teatro de bonecos – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Crítica] O Som das Cores https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/o-som-das-cores/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/o-som-das-cores/#respond Sun, 18 Sep 2016 22:13:43 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2906 isabelle-neri-2

por Maria Eugênia de Menezes
Teatrojornal – Leituras de Cena

Nem tudo é o que parece. Nem todas as perdas são para o mal. No espetáculo “O Som das Cores”, uma criação da companhia mineira Catibrum de Teatro de Bonecos, tudo está um pouco fora de lugar. E há lições a serem aprendidas em meio a essa desarrumação. Na obra infantil de 2013, com direção e dramaturgia assinadas por Lelo Silva, conhecemos a história de Lúcia, uma menina de 15 anos que, de repente, se descobre cega.

Para fazer dessa deficiência adquirida um mote para uma obra fantasiosa, a trama não será exposta diretamente, mas relatada por meio de metáforas. Lúcia, por exemplo, não se diz cega – crê ter perdido seus olhos. Seu cachorro de estimação, Tobias, os teria levado. Tudo parte de uma brincadeira. E pretexto para que ela se entregue a uma jornada mágica pela metrópole, atravessando túneis de metrô e passagens urbanas desconhecidas.

No teatro de animação, imagens descoladas da realidade podem ser criadas. A partir da manipulação de bonecos e objetos, Lúcia entra em contato com monstros e dragões, pode conversar com portas, passarinhos e com um anão de jardim, é capaz de voar valendo-se apenas do poder da imaginação. Em verdade, essa é a mensagem que conduz o espetáculo: a ideia de que não existem limitações para uma mente suficientemente livre.

É minucioso o trabalho dos manipuladores de bonecos. Conseguem não apenas movê-los, mas emprestar-lhes vida e ânimo. Cada uma das figuras é dotada de detalhes e efeitos que ajudam na caracterização dos personagens. Os cabelos de Lúcia, seus óculos, seus gestos expressivos. Há apuro ainda nos outros recursos utilizados: uma iluminação que serve à aura de sonho e fantasia ambicionada, uma cenografia bem acabada, uma bela trilha sonora original, composta pelo grupo Graveola e o Lixo Polifônico. No Mirada, porém, percebe-se que parcela considerável desse detalhamento se perdeu. Inadequados pareciam tanto a dimensão do palco quanto o tamanho da plateia para qual a peça foi apresentada, no Teatro do Sesc Santos. As cenas ocorrem em um espaço pequenino, delimitado por uma parede de vidro, o que cria impressão de estarmos diante de uma espécie de caixa de brinquedos. Uma caixa que ia perdendo encanto à medida que o espectador se distanciava da ribalta.

Para construir a trama, o dramaturgo se valeu de duas obras como referência: o livro homônimo do escritor taiwanês Jimmy Liao e o poema “O Cego”, do alemão Rainer Maria Rilke. “Só sensações de tato, como sondas, captam o mundo em diminutas ondas”, dizem os versos em tradução de Augusto de Campos. As fontes literárias marcam a trajetória do grupo, criado em 1991. Nos títulos que compõem o seu repertório, há espaço para autores como Guimarães Rosa, fonte de inspiração para o espetáculos “Lágrima” e “Trem da Memória”, e Miguel de Cervantes, referência direta para “Triste Figura”.

Apesar de apoiar-se em obras consistentes, “O Som das Cores” tem na dramaturgia sua mais evidente fragilidade. A pretensão de construir um enredo poético esbarra na inconsistência do texto. Mensagens simplistas não levam em consideração à complexidade dos temas tratados. Com elipses mal realizadas, passagens inteiras parecem desvinculadas do restante da trama, sem que alcancem o efeito pretendido. Cenas como a que Lúcia voa dentro de um guarda-chuva carregam a aparência de certa gratuidade. Não emocionam. Nada acrescentam à história que está sendo contada. Querem apenas sublinhar, sem efeito, um lirismo que inexiste.

*Maria Eugênia de Menezes é jornalista e crítica teatral, atuou como repórter e crítica de teatro do Caderno 2, do jornal O Estado de S.Paulo, com experiência na cobertura de festivais no Brasil e no exterior. Também escreveu na Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas como o Circuito Cultural Paulista e membro do júri de prêmios como Prêmio Bravo! de Cultura, APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Prêmio Governador do Estado de S.Paulo.

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Crianças e suas impressões/expressões diante de um espetáculo https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/criancas-e-suas-impressoesexpressoes-diante-de-um-espetaculo-revisado/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/criancas-e-suas-impressoesexpressoes-diante-de-um-espetaculo-revisado/#respond Fri, 16 Sep 2016 14:52:31 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2386 Por Julia Parpulov/Sesc Vila Mariana

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Na fila para entrar na “caixa” de seres imaginários, crianças e adultos. Mas tive sorte de entrar na sessão com os pequenos que, para que suas cabeças entrassem no buraco, tiveram que subir em caixas, deixando-lhes mais altos e autônomos de suas vidas por pelo menos dez minutos.

