vinicius calderoni – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Crítica] Armadilhas e caminhos dentro do labirinto https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-armadilhas-e-caminhos-dentro-do-labirinto/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-armadilhas-e-caminhos-dentro-do-labirinto/#respond Sun, 18 Sep 2016 13:59:52 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2777 Maria Eugênia de Menezes – Site Teatrojornal – Leituras de Cena

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Existem palavras que não querem dizer. Não servem propriamente à construção de uma mensagem. Antes, assumem outro papel: assegurar que a comunicação está funcionando, mandar ao interlocutor um sinal de que ele é escutado e pode, portanto, seguir a falar. Vinicius Calderoni encontrou nessa função da linguagem o mote e o título para seu espetáculo: “Ãrrã”., da Cia. Empório de Teatro Sortido.  O termo, que serve simplesmente para assentir com quem se está a falar, vem dar conta de situações em que estamos distraídos. De corpo presente, mas fora do tempo. Comentando determinadas situações que se apresentam, mas pensando, muitas vezes, em outras.

Com “Ãrrã”, Calderoni conquistou o Prêmio Shell de melhor autor. Foi sua segunda indicação – ele já havia sido lembrado por sua estreia como dramaturgo, em “Não nem Nada”. Trata-se de um reconhecimento significativo, especialmente se considerada a brevidade de sua carreira e o tipo de dramaturgia que está construir: fluida, descontínua, sem enredo. O que a dupla de atores Luciana Paes e Thiago Amaral leva à cena são fiapos de narrativa. Cenas brevíssimas, como se tivéssemos acesso a instantes de vidas anônimas, como se flagrássemos pedaços de conversas (e pensamentos) em meio à multidão.

Em seus depoimentos, o autor costuma evocar as referências cinematográficas da obra. A maneira como se aproxima ou se distancia de determinado personagem, como se operasse uma câmera. Não importa, a priori, essa deferência aos mecanismos de filmagem. Chama atenção, contudo, a maneira como o criador logra concretizá-la: A partir de pequenos ardis, construídos dentro do texto. Como se pusesse em ação uma máquina que comandasse, aleatoriamente, as trocas de cena.

A descontinuidade é um dos pilares do teatro contemporâneo, pelo menos daquela parcela que virou as costas para o drama e investiga formas alternativas de narrativa. “Ãrrã” se dá por um arranjo em que a estrutura formal conta muito. Decerto, essa visão de constructos dramatúrgicos poderia constituir uma experiência enfadonha para quem assiste. Estranhamente, é ao expor as engrenagens, ao oferecer ao público a visão de como opera essa mecânica, que a peça mobiliza o espectador. E consegue fazê-lo, em grande medida, pela sua aura de brincadeira. Convida o público a participar de um jogo de armar, espécie de quebra-cabeça onde as peças não se encaixam.

Apenas uma passarela de madeira e alguns refletores compõem a cenografia. Não há outros móveis. Não haverá trocas de figurinos. E mesmo as projeções, tão em voga, são utilizadas com parcimônia, quase unicamente como legendas, sinalizando cada uma das três partes que compõem a montagem. A simplicidade de recursos abre espaço para que o encontro entre os dois intérpretes alcance o impacto devido. Egressos da Cia. Hiato, Luciana Paes e Thiago Amaral demonstram uma preciosa sintonia em cena. Sabem se engrandecer mutuamente, reforçam, com seus trabalhos de composição, a aparência lúdica das proposições do texto. Com eles, tudo soa fácil, ligeiro. Ainda que demande construção precisa.

É significativo que esses atores demonstrem em cena a fecundidade do seu encontro. Nessa peça de papéis múltiplos e histórias recortadas, algumas temáticas são atravessadas. Uma delas, a dificuldade de se estar, de fato, com o outro. O tempo que passamos acompanhados, mas presos em nossos próprios pensamentos. A solidão que se impõe em aglomerados de gente. Situações nas quais a comunhão não passa de aparência enganosa. Mesmo quando pai, mãe e filho vão juntos ao planetário. Quando duas amigas decidem assistir juntas a um concerto. Quando marido e mulher conversam dentro do carro. Estão todos sós. Encerrados em seus espantos, suas fragilidades imensas e imperfeições.

