Sinopse
Na recriação da história dos últimos dias de Salvador Allende, um grupo de ministros o assessoram tentando salvar o governo. Através da revisão de diversos acontecimentos, o espetáculo busca compreender como a distorção da história poderia evitar os 17 anos de obscuridade com consequências que chegam até os dias atuais no país, quando a indiferença da classe dominante e a violência caracterizam novamente um esfacelamento das relações sociais. Ao trabalhar com o futuro como um processo histórico no qual a ficção é também um estado livre, a companhia investiga com humor, crueldade e sarcasmo quem somos e quem gostaríamos verdadeiramente de ser. A dimensão de dúvida sobre a história, percebendo o quanto há de criação no processo de contá-la, sem contudo negá-la, conduz mais à crítica sobre o homem do que aos acontecimentos, tornando a realidade algo a ser discutido como única possibilidade de verdade.
Direção: Marco Layera
Produtor: Nicolás Herrera
Dramaturgia: La Resentida
Elenco: Benjamín Cortés, Benjamín Westfall, Carolina Palacios, Carolina de La Maza, Diego Acuña, Ignacio Fuica, Pedro Muñoz, Rodolfo Pulgar e Sebastián Squella
Design de Palco: Pablo de la Fuente
Música: Marcello Martínez
Técnico de Vídeo: Karl Heinz Sateler
Assistente de Som: Diego Jeldes
Assistente de Cena: Valeria Aguilar
Coprodução: Fundación Teatro a Mil y Terni Festival (Itália)
Resenha
A história não morreu como previu certa vez o historiador Francis Fukuyama. Prova disso são os acontecimentos econômicos, políticos e sociais que reconfiguraram o século atual. A história passou a ser compreendida também como aquela possível de ser imaginada, requerendo processos de intersecção entre o passado e o futuro possível. Mais difícil, porém, é chegar a uma tradução das possibilidades do amanhã, quando o ontem é, mesmo que distante, extremamente presente e nebuloso. Rever acontecimentos requer igual capacidade de se imaginar por dentro de estruturas constituídas para suprir da história a verdade. Sempre haverá quem diga mais. E, com o passar do tempo, quanto mais se avançam os ponteiros, mais surgirão os disponíveis a contar. É o esperado. É o que se quer. Mas não é simples. Dizer o quê, quando todo o trazido pode ser igualmente a farsa do sugestionar para o extremo oposto?
Enveredando por esse paradigma, a Compañia La Resentida recria a história de Salvador Allende no limite da perda de seu governo. Foram anos de escuridão no Chile, com consequências até nossos dias. Hoje, a classe dominante se relaciona através da indiferença com os demais e a violência está presente novamente. Imaginar o futuro do país impulsiona a criação do relato como ficção livre. A história passa a ser a narrativa ficcional. À ficção se põem possibilidades de sacarmos e crueldade, dada sua potência de possibilidade de verdade. Então o teatro deixa de ser mera imaginação, constitui-se a criação do tempo a partir da dimensão da exposição da história como teatro. Esse é o novo paradoxo simbólico no trânsito entre fato e lembrança, oficialidade e silêncio. A capacidade de o artista enveredar pelo furacão em pleno movimento de ação. Porque a história não é interrompida ao ser contada ou analisada. Ao contrário, acumula-se como acontecimento quântico. La Imaginación del Futuro olha para trás e para adiante concomitantemente. Esse é, talvez, um dos exercícios mais caros e fundamentais ao homem agora.