No escuro, um feixe de luz é direcionado à cabeça de um boneco-homem, que se abre, deixando sair uma marionete. Neste momento, todas as cacholas também se abrem e deixam-se levar pela imaginação. Os comentários infantis integram-se ao espetáculo, completando a experiência daqueles ali presentes.
Olhos de um gato brilham, e ao ser inteiro iluminado, elas gritam. “Uma aranha gigante!”. “Não, é um gato!”. “É um gato-aranha gigante!”. Criança é criativa.

Segue a narrativa e quando já estavam um pouco mais acostumados com o felino estranho que voava sobre suas cabeças, o bicho começa a “escalar” a parede, fazendo um vai e vem com o corpo que, supostamente, só em nossas cabeças adultas lembravam movimentos sexuais. O menino imediatamente solta: “Êêêêta viado!”. Ele não pensou, apenas expeliu. Criança não filtra.

Eis que nosso personagem peludo se envolve numa briga com os outros seres imaginários, o tubarão-lata e a girafa-elefante, na qual o gato quer pegar o ser aquático, e a menina diz: “Vai, salva o peixe!”. Mesmo sem saber o motivo, a meninada estava do lado do mais fraco. Criança é torcedora.

O homenzinho marionete, que saiu da cabeça do outro lá no início, aparece pendurado ao corpo de outro monstrinho, indefinível. “O boneco tá morto!”, lamentou outra menina, já que o corpo do homem parecia meio “sem vida” ao estar naquela situação. Criança é esperta.

Chegamos ao fim do espetáculo, as palmas rolam, os atores, antes cobertos de tecido preto, agora mostram seus rostos e aleatoriamente descem plaquinhas improvisadas: MER (ingenuamente pensei que fossem agradecer em francês, com um merci), FO, TE, RA. As crianças leem em voz alta conforme descem os sulfites: “MER-FO-TE-RA” e logo concluem “FORA TEMER”. As palmas continuam e uma garota, talvez a mais velha da turma, comenta “Eu achei incrível essa peça, mas o final foi o melhor!”. Criança pensa.

Se você quiser trazer as crianças ou só acompanhar um espetáculo para vivenciar o que eu vivenciei, além do Teatro dos Seres Imaginários, tem também o teatro de bonecos Som das Cores, da companhia Catibrum Teatro de Bonecos (MG), neste sábado e domingo, às 17h30.

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[Crítica] Mecânica teatral que produz encantamento https://mirada.sescsp.org.br/2016/teatro/mecanica-teatral-que-produz-encantamento/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/teatro/mecanica-teatral-que-produz-encantamento/#respond Sun, 11 Sep 2016 21:41:56 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1746 29019415146_7f11b4ccba_h-1Por Daniel Schenker

A princípio, a revelação da mecânica teatral quebraria com a possibilidade dos espectadores se encantarem com o trabalho a que assistem, na medida em que haveria um rompimento da ilusão por meio da exposição da produção dos efeitos e não tão-somente uma apresentação dos resultados alcançados. Não é, porém, o que acontece em Simón, el Topo, montagem do grupo peruano Teatro La Plaza dirigida por Alejandro Clavier Botetano.

Há alguns exemplos da evidenciação dos procedimentos ao longo da sessão. Logo no início, um ator manipula e faz a voz do boneco Simón, um menino de dez anos. Os demais explicam as circunstâncias ao público. Em dado momento, avisam: “Simón vai contar a sua história”. A partir daí, a divisão inicialmente estabelecida entre os atores termina. A música (de Magali Luque) é acionada e a iluminação (de Jesus Reyees) acentua o azul que emoldura o espaço (direção de arte de Vladimir Sánchez). A confecção dos bonecos (de Simón e dos personagens coadjuvantes) evidencia a aposta, ainda que discreta, em cores marcantes (amarelo, azul, laranja, rosa, roxo, vermelho). Mais adiante, uma atriz joga papel picado prateado, simbolizando a chuva. Um ventilador é acionado, espalhando os pedacinhos de papel.

A presença dos atores (Emanuel Soriano, Anai Padilla, Luccia Mendéz, e Dusan Fung) é bem visível, como todo o resto. Ao invés de ocultarem suas identidades, os atores aparecem em macacões azuis manipulando os bonecos, fazendo as vozes, movendo os elementos cenográficos. Os atores falam uma língua ininteligível e, mesmo quando explicam as situações da história, não há legenda para guiar os espectadores, ao contrário dos demais espetáculos estrangeiros que integram a seleção do Mirada. De fato, não é necessário. Os integrantes do grupo parecem lembrar que a interação com a plateia não se dá obrigatoriamente a partir de uma língua comum. Vale questionar apenas o registro vocal adotado pelo elenco, que soa vinculado a um certo estereótipo que acompanha o teatro infantil.