Menos contundente revela-se o terço final do espetáculo – tentativa de amarrar, por meio de um personagem – as pontas aparentemente soltas da obra. A necessidade de uma costura, que viesse a dar sentido ao que parecia fortuito, mina parte do engenho do texto. Aproximando-o, injustamente, das soluções maneiristas que vicejam em parcela da dramaturgia contemporânea.


Maria Eugênia de Menezes é jornalista e crítica teatral, atuou como repórter e crítica de teatro do Caderno 2, do jornal O Estado de S.Paulo, com experiência na cobertura de festivais no Brasil e no exterior. Também escreveu na Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas como o Circuito Cultural Paulista e membro do júri de prêmios como Prêmio Bravo! de Cultura, APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Prêmio Governador do Estado de S.Paulo.

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Sobre as situações em que esbarramos diariamente https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/sobre-as-situacoes-em-que-esbarramos-diariamente/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/sobre-as-situacoes-em-que-esbarramos-diariamente/#respond Thu, 15 Sep 2016 21:49:50 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2155 Por Renata Dantas / Sesc Belenzinho

ãrrã por Vinicius Calderoni

Um casal no primeiro encontro naquela mesa ao lado no bar, o crítico mala que fica tentando chamar atenção na plateia, o cara louco no carro ao lado conversando com o GPS. As cenas te parecem familiar? Assim é Ãrrã. As diversas cenas do seu cotidiano estão lá, dançando em um jogo rápido entre os intérpretes. Os atores se desdobram o tempo inteiro em múltiplos personagens de forma não linear.

“O deslocamento no tempo e no espaço se dá através do corpo e da voz do ator, das sugestões espaciais e da luz, quer dizer, não tem um cenário figurativo. Tem essa coisa de todas as transições e todos os saltos se darem através do texto”, afirma Vinicius Calderoni, que assina o texto e direção do espetáculo.

Segundo episódio da trilogia não sequencial “Placas Tectônicas”, que começou com o espetáculo “Não Nem Nada”, indicado ao Prêmio Shell 2014 de Melhor Autor e Melhor Atriz para Renata Gaspar, “Ãrrã” é um jogo cênico para uma dupla de atores e marca a primeira colaboração de Vinicius com Luciana Paes e Thiago Amaral da Cia. Hiato.

“O texto é uma investigação sobre uma dimensão quase lúdica do teatro, no sentido da dinâmica de jogo. Podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. Coisas que só o teatro pode oferecer”, completa Calderoni.

“Ãrrã” dá espaço àquelas vozes e situações com que esbarramos diariamente. É também uma reflexão sobre os encontros, desconhecidos, curiosidades, rivalidades e estranhamento. E mais comum do que essas e tantas outras situações que o espetáculo traz, só mesmo a expressão que nos é tão natural e que dá nome ao espetáculo.

O cenário e o figurino são minimalistas. Os atores não trocam de roupa durante o espetáculo, e no cenário apenas uma prancha de madeira móvel está lá se transformando em diferentes coisas e te levando pra diversos lugares. A iluminação completa também o imaginário do público, ajudando na condução da trama.

Com apenas 31 anos, Vinicius Calderoni, além do coletivo “5 a Seco”, também participa da companhia Empório de Teatro Sortido, criada em 2010, com o diretor e dramaturgo Rafael Gomes. Desde seu primeiro espetáculo, “Música Para Cortar Os Pulsos”, a Cia. Empório de Teatro Sortido teve amplo reconhecimento e recebeu indicações e prêmios prestigiados, como o Shell, o APCA, o Questão de Crítica e o Prêmio FITA (RJ). No repertório da Cia, além de “Música Para Cortar os Pulsos”, estão outros cinco espetáculos: “Gotas D’Agua Sobre Pedras Escaldantes”, “Cambaio – A SECO”, “Não Nem Nada” e “Um Bonde Chamado Desejo”. Embora bem jovem, os textos de Calderoni conseguem dialogar com diferentes públicos, do iniciante ao mais tradicional. Prova disso foi o público presente na noite desta quinta no ginásio do Mirada.

