A memória nas coisas. Espetáculo argentino abordou a percepção da ausência por meio de peças de roupas. Assista ao vídeo

A família que se tem, a familia que se sonha, a família que se perde. Este tem sido um tema recorrente nas montagens latino-americanas no MIRADA. E, com a única obra representante da Argentina nesta edição, não foi diferente.
Aos 11 anos de existência, o laboratório artístico Íntimo Teatro Itinerante apresentou, nos dias 09 e 10 de setembro (domingo e segunda-feira), no Ginásio SESC Santos, o seu espetáculo mais recente, “Pueden dejar lo que quieran” (Podem deixar o que quiserem).
Com texto e direção do portenho Fernando Rubio, a montagem recorre outras linguagens para reconstruir processos da memória: artes plásticas – no uso inusitado do espaço cênico, transformando-o em uma instalação em que sete atores e público adentram; e literatura – na transcrição e impressão de histórias coletadas e imaginadas.
Mas a originalidade deste espetáculo vai além da forma, ao fazer-nos refletir sobre a acumulação de coisas pela sociedade contemporânea e sobre a fragmentação da memória em “posts”.
A maneira que Rubio encontrou para “ilustrar” esse literal estado de coisas foi erguendo um quadrilátero cuja estrutura básica são peças de roupas coletadas com as pessoas. O detalhe importante é que muitas das centenas de roupas que forram o chão e as quatro “paredes” do espaço cênico acompanham uma pequena crônica datilografada em um quadrado de papel – contada por quem doou as peças.
São histórias que envolvem a peça de roupa doada, que ajudam a formar um memorial coletivo, vestígios de vidas. E essas histórias são recicladas. Rubio conta que, para as duas apresentações em Santos, foram colhidas peças de roupas na própria cidade, que forraram o chão no qual o público do MIRADA pisou. Posteriormente, o destino dessas roupas seria a doação a alguma instituição ou entidade beneficente.
“A ideia para este espaço surge de uma investigação que comecei a fazer sobre a memória de roupas de diferentes pessoas (…). Então, liguei essa ideia de acumulação à história de um homem que perde sua família em um acidente de carro e começa a reconstruí-la através da memória das roupas. Há ações em que a roupa ocupa lugar fundamental e há momentos de se narrar partes da história, da ideia sobre o que deixamos, sobre o que usamos (…) É a história de um homem que recorre também às histórias de outras pessoas para encontrar uma maneira de seguir vinculado ao mundo”, disse o diretor, em entrevista ao Blog do MIRADA.
Assista ao vídeo com o diretor:
Veja como foi uma das apresentações no SESC Santos: