Cineasta Amilcar Claro fala sobre a segunda temporada da série “Teatro e Circunstância” (SESCTV)

Um projeto sem precedentes, que mapeou em áudio e vídeo a produção teatral dos quatro cantos do Brasil, a série de documentários “Teatro e Circunstância” tem entre seus realizadores dois importantes nomes do teatro e do cinema brasileiros – respectivamente Sebastião Milaré (crítico e pesquisador teatral, na foto acima, entrevistando um grupo de teatro) e Amilcar Claro (diretor de cinema e TV) – e produção do SESC TV.
Eles estarão no MIRADA, no dia 9 de setembro (domingo), às 16h, para exibir o episódio inédito “A Ideologia da Rua” – que abre a segunda temporada da série que será veiculada pelo SESCTV – e falar ao público sobre o processo de registrar as cenas e grupos mais representativos do Brasil.
Como adianta Amilcar Claro – na entrevista que concedeu ao Blog do MIRADA (leia trechos mais abaixo) – as imagens e entrevistas do projeto foram inteiramente captadas em diversos estados e cidades do Brasil: de Norte a sul, passando pelo Centro do País, e de Leste a Oeste. Esta segunda fase da série é composta de 28 novos capítulos com aproximadamente 52 minutos de duração cada – a primeira fase trouxe 27 episódios.
Os 13 capítulos iniciais foram entregues ao SESCTV e começarão a ser exibidos pelo canal no dia 11 de setembro, terça-feira, às 22h – com reprises durante a semana. “Os 15 programas restantes seguem sendo editados e serão entregues para exibição até janeiro de 2013, quando a produção da série estará completa”, diz Claro (foto abaixo).
Ciclo de documentários no MIRADA
A exibição da série “Teatro e Circunstância” no MIRADA integra a programação das Atividades Complementares do Festival, e terá sete sessões, entre os dias 9 e 15 de setembro, sempre às 16h, na Arena SESC.
O capítulo “Ideologia da Rua” abre o ciclo e registra três dos mais importantes grupos que se dedicam ao teatro em espaços públicos: Tá na Rua (Rio de Janeiro), Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (Porto Alegre) e Galpão (Belo Horizonte).
Os demais episódios que integram a mostra no Festival pertencem à primeira temporada da série – já exibida pelo SESCTV – e abordam a trajetória do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), do Teatro de Arena, do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, do polo teatral de Barão Geraldo e da cena teatral da Praça Roosevelt, entre outros temas.
Blog do MIRADA – Por que o ciclo de documentários tem o nome “Teatro e Circunstância”? Qual é o mote para realizá-lo?
Amilcar Claro - A escolha do nome, feita por Sebastião Milaré, deu-se justamente por tratarmos, nesta série, do teatro no contexto das circunstâncias que o envolvem, orientam e possibilitam sua existência. Vale lembrar que estamos em uma segunda fase desta série, dando continuidade aos 27 capítulos inicialmente gravados no estado de São Paulo. A ideia é a de que cada capítulo, embora prosseguindo o discurso temático anunciado, seja autônomo e, portanto, não dependa do conjunto para o seu perfeito entendimento. Estimulou-nos poder apresentar grupos e companhias teatrais e muitos deles desconhecidos, jovens em sua maioria, que atualizam técnicas antigas a partir da reflexão sobre a própria sociedade, buscando diferentes públicos e a influência direta da plateia nas peças que apresentam.
Você tem formação e trajetórias fundamentalmente voltadas ao cinema. Colaborou com filmes históricos, como “O Beijo da Mulher Aranha” (1985), de Hector Babenco e “Além da Paixão” (1985), de Bruno Barreto, entre outros. Como surgiu a oportunidade de realizar esses documentários sobre teatro e a parceria com o Sebastião Milaré?
Sim, sou formado em Cinema pela ECA-USP e atuei profissionalmente em cerca de 70 filmes de diversos diretores. Faz alguns anos, atuo como diretor e produtor de documentários para a televisão. Minha parceria com o crítico Sebastião Milaré iniciou-se justamente em razão de um projeto sobre teatro que estava destinado à exibição cinematográfica, sobre o diretor teatral Antunes Filho, projeto este que teria igualmente uma versão para TV. Em razão disso, enquanto tentávamos captar recursos através das leis de incentivo para a realização do filme, oferecemos o projeto ao STV (canal a cabo de TV, então, gerido por SESC e SENAC) que decidiu realizá-lo mas, como série documental. Abrimos mão, então, da realização do filme. Dividida em seis capítulos, esta série se chamou “O Teatro Segundo Antunes Filho”, com roteiro e entrevistas do Sebastião Milaré e direção e produção minhas. Exibida depois também por televisão aberta, pela TV Cultura, alcançou muito boa aceitação, o que culminou na continuação de nossa parceria com a TV, agora SESCTV (sucessor do STV e agora gerido inteiramente pelo SESC), com a realização da primeira fase do “Teatro e Circunstância”, igualmente com roteiro de Milaré e direção e produção minhas.
