Um caminho para acionar a beleza. Luiz Carlos Vasconcelos se emociona ao falar da peça “Retábulo”

Uma plateia ideal. Foi o que o diretor Luiz Carlos Vasconcelos e seu Grupo Piollin de Teatro - de João Pessoa (PB) – encontraram na noite de ontem (quinta-feira, 06 de setembro), na primeira “aparição” de “Retábulo” no MIRADA e no estado de São Paulo.
O espetáculo não foi apresentado na íntegra na primeira noite, em razão do atraso na chegada do cenário, mas os espectadores corresponderam com emoção ao trechinho mostrado pelo grupo, aplaudindo de pé os atores Everaldo Pontes, Ingrid Trigueiro, Luana Lima, Nanego Lira, Servillio de Holanda, Soia Lira, Suzy Lopes e o diretor Luiz Carlos Vasconcelos.
Esta é a primeira vez que o grupo retorna aos palcos com o espetáculo, após três meses de bem-sucedida temporada em 2010, na sede do Piollin. A procura por ingressos para as duas apresentações no MIRADA foi grande e, também devido ao problema técnico com a primeira apresentação, foi marcada uma sessão extra às 19h de sexta-feira.
Adaptação feita por Luiz Carlos Vasconcelos do conto “Retábulo de Santa Joana Carolina”, do escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), o novo espetáculo do Piollin vai além da montagem de maior sucesso do grupo, “Vau da Sarapalha” – de 1992, que ficou 18 anos em circulação -, em termos de experimentação da linguagem dramática e nível de exigência dos atores.
“É um avanço em alguma medida, podendo aí a plateia questionar ‘prefiro Sarapalha, que me arrebatou’. Mas, aqui, o arrebatamento não vai se dar por uma via racional. Vai se dar por uma via que não sei qual é, não sei nomear, mas que requer um espectador disposto também a uma aventura de risco. Osman (Lins) dizia escrever para leitores ideais. Eu construo meu olhar de diretor para um espectador ideal”, disse Vasconcelos, em entrevista ao blog do MIRADA.
O diretor conta que conheceu o escritor Osman Lins – que é autor da peça “Lisbela e o Prisioneiro” – em 1998, através do romance ”Avalovara”. O conto que ele escolheu adaptar para o teatro foi publicado na coletânea “Nove, novena, narrativas”, de 1966, que fez do autor um dos expoentes da ficção brasileira contemporânea. Vasconcelos explica que Osman concebeu o conto como uma espécie de palíndromo – frase ou palavra que mantém o mesmo sentido quando lida de trás pra frente.
A partir desse conto, o diretor decidiu tentar encontrar o palíndromo cênico. Por isso, durante os ensaios, mostrava aos atores o vídeo “Inspirations”, do artista visual espanhol Cristobal Vila, baseado nas obras de Escher.
Antes de decidir levar “Retábulo” ao teatro, Vasconcelos estava em contato com outro autor, Ronaldo Correia de Brito, “um grande autor, mas abandonamos o texto no percurso porque estava difícil de regular, e foi quando descobri ‘Retábulo de Santa Joana Carolina’, com fragmentos da vida, que tem tudo a ver com a nossa pesquisa, com uma narrativa difícil, complexa, imbricada, mas linda. Então decidimos fazer o ‘Retábulo’”.
Em relação ao desafio de se adaptar um conto complexo como este de Osman Lins, o ator e diretor diz que o maior desafio ”é perseguir um caminho em que podemos acionar a beleza, acionar o que é mais secreto e sutil na natureza humana. Não queremos o clichê, não queremos o conhecido. Vendo o espetáculo, eu digo,’ meu Deus, estamos no caminho’”.
Assista a alguns trechos da entrevista: