espetáculos – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Webdoc] Monotonia de Aproximação e Fuga para Sete Corpos – Grupo Cena 11 Cia. de Dança https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-monotonia-de-aproximacao-e-fuga-para-sete-corpos-grupo-cena-11-cia-de-danca/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-monotonia-de-aproximacao-e-fuga-para-sete-corpos-grupo-cena-11-cia-de-danca/#respond Tue, 11 Oct 2016 15:07:06 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2987

“Todas as questões culturais são invenções nossas sobre o corpo, sobre percepções, sobre ideias de corpo.”

Neste quarto episódio da série de webdocumentários criados para o Mirada 2016 traz a proposta do Grupo Cena 11 Cia. de Dança. Um ato de emergência daquilo que surge das relações no tempo, com o poder de revelar novos caminhos e universos possíveis, compartilhados com o público que ocupa uma arena no palco, ou seja, no mesmo plano dos artistas.

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[Webdoc] Cuando Todos Pensaban que Habíamos Desaparecido – Vaca 35 Teatro en Grupo https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-cuando-todos-pensaban-que-habiamos-desaparecido-vaca-35-teatro-en-grupo/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-cuando-todos-pensaban-que-habiamos-desaparecido-vaca-35-teatro-en-grupo/#respond Fri, 07 Oct 2016 21:15:17 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2979

“Acredito que é o reencontro, o momento de abrir a boca e dizer o que não se pôde dizer a tempo.”

Em “Cuando todos pensaban que habíamos desaparecido”, apresentado no MIRADA 2016, os mexicanos do Vaca 35 Teatro en Grupo trouxeram ao Brasil um teatro documental baseado na comida e na festa dos mortos. Ao contrário do tabu ocidental, na cultura mexicana o Dia de Finados é celebrado com as casas enfeitadas e os familiares e amigos preparando os pratos favoritos daqueles que não se encontram mais fisicamente entre eles.

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[Webdoc] O Avesso do Claustro – Cia do Tijolo https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-o-avesso-do-claustro-cia-do-tijolo/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-o-avesso-do-claustro-cia-do-tijolo/#respond Thu, 29 Sep 2016 21:52:56 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2947

Hoje é o dia que eu vou sonhar melhor!“, disse um espectador ao assistir ‘O Avesso do Claustro’.

Para eternizar o Mirada 2016, os olhares, cores, sons e sonhos do Festival são os protagonistas da série que estreamos hoje. No primeiro deles, a Cia. do Tijolo!

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[Crítica] Arte hipnótica de contar filmes https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-arte-hipnotica-de-contar-filmes/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-arte-hipnotica-de-contar-filmes/#respond Tue, 20 Sep 2016 21:56:30 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2934 Por Ivana Moura, do Blog Satisfeita, Yolanda?

lacontadora

Como conciliar artes diametralmente opostas como teatro e cinema na cena ao vivo de um espetáculo? A realização de La Contadora de Películas exigiu da companhia Teatrocinema uma investigação que ultrapassa questões técnicas do arcabouço do filme em perfeita sincronia com a atuação do elenco. É surpreendente o resultado da encenação do grupo chileno, que une a linguagem fragmentada do cinema (com seus recortes de som e imagem, e a montagem) e o aqui agora da cena teatral.

Essa proposta diferente, de visual impactante, foi apresentada no MIRADA, Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, em São Paulo. Na peça, a protagonista María Margarita reconta sua vida de esplendor e decadência, mesclando a realidade atual com os filmes de ficção que viu durante a infância, no deserto em que morava com a família, no norte do Chile.