Qual foi o primeiro episódio que você fez para o ciclo “Teatro e Circunstância”?
O primeiro capítulo da primeira fase desta série se chama “Agitação na Praça Roosevelt” (que será exibido no dia 15 de setembro, às 16h), abordando as transformações daquele espaço público no Centro da cidade de São Paulo, devidas aos grupos teatrais que ali se fixaram desde meados dos anos 90. Abarcando breve histórico de cada um dos grupos, o capítulo apresenta impressões de pessoas que residem ou trabalham na região sobre a repercussão do fenômeno no seu dia a dia. Cabe destaque ao grupo Satyros, que mantém atividades paralelas à produção de espetáculos, em contato permanente com a comunidade, instituindo as “Satyrianas”, grandes encontros de teatro abertos ao público em plena praça. (O episódio) destaca também os Parlapatões, que transformaram um prédio degradado em espaço de encenações e encontros, e o Studio 184, fundado e mantido pela atriz Dulce Muniz desde o final dos anos 90. Registra ainda a passagem pela Praça Roosevelt de grupos importantes, como o Teatro de Câmara de São Paulo, o Teatro X e ainda o Cemitério de Automóveis, de Mário Bortolotto e Fernanda D’Umbra.
Qual era a sua visão do teatro no Brasil antes de se aprofundar por meio dos documentários?
Confesso que o teatro que eu conhecia até então, em sua maioria, pouco me agradava. Mas isso se alterou radicalmente ao tomar contato com importantes grupos que atuam, sobretudo, na rua, fora dos grandes teatros, e em espaços alternativos, alguns nada convencionais, muitos nas periferias da cidade.
Houve alguma realidade ou história que você conheceu durante a produção dos documentários que lhe surpreendeu mais? Por quê?
Nenhuma em particular e todas em geral. Surpreendeu-me muito positivamente a qualidade e o vigor do trabalho realizado por grupos coletivos teatrais existentes em todo o País. O que, aliás, deve conferir importância e interesse a esta nossa série, agora em sua fase nacional.
Como você chegou à cena teatral de Barão Geraldo? Que lembrança você tem do Distrito de Campinas (SP)?
Barão Geraldo é um verdadeiro celeiro de talentos teatrais. Muitos atores saídos do curso de Artes Cênicas da UNICAMP formaram grupos que se estabeleceram no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas, onde se localiza a Universidade. O documentário que ali fizemos na primeira fase da série, “A Vida em Barão Geraldo”, se propôs a mostrar esse teatro, a partir de quatro exemplos, que são Grupo Lume, Barracão de Teatro, Seres de Luz e Boa Companhia. Através desses grupos, o capítulo oferece a visão de um distrito onde proliferam pesquisas dramáticas, que ganham repercussões internacionais.
De sua larga bagagem de cinema, o que pesou mais na hora de realizar essa série de docs sobre teatro?
A experiência que pude trazer do cinema para aplicação na, digamos, sua parente TV. Veículo para o qual há muito venho trabalhando, ainda que siga fazendo incursões pela produção cinematográfica.
Além da exibição no SESCTV e, agora, no Festival MIRADA, como os interessados podem fazer para adquirir, conhecer a série?
Há uma expectativa, e mesmo uma reivindicação, sobretudo da classe teatral, desde a primeira fase, para que a série seja lançada em DVD em uma caixa, com a totalidade dos capítulos. A execução dessa ideia, no entanto, depende inteiramente de iniciativa da emissora de TV, detentora de seus direitos.
Você vai acompanhar o MIRADA?
Infelizmente, talvez só consiga ver dois ou três espetáculos entre os dias 9 e 10 de setembro, aproveitando minha ida ao MIRADA, junto com Sebastião Milaré, para o lançamento desta segunda fase da série, com a apresentação do primeiro capítulo. Mas, isso se deve a boas causas, que são a edição dos programas restantes da série e, paralelamente, a finalização do meu filme ficcional de longa-metragem “Tríade (Galeria de Espelhos)”, que roteirizei, produzi e dirigi e que tem seu lançamento previsto para o início de 2013.
Amilcar M. Claro
Parabéns, Carlota, pela matéria!