jô bilac – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Crítica] Rebú, uma proposta reiterativa https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-rebu-uma-proposta-reiterativa/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-rebu-uma-proposta-reiterativa/#respond Sat, 17 Sep 2016 22:06:47 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2719 Por Daniel Schenker

Jô Bilac brinca com os códigos do melodrama em Rebú, texto encenado pela Companhia Teatro Independente, conduzida por Viniciús Arneiro, numa época de afinada parceria artística entre o dramaturgo e o grupo (que, antes, montou outro texto de Bilac, Cachorro!). Agora, a peça ganha nova montagem, a cargo da companhia Teatro del Embuste, da Colômbia.

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A proposta de humor é lançada pelo autor já na escolha de uma ambientação não só distante como improvável: o inverno norueguês de 1894. O embate rasgado entre duas mulheres, Vladín e Bianca, conduz a trama. A primeira é irmã de Torvaldo, por sua vez, casado com Bianca. Antes mesmo de chegar à casa do irmão, Vladín impõe uma série de exigências e, quando finalmente aparece, traz uma companhia inusitada – Nataniel, um cabrito cego.

Não é fácil encontrar o tom exato para o texto. Se por um lado levar o melodrama a sério pode tão-somente realçar o anacronismo do gênero e encaminhar a construção dos personagens para um psicologismo insustentável, por outro aderir simplesmente ao escracho tende a fazer com que as atuações se reduzam a meras caricaturas. Há um equilíbrio delicado, em termos de registro, a ser alcançado.

Responsável pela direção e adaptação do texto, Matías Maldonado demonstra dificuldade em encontrar a justa medida, oscilando entre extremos – entre uma certa contenção que empalidece a encenação e um exagero que encaminha o trabalho rumo ao óbvio. As caracterizações dos personagens não se mostram eficientes para provocar o riso, a exemplo da peruca excessivamente postiça de Torvaldo. A solução encontrada para Nataniel é pouco inspirada, anulando o eventual estranhamento que o personagem poderia gerar.

O diretor também propõe a revelação das convenções teatrais, seja ao interromper, com frequência, a ação e acender a luz de plateia para mostrar os atores discutindo, seja ao expor o desmonte da cena (por meio da queda das cortinas que delimitam a área de apresentação, da explicitação dos efeitos e da aparição de assistentes encarregados de operar ocultamente a maquinária do palco). A decisão de Maldonado de frisar que o público está diante da “mentira” do teatro, realçada pela mensagem final (“Tudo é teatro. Tudo é falso”), não se justifica porque o texto de Bilac, repleto dos exageros próprios do melodrama, já evidencia o artifício. A proposta do diretor alcançaria melhor resultado como constraste proposital a uma dramaturgia realista que procurasse estabelecer uma relação ilusionista com a plateia.

A mencionada indefinição na dosagem do humor e o trânsito inconsistente entre diferentes planos (a representação da história de Bilac e a interrupção) prejudica o trabalho dos atores (Hernán Cabiativa, Natalia Helo, Javiera Valenzuela e Javier Gardeazábal). O espetáculo também sofre com outros problemas, como a falta de ritmo e a ausência de elaboração mais satisfatória em elementos como a cenografia e as inserções musicais. São criações que não formam uma espessura com o texto e, portanto, não estimulam a imaginação do espectador. Rebú é um espetáculo que carece de uma concepção mais amadurecida.

Daniel Schenker é Bacharel em Comunicação Social pela Faculdade da Cidade. É doutor em artes cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UniRio. Trabalha como colaborador dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo e da revista Preview. Escreve para os sites Teatrojornal (teatrojornal.com.br) e Críticos (criticos.com.br) e para o blog danielschenker.wordpress.com. É membro do júri dos prêmios da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), Cesgranrio, Questão de Crítica e Reverência.

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