La Contadora de Películas dirige essa viagem no tempo e no espaço com a magia gravada do cinema e a potência visceral do tempo real do teatro. Com a sua arte multimídia, a peça aposta na capacidade de fazer figuras aparecerem e desaparecerem, de trocar cenários visuais, em dispositivos precisos para encantar os olhos, os ouvidos e outros sentidos.
Com apenas cinco atores no palco, os jogos teatrais, a fantasia e a imaginação são exploradas em sincronia perfeita com os artifícios do cinema. A técnica é bem-acabada e os atores executam com habilidade suas funções.
O enredo segue um caminho melodramático, com direito a dicção forçada, imitação e paródia das antigas dublagens, repetição borrada (com efeito de erro de filmagem) em cenas que provocam riso imediato. A artificialidade farsesca esvazia o pathos do teatro e sua efemeridade urgente, mas recorre ao instante eternizado do cinema.
A obra cênica é baseada no romance de Hernán Rivera Letelier, situada no meio do século passado. A protagonista conduz o público nesse passeio pela memória da família, incluindo as mudanças na vida cotidiana depois que o pai ficou paralítico, vítima de um acidente na mina. Preso a uma cadeira de rodas, ele é abandonado pela mulher, decidida a correr atrás de seus sonhos de vedete.
Na recomposição desses fios, a personagem central esbanja capacidade de criar imagens com palavras, abrindo horizontes para libertar criaturas atreladas à aridez do cotidiano e do deserto. A filha de um perfurador na extração de nitratos em Atacama é a escolhida pelo pai, entre os outros filhos, para interpretar os filmes que vê no cinema. Ao focar no drama desse clã, a companhia teatral também investe na história do Chile, dos seus lugares esquecidos.
A direção geral e música original são assinadas por Juan Carlos Zagal. A direção de arte é de Vittorio Meschi. Com performances de Laura Pizarro, Sofía Zagal, Daniel Gallo, Christian Aguilera e Fernando Oviedo. A companhia também tem no repertório, além de La contadora de películas, Sin sangre, El hombre que le daba de beber a las mariposas e História de amor.

Peripécias de menina
María Margarita recupera e reconstrói a memória, em tranças delicadas, carinhosas, mas também carrega a fortaleza nas cores desse passado. A montagem começa com a poeira do deserto e percorre um jogo visual labiríntico, com diferentes perspectivas e planos de quase 360º que enredam os personagens.
É uma produção de risco, que traça fusões, perseguindo uma linguagem própria, com sua pesquisa que combina atuação dos atores e o mundo virtual. O elenco se move entre duas telas transparentes e entra nas projeções de vários gêneros: de gangsteres, de ação, de ficção científica, romances, protagonizadas por Marilyn Monroe, Gary Cooper ou Charlton Heston e as fitas mexicanas com muitas canções.
Depois de muitas peripécias, a protagonista se vê sozinha no deserto esquecido; sua arte ficou para trás com a chegada de um novo entretenimento para o lugarejo: a TV. As pessoas partiram ou morreram e María Margarita continua a criar, sonhar, enxergar outras dimensões do seu velho povoado.


*Ivana Moura é jornalista, crítica cultural, pesquisadora de teatro, atriz e dramaturga. Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde 2011 edita e produz conteúdo para o blog Satisfeita, Yolanda?, do qual é uma das idealizadoras. Participou de coberturas de festivais e mostras como a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo – MITsp (2014, 2015 e 2016), a Mostra Latino Americana de Teatro de Grupo (2015), Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015) e Bienal Internacional de Teatro da USP (2015). Integra a DocumentaCena – Plataforma de Crítica e a Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT-IACT, filiada à Unesco.

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A mirada de Narciso https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/a-mirada-de-narciso/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/a-mirada-de-narciso/#respond Mon, 19 Sep 2016 15:22:22 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2782 Por André Venancio/SescSP

narciso

O que é a realidade senão uma história que alguém contou? Seriam as verdades, mentiras muito bem contadas? Qual é a sua verdade?

Realidade e ficção são as matérias-primas usadas pelo uruguaio Gabriel Calderón na apresentação de La Ira de Narciso. Carismático e com evidente timidez, Gabriel recebeu o público que adentrava a sala do C.A.I.S Vila Mathias cantando clássicos da música uruguaia. Pensado para um momento de descontração, em quanto os mais atrasados tinham algum tempo para chegar, a estratégia não dá certo: evidentemente, o momento karaokê só funcionaria se a plateia conhecesse alguma canção. Gabriel, então, arrisca seu português para cantar “Pense em Mim”. O público ajuda.