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10 espetáculos que estão por vir no Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/#respond Tue, 13 Sep 2016 18:32:32 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1873 Por Patrícia Diguê

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1) Leite derramado (Brasil)

A estreia nacional da peça do Club Noir, de São Paulo, será nesta quinta-feira (15), às 21h, no Teatro do Sesc. Haverá mais uma sessão na sexta-feira (16), no mesmo horário. É uma adaptação cênica do premiado romance homônimo de Chico Buarque, de 2009. O espetáculo concebe uma visão panorâmica de séculos da história do país, apontando a necessidade urgente de reconstruirmos procedimentos éticos em direção a novas possibilidades de ação política. Em seu estertor delirante, abandonado numa maca em corredor de hospital público, o protagonista Eulálio Assumpção, de 100 anos, é atravessado por um pandemônio no qual ruem as fronteiras que separam mundo interno e mundo externo, passado e presente, memória e imaginação, religião e poder, indivíduo e sociedade, política e mitologia.

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2) Ãrrã (Brasil)

O Empório de Teatro Sortido (SP) apresenta duas sessões da peça de Vinicius Calderoni, na quarta-feira, às 19h e às 21h, no Ginásio do Sesc. Toda interjeição ou onomatopeia, como a do título, têm a ver com o brincar com a língua. É por aí que caminha a peça, num jogo de vozes de dois atores, em que a escrita/fala soa como se não fosse da jurisdição do que é um texto dramático, num moto-contínuo de diálogos e narrações feéricos. Sob figurino-base preto e espaço cênico dominantemente vazio, triunfa a dupla de comediantes (na acepção mais nobre) Luciana Paes e Thiago Amaral.

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3) Barrio Caleidoscopio (Equador)

Com um mote próximo do imponderável, o solo do ator, pedagogo, dramaturgo e diretor Carlos Gallegos pretende surpreender o público com as peripécias de Afonsito. O personagem (uma criança, um adolescente, um adulto?) amanhece com vontade de ir ao armazém e comprar pão, talvez dois, dependendo do preço. Mas seu maior obstáculo será encarar, finalmente, o sentimento que costuma paralisá-lo: o medo. É a única apresentação equatoriana na mostra, na quarta e na quinta-feira, às 20h, na Casa Rosada.

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4) Antigonón, un contingente épico (Cuba)

Uma profunda reflexão sobre Cuba e os cubanos segundo um dos grupos mais ativos de Havana, o Teatro El Público. O contraponto está no diálogo geracional entre dramaturgo e atores na casa dos 20 e 30 anos, ávidos por cultivar a arte no presente e perceber o passado sem mitificação. Parafraseando Antígona, a heroína grega de Sófocles que enfrenta o rei pelo direito de levar o irmão à cova, a questão de fundo é viver com o enterrado ou enterrar o vivido. Não há trama, mas sucessão de quadros, por vezes carnavalizados, mesclando personalidades da Revolução Cubana (em poemas ou imagens) e figuras comuns como trabalhadores e estudantes de hoje. Duas sessões: quinta e sexta, às 22h, no Coliseu.

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5) Acapela (Chile)

Nos dois últimos dias de festival, o Ginásio do Sesc recebe o espetáculo de dança que provoca o público a ressignificar os sentidos da respiração. A ação vital para qualquer ser vivo é a razão de ser da obra em dança, disposta a estimular o sujeito a perceber sua maneira de estar no mundo e, às vezes, reinventá-la. O espaço silencioso, sensorial, pode ser ilustrado como uma instalação-pulmão e seu movimento duplo e contínuo de inspiração e expiração. A sonoridade do fôlego é sutil, um sopro permanente. Serão duas sessões, sábado e domingo, às 18h, no Ginásio do Sesc.

