“O CPT já esteve no Mirada em outras oportunidades. Nós participamos de vários festivais internacionais e, aqui, vemos a preocupação com os artistas, a curadoria, os grupos, uma diversidade muito grande. Para o CPT é um privilégio essa troca”, conta Naiene Sanchez, uma das atrizes que ministra a oficina Centro de Pesquisa Teatral: O Corpo Expressivo, realizada pelo Centro de Pesquisa Teatral (CPT), de Antunes Filho, no Mirada.

O que Naiene comemora é resultado do retorno dos seus próprios alunos. Jamili Limma, 29 anos, é santista, e conta sobre a oportunidade que a oficina, uma das atividades formativas propostas para esta edição, trouxe aos artistas locais. “Para Santos, que é um celeiro de artistas, é uma iniciativa importante. É raro ter a presença desses profissionais aqui na cidade, e quando eles vêm, cobram caro. Para quem tem um pagamento limitado, fica difícil ter acesso. Ter essa iniciativa dentro do Mirada é muito gratificante”. O ator Leonardo Vieira, que também ministra da oficina, completa. “Eu acho que Santos é tão próximo de São Paulo, mas ao mesmo tempo tão distante. Tem um cena de teatro aqui que não sobe muito e a gente também não desce muito pra ver o que está sendo feito. Os atores daqui estão aproveitando esse contato, sempre é importante olhar para as inquietações de cada companhia e cada trabalho. Tem gente de muitos lugares e formações diversas, e percebemos como essa metodologia se estabelece num ambiente como esse. Como o trabalho que o Antunes desenvolve – e nós estamos sendo porta-vozes – ecoa nos participantes”.

Essa ressonância acaba sendo refletida em outras questões do Festival, como conta Naiene. “Hoje em dia, com as redes de comunicação tão aquecidas, não tem como não pensarmos todos juntos. Tem outros diretores, atores, companhias e espetáculos que também estão ligados a nós. A atriz de A Reunião [Trinidad Gonzáles], peça que eu gostei muito, foi aluna do Antunes. Aqui vemos a importância de não ter uma questão geográfica que limite a arte. O Mirada dá a oportunidade pra questão geográfica não ser um entrave”.

A metodologia e o resultado

“Existe uma perspectiva pedagógica que o CPT já traz há alguns anos, com uma técnica e uma metodologia que o Antunes desenvolve e constituiu com esse olhar que ele sempre teve em relação ao ator. Aqui a gente tem uma regra interna que é não sonegar nenhum tipo de informação, em qualquer circunstância. A gente entra com a perspectiva de ter algum resultado no trabalho das pessoas, que de alguma maneira possa alimentar e ampliar as possibilidades poéticas de ação, de percepção no teatro”, revela Leonardo.”O grupo Macunaíma, [parceiro no desenvolvimento dos exercícios práticos] é a companhia que faz as peças, e o CPT é o Antunes Filho mesmo, pesquisando e levando adiante os processos. Tem também o CPTzinho, que é o curso de formação de atores. Estou achando maravilhosa essa oportunidade, nós tivemos uma ano muito aquecido em relação aos processos de formação. Só esse ano já fizemos oficina no Rio, em Bogotá, em Petrópolis e São Paulo”, revela Naiane.

Beatriz Alves, 20 anos, atriz e aluna da oficina, reitera a ideia de formação. “Eu não conhecia essa parte das oficinas e foi uma experiência rica como descoberta do corpo do ator. Para entender melhor o nosso corpo e aprender a trabalhar com ele o fazer do teatro”, disse. “Com o CPT, podemos aprender um pouco do método deles, que é completamente diferente de tudo o que já vivi como atriz. Isso me fez me reconhecer, me reinvestigar”, nas palavras da colega Flávia Simões, 23 anos.

Coletivo Pão & Circo

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