Antes de iniciar o que ele chama de relato, Calderón explica que não é ator. Diretor e dramaturgo, ele está ali para contar uma história. Uma enorme tela atrás dele, faz às vezes de Power Point e também oferece outros recursos multimídia. É por ela que conseguimos conversar via Skype com a mãe do protagonista. Também por ela conhecemos a cidade de Liubliana, capital da Eslovênia, por meio  dos recursos do Google Maps. É por ela que somos cúmplices de Gabriel ao usar um aplicativo de paquera com geolocalização, e juntos (nós e ele) conhecemos o Igor. Ou o torço do Igor, sem camisa, exibido com orgulho no perfil online.

A questão é que não sabemos se é mesmo Gabriel que está diante de nós. Apesar de ser o que consta nos créditos do espetáculo, isso pode não ser verdade. O jovem de uns 35 anos que diz ser Gabriel Calderón explica que, em alguns momentos da história, se tornará Sergio Blanco, o criador do espetáculo e de quem recebera o texto de presente, criado em sua homenagem. Dúvidas.

Qualquer coisa que se diga a partir daqui sobre o enredo seria leviano, porque pode não ser verdade. O fato é que, por cerca de duas horas – que passam rápidas como minutos – Gabriel relata o caso vivido por Sergio durante sua estada na Eslovênia onde apresentou uma conferência sobre o mito de Narciso. Um estranho caso de assassinato, uma atração sexual incontrolável e o excesso de trabalho permeiam a narrativa, sempre com o bom humor do palestrante que não é ator.

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Nos trechos em que conta detalhes sobre a conferência, ao falar sobre o olhar de Narciso, o discurso de Gabriel parece falar sobre o Festival que estamos vivenciando em Santos: segundo ele, la mirada do Narciso é uma metáfora para o olhar de um artista. Uma Mirada que olha para si em busca do outro. Que transforma e imortaliza o que vê. Apesar do texto não ter esse propósito, serviu perfeitamente como homenagem a tudo que vivenciamos, transformamos e imortalizamos dentro de nós nesses últimos dez dias.

Mas, se estamos falando em autoficção, será que foi tudo verdade?

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Por dentro d’Acapela https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/por-dentro-dacapella/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/por-dentro-dacapella/#respond Sun, 18 Sep 2016 14:38:03 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2767 Por André Venancio / SescSP

acapellaCena de Acapela, espetáculo chileno que leva a respiração a limites inimagináveis

Preciso parar de fumar. Dentro daquele casulo excessivamente branco, pousado no Ginásio do Sesc Santos, eu olhava ao redor, e a maior parte das pessoas tinha uma expressão de tranquilidade no olhar. Já eu procurava o ar que parecia não conseguir entrar nos pulmões, apesar do meu diafragma estar se contraindo em seu máximo. Preciso parar.

Quando chegamos ao Ginásio, às 18h, fomos orientados pela produtora chilena – esforçando-se muito para se comunicar em português – a tirar os calçados, as meias e as bolsas. Tudo ficou acomodado metodicamente nas arquibancadas, fazendo aquele espaço ganhar um ar meio mórbido, cheio de pares de sapatos enfileirados como covas dispostas lado a lado. No centro, um enorme casulo branco se impunha soberano. Nós, descalços, íamos em fila até uma pequena fenda aberta nele. Um a um, adentramos o espaço.

acapella2A bolha onde o espetáculo acontece, no ginásio do Sesc Santos

Sentados em círculo, quase encostados nas paredes internas feitas com algum material delicado como uma seda, o público se entreolhava. Ansiedade, curiosidade e um pouco de medo dominava alguns dos olhares. Um zíper fecha delicadamente a fenda por onde entramos. Vai começar “Acapela”.

