Overdrive.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.