Salvador Allende foi o primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente na América. Governou o Chile entre 1970 a 1973 e foi deposto por um golpe liderado por Augusto Pinochet, seu chefe das Forças Armadas.

Sua morte durante o golpe nunca foi explicada. Suicídio (com a arma que fora presente de Fidel Castro) ou assassinato (como defende sua sobrinha, a escritora Isabel Allende)? Ninguém tem respostas. Todos têm imaginação.

Para contar sobre os últimos dias deste homem que mudou a história do Chile, o diretor Marco Layera usou humor ácido, uma trupe de atores afiados, som alto nudez e ironia escancarada. Exatamente nesta ordem.

Durante a peça, um grito. Um xingamento impublicável. O restante do público comentou baixinho e a peça seguiu. Ninguém se retirou. Logo que as luzes se apagaram indicando o final do espetáculo, as palmas encheram o teatro. A plateia ficou dividida entre aqueles que aplaudiram fervorosamente em pé e os que educadamente permaneceram sentados.

Na saída, pouca coragem para ir embora. Quem estava em grupo debatia, desconhecidos trocavam opiniões como se tivesse ali uma mesa, um bar, uma urna eletrônica por perto.

“A peça é polêmica. Mas a história política do Chile é polêmica. Os atores só mostraram isso. Aos berros, pra que todo mundo ouvisse”. Rosane Viana, 72 anos, socióloga.

“Gosto quando alguém explica política fazendo deboche. Fica mais fácil de entender e até de se revoltar”. Wellington Sousa, 27 anos, analista de sistemas.

“Um soco. Bem No estômago. Preciso que pare de doer pra conseguir falar”. Bete Prado, 60 anos, professora universitária.

A Imaginação do Futuro é apresentada pela Cia Teatro La re-sentida, do Chile. Nascida em 2008, ela foi formada por jovens atores da cena teatral do país, e tem como ideia central a reflexão a partir da provocação e quebra de tabus.

A programação do Mirada segue. Confira os próximos espetáculos e mire você mesmo.

Texto: Coletivo Pão & Circo

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