“Preciso parar de fumar.” Inspira

“Acho que só eu estou sentindo a respiração desconfortável”. Expira

“Quanto tempo vai durar isso mesmo? Setenta minutos?” Inspira

“Quanto tempo será que já passou?” Expira

“E se alguém passar mal?” Inspira

“Se eu pedir pra abrir essa maldita fenda agora, vou estragar tudo, não vou?” Expira.

O isolamento acústico daquela bolha-casulo é impressionante, mas pensamentos não davam pra ouvir, eu acho. Se bem que, por mais de uma vez, notei que algumas pessoas – mulheres, sempre! – me olhavam de forma acalentadora, como se dissessem que está tudo bem e me acariciassem no rosto.

Ao redor da bolha, os seis artistas estavam de pé, de costas para o público, vestidos totalmente de branco. Os olhos fechados, numa espécie de transe, totalmente imóveis. Percebo no que está mais próximo a mim um movimento muito sutil na ponta dos dedos da mão esquerda. Apesar de me parecer que a carne tremia involuntariamente, havia um ritmo ali. Nada era involuntário.

Preciso parar de fumar. Inspira. Olho as pessoas à minha volta, e algumas se alongam. Começo a notar traços de desconforto em mais alguém, além de mim. Expira.

Os bailarinos começam a se mover para o centro da roda formada pelo público, em movimentos que me lembram insetos, com um alongamento excessivo das extremidades do corpo. O som da respiração deles é a única coisa que se ouve, e a respiração conduz a ação de cada um, ainda em transe, ainda com os olhos fechados.

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O que parecia um exercício de respiração rotineiro, com movimentos leves do corpo, ganha ares de tensão. A iluminação da bolha vai variando lentamente, do branco ao amarelo, que pareceu esquentar ainda mais o espaço. Os movimentos daquela dança vão, a cada segundo, exigindo mais fôlego dos performers. Ao longo do espetáculo, é com a respiração que cada um deles demonstra força, raiva, alegria e tesão. A intensidade com que eles puxam o ar para dentro, ou expulsam-no para fora do próprio corpo, durante toda a apresentação, é sempre brutal. Expira.

“Quanto tempo vai durar isso mesmo? Setenta minutos?” Inspira

“Quanto tempo será que já passou?” Expira

“E se alguém passar mal?” Inspira

Os movimentos da dança, a intensidade da respiração, as reações do público, o branco irritante daquela bolha. Tudo em “Acapella” é intenso. Não há um som sequer que não seja causado pelo barulho da respiração dos performers, porém é como se ouvíssemos gritos, risadas, gemidos, sussurros.

Quando o suor já exibia a pele molhada por baixo dos figurinos brancos dos performers, que estavam em um movimento quase sexual onde a única penetração envolvida era o ar, as paredes internas da bolha começam a se mover, como se recebessem – pelo lado de fora – uma rajada de vento.

Inspira.

A fenda se abre e adentra ao espaço um ventilador, que naquele momento poderia ser comparado a uma turbina de um avião de pequeno porte, sem qualquer exagero. Os performers parecem, então, consumir o ar gerado pelo equipamento, como as mariposas parecem consumir a luz das lâmpadas ao anoitecer. Tal como quem tem sede e encontra um lago, aquelas seis pessoas pareciam beber o vento, colocando cada gota de ar para dentro.

Expira.

Após saciarem a sede, eles abandonam o casulo que, com a fenda aberta, começa a cair suavemente sobre o público. É hora de sair.

Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira.

Preciso de um cigarro.

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As palavras de Chico encenando o Brasil https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/as-palavras-de-chico-encenando-o-brasil/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/as-palavras-de-chico-encenando-o-brasil/#respond Sat, 17 Sep 2016 18:10:40 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2678 Por André Venancio/Sesc-SP

leitederramado_corCena de Leite Derramado, primeiro livro de Chico Buarque a ser adaptado ao teatro

Quando o diretor Roberto Alvim manifestou seu interesse em adaptar Leite Derramado aos palcos, o caráter de monólogo do romance causou alguma desconfiança em Chico Buarque, autor do livro lançado em 2009. No entanto, superado os receios iniciais após a leitura do primeiro esboço, o compositor autorizou a adaptação que estreou nesta quinta (15/9) durante o Mirada.

