Tijolo – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 O Bloco da Esperança de Dom Helder https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/o-bloco-da-esperanca-de-dom-helder/ Mon, 12 Sep 2016 19:39:26 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1829 Por Thais Amendola e Juliana Ramos – Sesc SP

avessoeditado

“Não me incomodo que você me diga 
Que a sociedade é minha inimiga 
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo”

Os versos de Noel Rosa – uma das tantas referências musicais, fortemente presentes no trabalho da Cia do Tijolo – dão o tom da narrativa que embala as quase 3h d’O Avesso do Claustro.

O grupo recebe o público de braços abertos. A música nos deixa a vontade. O coro de vozes afinadas soa como um convite doce para a jornada que vem pela frente: o teatro vivo.

Mulheres, homens, velhos, jovens e crianças sentam-se lado a lado para ouvir a história de Dom Helder Câmara. Alguns dos presentes nunca ouviram falar do nosso protagonista. Outros não eram nascidos quando ele faleceu, em 1999.

Mas isso não é um problema.

Os contos se dividem em quatro diferentes narrativas que, mesmo muito distintas, se encontram num ponto comum: o da sobrevivência. Assim, as cidades de cada um dos personagens – São Paulo, Recife, Salvador e Rio de Janeiro – parecem tão próximas em angústias diferentes. O espaço de tempo também é fundido no alinhavar de cada história e há um reconhecimento mútuo no passado e no presente.

Além da música, da poesia e das inúmeras referências, há algo que intensamente está presente no cenário, na iluminação, no figurino, no texto: o viver como um ato político.

Assim, o descortinar da discussão séria é imperceptível – se perde por entre os risos, os aplausos e o espanto.

No texto, muitos tipos de críticas: a política, a social, a religiosa, a capitalista. As mazelas de se viver no Brasil são escancaradas, sem deixar espaço para esmorecer. 

“Enfrenta os ventos”, brada o ator (enquanto a tradução mostra em letras garrafais a mesma expressão em espanhol); “Uma andorinha só não faz verão, mas pelo menos anuncia”, diz outro personagem. “Quem, se eu gritasse, da legião de anjos ouviria?”, questiona.

Ali, todos ouviam. Todos celebravam. Personagens reais, fictícios, músicos, atores e público em comunhão – como se fossem um grande muro, construído tijolo por tijolo.
Das palavras de Dom Helder, o legado do espetáculo:

“É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca.”

*Leia mais artigos sobre o Mirada 2016 aqui.

]]>