A tradição do teatro de bonecos em três espetáculos

Nenhum festival de teatro do Brasil deveria deixar de fora uma tradição secular no País, que continua representando os mitos e histórias da cultura popular em plena era tecnológica e digital: o teatro de bonecos.
O MIRADA, nesta segunda edição, presta homenagem aos mestres mamulengueiros, bonequeiros e titeriteiros do Brasil com três montagens que deverão encantar adultos e crianças: “Felinda”, da Cia Carroça de Mamulengos (foto acima); “A Cortina da Babá”, do Grupo Sobrevento; e “O Fio Mágico”, da Cia Mão Molenga Teatro de Bonecos.
Descendente direto da commedia dell’arte – estilo de comédia italiana surgida no século 16, baseada em muita improvisação sobre um roteiro básico e personagens fixas – o teatro de bonecos no Brasil se desenvolveu em diversas regiões, com diferentes nomes, e vêm atravessando séculos graças aos mestres bonequeiros, pesquisadores, educadores e novas gerações de brincantes.
Carlinhos de Babau – nome artístico de Carlos Gomide – nasceu em Goiás, mas herdou a tradição do teatro de mamulengo de grandes mestres do Rio Grande do Norte. Fundador, há 35 anos, da Cia Carroça de Mamulengos, com sede em Juazero do Norte (CE) -, Babau vem a Santos com sua trupe de atores-brincantes, formada por sua mulher, Schirley França, e oito filhos, além de dois músicos.
No espetáculo de rua “Felinda” (foto abaixo), a companhia mistura teatro de bonecos e números circenses ao folclore brasileiro para contar a história de uma mulher que decide fugir com o circo. Porém, ao chegar ao local em que a lona estava montada, ela encontra um terreiro vazio. Desatinada, ela perde a memória e começa a misturar realidade com imaginação.
A Cia Carroça de Mamulengos voltou recentemente de uma longa turnê pelo Cariri, no Ceará – feita dentro de um ônibus todo customizado -, atingindo mais de 13 mil pessoas com o espetáculo “Felinda” e oficinas. As apresentações no MIRADA vão ser nos dias 7 de setembro, na Fonte do Sapo, em Santos; e 8 de setembro, na cidade de Cubatão.
Outro grupo tradicional na arte de animar bonecos no Brasil, o Sobrevento, que tem sede em São Paulo, traz ao Festival o seu primeiro espetáculo de teatro de sombras – na verdade, sombras chinesas: “A Cortina da Babá”, baseado em conto da grande romancista inglesa Virgínia Woolf. Leia mais e assista a um vídeo AQUI.
Representante do teatro de bonecos de Pernambuco – região que se destaca pelo teatro de mamulengo – a Cia Mão Molenga também está há 26 anos na estrada, percorrendo escolas, feiras, praças, teatros com espetáculos e oficinas. Em “O Fio Mágico” (foto), que terá duas sessões no dia 15 de setembro, no Auditório do SESC Santos, a cia utiliza diferentes técnicas de animação – recortes, fantoches, animação direta, máscaras – paracontar a história de um menino que recebe o dom de adiantar o tempo. A direção geral é de Marcondes Lima, fundador da cia no Recife e um dos mais importantes nomes do teatro de Pernambuco.
Norberto Moraes Júnior
Assistimos no dia 15/09 ao espetáculo “O Fio Mágico”, da companhia Mão Molenga. Indubitávelmente um dos melhores espetáculos desta segunda edição do MIRADA. A estória é divinamente contada pelos atores Carla Denise, Marcondes Lima, Fátima Caio e Fábio Caio, que utilizam com genialidade uma mesa especial giratória, cujo mecanismo muda os cenários , servindo para a manipulação dos bonecos (confeccionados por eles próprios). Trata-se da estória de um menino que encontra uma bola com fio mágico que, ao ser puxado, avança no tempo, porém, isso poderá trazer-lhe complicações irreversíveis. O grupo passa com atução brilhante e maestria, as mensagens para refletirmos sobre nossas próprias vidas. Ao final do espetáculo, não há uma pessoa sequer, que não tenha se emocionado e ficado com os olhos marejados (como eu também fiquei). Lindo, lindo lindo ! Parabéns ao Grupo Cia Mão Molenga Teatro de Bonecos .