Com evidente vocação política, toda a obra de Chico Buarque – na música, na literatura e na dramaturgia – sempre discute as questões sociais brasileiras. Se no livro “Leite Derramado” fica clara a relação do protagonista com a decadência social e econômica do país, são nos textos teatrais criados por ele para os palcos que surgem outros olhares para o Brasil.

Em 1967, durante a Ditadura Militar, Chico fez sua estreia na dramaturgia com Roda Viva, espetáculo dirigido por Zé Celso e protagonizado por Marília Pera. Por meio do personagem Benedito Silva, a sociedade de consumo e a manipulação midiática eram veementemente denunciadas.

Com Ruy Guerra, Chico escreveu Calabar: o elogio da traição, em 1973. Em uma grande metáfora, o texto narra a traição cometida por Domingos Calabar à coroa portuguesa e como essa ação foi interpretada de duas maneiras extremas ao longo da história. Se a princípio Calabar era visto como um traidor ganancioso, com o tempo foi tido como herói do povo brasileiro. Mais uma vez, e sempre atual, Chico denuncia a realidade distorcida dos fatos promovida pelos veículos de comunicação.

As dificuldades vividas pelos moradores das favelas, cortiços e periferias ficam explícitos em A Gota d’Água, escrita em 1975 em parceria com Paulo Pontes. O texto é uma adaptação do mito da Medeia, aqui usada como pano de fundo para expor o contraste social e econômico brasileiro.

Leite Derramado foi o primeiro livro de Chico a ir aos palcos, apesar de sua obra musical servir de inspiração para diversas montagens pelo país. Até quando ausente, o compositor se faz presente. Em Avesso do Claustro, por exemplo – que também integrou a programação desta edição do Festival – uma das canções executadas é fruto de um poema de Dom Helder Câmara escrito na intenção de ser musicado por Chico, que declinou o convite por nunca ter musicado um autor já falecido. A própria Cia do Tijolo, então, criou a melodia para as palavras de Dom Helder.

 

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O que ver na reta final do Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/o-que-ver-na-reta-final-do-mirada/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/o-que-ver-na-reta-final-do-mirada/#respond Fri, 16 Sep 2016 14:41:34 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2276 Por Renata Dantas/Sesc Belenzinho

Dínamo por Cia Timbre 4

Dínamo (ARG)
Três mulheres compartilhando um trailer perdido em alguma estrada qualquer já seria um motivo curioso para você vir. Mas para além disso, temas como solidão e estranhamento estão na peça na perspectiva de contar que isso pode gerar novas energias à vida.

Viúvas com Viúvas - Tribo de Atuadores òi Nóis Aqui Traveiz (RS)

Viúvas – Performance sobre Ausência (BRA)
A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz traz a temática do feminismo em vários de seus espetáculos. Em ‘Viúvas’ não é diferente. O protagonismo feminino está presente nas mulheres que lutam pelo direito de saber onde estão os corpos dos homens que desapareceram ou foram mortos pela ditadura.

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Rebú (COL)
A sua rara oportunidade para conferir como um dramaturgo brasileiro é lido por artistas de outro país. É neste fim de semana que o coletivo Del Embuste da Colômbia traz a tragicomédia do carioca Jô Bilac, montada em 2009.

cubanbe

Cuban Beats All Stars (CUB)
Pra terminar o festival no melhor estilo dancinha/comemoração/música latina, nada melhor que o som agitado dos cubanos que misturam a música tradicional cubana com música eletrônica.

La contadora de Películas

La Contadora de Películas (CHI)
Para se surpreender em belas imagens nessa mistura teatro/cinema, o espetáculo é uma boa pedida para encerrar a noite.