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6) Andante (Espanha)

O espetáculo de rua será realizado em três cidades diferentes: São Vicente (Praça Barão do Rio Branco, Centro), quinta, às 12h30; Santos (Fonte do Sapo), sábado, às 19h; e Cubatão (Parque Novo Anilinas, Centro), domingo, às 16h. Antes de surgirem os atores, o caminho ao ar livre recebe cinco instalações em diferentes pontos, distantes cerca de 30 metros entre si. São nichos artísticos. Sugerem imagens visuais por meio de sapatos, botas, malas, velas, um espelho trincado, uma cadeira quebrada, um microfone antigo, areia, cacos de telha, etc. Quem passa pelo local público se pergunta do significado. No segundo momento, com a chegada de três atores e um músico, a bordo ou empurrando sua espécie de carroça mambembe, aqueles objetos ganham nexo.

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7) Camargo (Colômbia)

Como a arte pode abordar a mente de um psicopata que matou mais de 150 mulheres, entre 8 e 20 anos, por considerá-las virgens? A companhia La Congregación Teatro transpõe para o espaço cênico as terríveis alegações e práticas reais de Daniel Camargo Barbosa (1930-1994), confrontadas ao ponto de vista das vítimas. O colombiano, que se dizia evangélico e soava amável em sua debilidade, transitou ainda por Brasil e Equador, sendo este o país onde cometeu a maioria dos crimes na década de 1980. Sexta e sábado, às 19h, no Auditório do Sesc.

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8) Dínamo (Argentina)

O espetáculo argentino traz o inusitado contexto de três mulheres que compartilham um trailer perdido em alguma estrada qualquer. Em princípio, elas não sabem da presença das demais. A peça expõe como tanta solidão e estranhamento podem gerar novas energias à vida. Ada é a anfitriã. Ela tem 70 anos, trabalhou com arte performática e anseia reencontrar o pulso criativo e o amor. A chegada da sobrinha, Marisa, a mobiliza em outros sentidos: a moça deseja voltar a ser tenista após anos internada por causa de alucinações. O surgimento da terceira personagem torna ainda mais surpreendente o convívio nessa casa sobre rodas. Harima brota dos recônditos do apertado vagão cenográfico: ela é imigrante e tenta contatar a família e o filho pequeno que ficaram para trás. Sexta às 20h e sábado às 21h, no Ginásio do Sesc.

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9) No Daré Hijos, Daré Versos (Uruguai)

O drama intercala prosa e canções a partir da vida e da obra da poeta Delmira Agustini (1886-1914), cuja memória e arte andavam relegadas até ganhar novo alento nos últimos anos. Ela morreu assassinada a tiros pelo ex-marido. Referência no teatro de pesquisa em seu país, a dramaturga e diretora Marianella Morena compõe três atos. Abre com o então casal no quarto, multiplicado por três mulheres e três homens sobre a cama. Em seguida, foca o ambiente familiar da escritora, patriarcal e falso moralista. Por fim, salta para o século XXI, quando uma casa de leilão dispõe um lote contendo o revólver do crime, uma gravação confessional e a correspondência inédita de Delmira com um político. Sexta e sábado, às 21h, no Guarany.

10) Cuban Beats All Stars (Show)

A banda cubana, formada por Vladimir Nuñez, Nelson Palacios, Roy Pinatel, DJ Dadtlef e MC Harold, apresenta uma fusão entre a música tradicional cubana, os sons eletrônicos e influências tribais, com canções que transitam entre a crítica social e o despojamento das festas urbanas. Será a última apresentação musical do Mirada, no domingo, às 22h, na Área de Convivência do Sesc. É de graça e a retirada de ingressos deve ser feita na bilheteria do Sesc, no dia do show, a partir das 10h. Não é permitida entrada de menores de 18 anos.

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