Ao deixar a construção da cena à mostra, o diretor realça a limitação espacial do teatro, vista, contudo, como uma riqueza e não como uma desvantagem em relação a outras manifestações artísticas. A impossibilidade de concretizar todas as imagens diante do público faz com que a parceria com o público seja acionada. Cabe a cada espectador completar o que vê a partir das sugestões lançadas pelo trabalho em questão.

Na contramão do investimento em aparatos tecnológicos, Simón, el Topo sinaliza a defesa de um teatro artesanal. Uma grande mesa serve de palco às peripécias do personagem-título e as cenas ambientadas embaixo dela trazem à tona as brincadeiras de infância. Há relativamente poucos objetos cenográficos, dispostos em estantes e ao fundo da cena. É perceptível uma conexão entre o caráter artesanal e o universo lúdico descortinado ao longo de uma história que remete à infância de décadas passadas, simbolizada, em especial, pelo contato com a natureza. As nuvens, a chuva, a lua, a borboleta, as flores tomam conta da cena. O rádio também evoca um passado afetivo.

Adaptação do conto da escritora espanhola Carmen de Manuel, realizada pelo próprio Clavier, Simón, el Topo destaca, a partir de certo instante, o elo que se estabelece entre o protagonista e outro menino. A sintonia entre ambos é sintetizada numa frase: “Simón havia conhecido alguém que sente como ele”.

*Daniel Schenker Bacharel em Comunicação Social pela Faculdade da Cidade. É doutor em artes cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UniRio. Trabalha como colaborador dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo e da revista Preview. Escreve para os sites Teatrojornal e Críticos  e para o blog danielschenker.wordpress.com. É membro do júri dos prêmios da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), Cesgranrio, Questão de Crítica e Reverência.

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10 coisas que você pode esperar do Mirada 2016 https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-coisas-que-voce-pode-esperar-do-mirada-2016/ Thu, 08 Sep 2016 22:46:44 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1353 Por Patrícia Diguê

1)  Grandes estreias nacionais: duas peças vão abrir suas temporadas durante o festival, sendo uma “A comédia latino-americana” (Cia. Ultralíricos), com direção de Felipe Hirsch, e a outra “Leite derramado” (foto), adaptação cênica do premiado romance de Chico Buarque.

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2)  Oito peças da Espanha: O país é o homenageado desta edição, e, por isso, o Mirada vai receber montagens direto de Madri, Catalunha, País Basco e Barcelona. Olé!

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3) Um sabonete de 1,3 tonelada: O cenário da obra “4”, do diretor Rodrigo Garcia, conta com o pequeno grande adereço, que teve que ser trazido de navio da França.

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4) Passear por dentro de um aparelho digestivo: O palco para a peça mexicana “Psico/embutidos, açougue cênico” simula as nossas entranhas em andaimes e escorregadores, e a instalação ficará aberta ao público durante todo o festival.

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5) Viver como um refugiado: Em uma das peças ao ar livre, o expectador participará como figurante de uma fuga. É em “Fugit”, da Catalunha, que ocorrerá nas ruas do Centro Histórico.

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6) Participar do Mirada sem gastar um tostão: Alguns espetáculos ao ar livre, atividades na Área de Convivência do Sesc, performances em diversos pontos da cidade, instalações artísticas, apresentação de vídeos, leituras comentadas, discussões, formativas… não faltam opções gratuitas para mergulhar no mundo do teatro.

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7) Shows: Quatro bandas (duas brasileiras, uma cubana e outra argentina) vão animar os finais de noite no Sesc durante o evento. Tem cumbia, pop experimental, hip hop e música caribenha eletrônica.

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8) Espetáculos ao ar livre: Emissário Submarino (foto), Fonte do Sapo, Bacia do Mercado, Praça Barão do Rio Branco (SV) e Parque Tupiniquins (Bertioga) vão abrigar peças também. É para assistir as peças e conhecer a cidade toda.

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9) Bonecos: Dois imperdíveis espetáculos infantis com bonecos estão na programação (“Simon, a Topeira” e “Som das Cores”). Assim ninguém da família fica de fora.

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10) Peças para quem tem tempo e quem não tem: cada sessão do espetáculo “Teatro dos Seres Imaginários” dura apenas 10 minutos. Enquanto isso, a montagem espanhola “Que haré yo con esta espada?” requer um espectador dedicado, porque leva 4 horas e meia.

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