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[Crítica] Forças contrárias https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/forcas-contrarias/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/forcas-contrarias/#respond Thu, 15 Sep 2016 18:48:44 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2250 Por Daniel Schenker

espada_luca_del_pia_1

No início de O que eu farei com esta espada? (Aproximação à lei e ao problema da beleza), espetáculo de Angélica Liddell, o público se depara com a projeção de um texto com a afirmação de que a França não dispõe de um movimento equivalente ao teatro elisabetano e ao romantismo alemão. Há, nessa frase, a exclusão do classicismo francês, proposital dentro de um trabalho que sugere, ao longo de cerca de quatro horas e meia de duração, uma oposição ao racionalismo, ao controle, à repressão.

Movimento do século XVII, o classicismo defendeu o resgate das regras que nortearam a tragédia grega como balizas fundamentais para a criação do artista. De acordo com os classicistas, o artista deveria obedecer normas previamente estipuladas, diferentemente do que havia feito William Shakespeare, o principal autor do período elisabetano, que propôs uma nova forma de escrita a partir da transgressão a leis como as unidades de tempo, lugar e ação e a divisão rígida entre tragédia e comédia. Seus textos não têm a contenção normalmente encontrada nas tragédias gregas (geralmente há muitos personagens e tramas paralelas e as histórias se desenrolam em espaços diversos) e apontam para uma fusão de gêneros.

Movimento nacionalista que surgiu na Alemanha do século XVIII, o pré-romantismo, norteado pela plataforma Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), foi marcado, ao contrário do classicismo, pela defesa da livre expressão da subjetividade do artista, pela louvação de sua genialidade. Segundo os pré-românticos, o artista deveria criar sem a obrigação de seguir à risca um modelo pré-estabelecido. Não por acaso, o movimento cultuou a dramaturgia de Shakespeare. O romantismo, mencionado na cartela inicial da encenação de Liddell, manteve as características, mas se firmou como um movimento mais urbano, menos dominado pelos arroubos da juventude.

Há citações a tragédias espalhadas pelo espetáculo de Liddell. São menções referentes tanto aos principais autores gregos – Ésquilo (Oréstia), Sófocles (Édipo Rei) e Eurípedes (Medeia) – quanto a Shakespeare – Macbeth. No que se refere às obras gregas, talvez a encenadora evoque-as com o intuito de destacar o contraste entre a forma justa, medida, controlada e os personagens que extravasam ao não conseguirem conter dentro de si impulsos proibidos. Há nessas tragédias uma oposição entre a lei coletiva e a determinação individual. O herói trágico não se curva diante do instituído. É como se obedecesse tão-somente à própria lei ou como se simplesmente não conseguisse agir de outra maneira dada a força com que determinada situação o atravessa

O que eu farei com esta espada? (Aproximação à lei e ao problema da beleza) se revela estruturado sob a tensão entre duas forças: de um lado, o controle, a precisão, a construção exata, o andamento suave, sem sobressaltos, os movimentos filigranados e calculados próprios do teatro oriental; do outro, os rompantes de agonia e êxtase de corpos ardentes, selvagens, animalizados, que imprimem energia orgiástica à cena, realçada por atuações ocasionalmente expandidas, derramadas, excessivas. O jogo de oposições é reforçado pelas imagens dos corpos, frequentemente desnudos, às vezes próximos de um modelo convencionado de beleza, às vezes distantes da forma idealizada e, nesse sentido, mais humanizados. Contudo, os dois polos não permanecem totalmente separados como se não se misturassem.

Liddell faz ainda menções contundentes ao corpo ferido, deformado, mutilado por atos de primitivo sadismo. Os limites do corpo são testados, a exemplo da cena que encerra o segundo ato, na qual um ator executa até a exaustão movimentos repetidos. Liddell deseja operar, dissecar o corpo, vê-lo por dentro. Por meio desse espetáculo, a encenadora realiza uma espécie de autoexame e expõe diante do público o lado obscuro que os indivíduos costumam esconder até de si mesmos. Evoca a realidade por meio de assassinatos – praticados por Issei Sagawa (o momento da descrição do ato de canibalismo praticado por ele, realizado pelo ator por meio de uma fala acelerada e dotada de musicalidade, é impactante), Ted Bundy e Jeffrey Dahmer – e revela estupor não pelos fatos em si, mas pelo modo amoral como se relaciona com os acontecimentos. A encenadora critica a postura politicamente correta, mas se penitencia por, tal qual uma personagem trágica, não conseguir sentir de forma mais equilibrada.

À medida que o espetáculo avança, Liddell despe o palco e dá cada vez mais vazão a um discurso transmitido em tom de pregação, o que gera desgaste, em especial na primeira metade do terceiro ato. Mas, apesar de bastante autocentrado (Liddell acumula texto, direção, atuação, cenografia e figurinos), O que eu farei com esta espada? (Aproximação à lei e ao problema da beleza) proporciona uma incômoda reflexão sobre ética.


Daniel Schenker é bacharel em Comunicação Social pela Faculdade da Cidade. É doutor em artes cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UniRio. Trabalha como colaborador dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo e da revista Preview. Escreve para os sites Teatrojornal (teatrojornal.com.br)Críticos (criticos.com.br) e para o blog danielschenker.wordpress.com. É membro do júri dos prêmios da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), Cesgranrio, Questão de Crítica e Reverência.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.

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10 espetáculos que estão por vir no Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/#respond Tue, 13 Sep 2016 18:32:32 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1873 Por Patrícia Diguê

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1) Leite derramado (Brasil)

A estreia nacional da peça do Club Noir, de São Paulo, será nesta quinta-feira (15), às 21h, no Teatro do Sesc. Haverá mais uma sessão na sexta-feira (16), no mesmo horário. É uma adaptação cênica do premiado romance homônimo de Chico Buarque, de 2009. O espetáculo concebe uma visão panorâmica de séculos da história do país, apontando a necessidade urgente de reconstruirmos procedimentos éticos em direção a novas possibilidades de ação política. Em seu estertor delirante, abandonado numa maca em corredor de hospital público, o protagonista Eulálio Assumpção, de 100 anos, é atravessado por um pandemônio no qual ruem as fronteiras que separam mundo interno e mundo externo, passado e presente, memória e imaginação, religião e poder, indivíduo e sociedade, política e mitologia.

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2) Ãrrã (Brasil)

O Empório de Teatro Sortido (SP) apresenta duas sessões da peça de Vinicius Calderoni, na quarta-feira, às 19h e às 21h, no Ginásio do Sesc. Toda interjeição ou onomatopeia, como a do título, têm a ver com o brincar com a língua. É por aí que caminha a peça, num jogo de vozes de dois atores, em que a escrita/fala soa como se não fosse da jurisdição do que é um texto dramático, num moto-contínuo de diálogos e narrações feéricos. Sob figurino-base preto e espaço cênico dominantemente vazio, triunfa a dupla de comediantes (na acepção mais nobre) Luciana Paes e Thiago Amaral.

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3) Barrio Caleidoscopio (Equador)

Com um mote próximo do imponderável, o solo do ator, pedagogo, dramaturgo e diretor Carlos Gallegos pretende surpreender o público com as peripécias de Afonsito. O personagem (uma criança, um adolescente, um adulto?) amanhece com vontade de ir ao armazém e comprar pão, talvez dois, dependendo do preço. Mas seu maior obstáculo será encarar, finalmente, o sentimento que costuma paralisá-lo: o medo. É a única apresentação equatoriana na mostra, na quarta e na quinta-feira, às 20h, na Casa Rosada.

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4) Antigonón, un contingente épico (Cuba)

Uma profunda reflexão sobre Cuba e os cubanos segundo um dos grupos mais ativos de Havana, o Teatro El Público. O contraponto está no diálogo geracional entre dramaturgo e atores na casa dos 20 e 30 anos, ávidos por cultivar a arte no presente e perceber o passado sem mitificação. Parafraseando Antígona, a heroína grega de Sófocles que enfrenta o rei pelo direito de levar o irmão à cova, a questão de fundo é viver com o enterrado ou enterrar o vivido. Não há trama, mas sucessão de quadros, por vezes carnavalizados, mesclando personalidades da Revolução Cubana (em poemas ou imagens) e figuras comuns como trabalhadores e estudantes de hoje. Duas sessões: quinta e sexta, às 22h, no Coliseu.

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5) Acapela (Chile)

Nos dois últimos dias de festival, o Ginásio do Sesc recebe o espetáculo de dança que provoca o público a ressignificar os sentidos da respiração. A ação vital para qualquer ser vivo é a razão de ser da obra em dança, disposta a estimular o sujeito a perceber sua maneira de estar no mundo e, às vezes, reinventá-la. O espaço silencioso, sensorial, pode ser ilustrado como uma instalação-pulmão e seu movimento duplo e contínuo de inspiração e expiração. A sonoridade do fôlego é sutil, um sopro permanente. Serão duas sessões, sábado e domingo, às 18h, no Ginásio do Sesc.

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6) Andante (Espanha)

O espetáculo de rua será realizado em três cidades diferentes: São Vicente (Praça Barão do Rio Branco, Centro), quinta, às 12h30; Santos (Fonte do Sapo), sábado, às 19h; e Cubatão (Parque Novo Anilinas, Centro), domingo, às 16h. Antes de surgirem os atores, o caminho ao ar livre recebe cinco instalações em diferentes pontos, distantes cerca de 30 metros entre si. São nichos artísticos. Sugerem imagens visuais por meio de sapatos, botas, malas, velas, um espelho trincado, uma cadeira quebrada, um microfone antigo, areia, cacos de telha, etc. Quem passa pelo local público se pergunta do significado. No segundo momento, com a chegada de três atores e um músico, a bordo ou empurrando sua espécie de carroça mambembe, aqueles objetos ganham nexo.

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7) Camargo (Colômbia)

Como a arte pode abordar a mente de um psicopata que matou mais de 150 mulheres, entre 8 e 20 anos, por considerá-las virgens? A companhia La Congregación Teatro transpõe para o espaço cênico as terríveis alegações e práticas reais de Daniel Camargo Barbosa (1930-1994), confrontadas ao ponto de vista das vítimas. O colombiano, que se dizia evangélico e soava amável em sua debilidade, transitou ainda por Brasil e Equador, sendo este o país onde cometeu a maioria dos crimes na década de 1980. Sexta e sábado, às 19h, no Auditório do Sesc.

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8) Dínamo (Argentina)

O espetáculo argentino traz o inusitado contexto de três mulheres que compartilham um trailer perdido em alguma estrada qualquer. Em princípio, elas não sabem da presença das demais. A peça expõe como tanta solidão e estranhamento podem gerar novas energias à vida. Ada é a anfitriã. Ela tem 70 anos, trabalhou com arte performática e anseia reencontrar o pulso criativo e o amor. A chegada da sobrinha, Marisa, a mobiliza em outros sentidos: a moça deseja voltar a ser tenista após anos internada por causa de alucinações. O surgimento da terceira personagem torna ainda mais surpreendente o convívio nessa casa sobre rodas. Harima brota dos recônditos do apertado vagão cenográfico: ela é imigrante e tenta contatar a família e o filho pequeno que ficaram para trás. Sexta às 20h e sábado às 21h, no Ginásio do Sesc.

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9) No Daré Hijos, Daré Versos (Uruguai)

O drama intercala prosa e canções a partir da vida e da obra da poeta Delmira Agustini (1886-1914), cuja memória e arte andavam relegadas até ganhar novo alento nos últimos anos. Ela morreu assassinada a tiros pelo ex-marido. Referência no teatro de pesquisa em seu país, a dramaturga e diretora Marianella Morena compõe três atos. Abre com o então casal no quarto, multiplicado por três mulheres e três homens sobre a cama. Em seguida, foca o ambiente familiar da escritora, patriarcal e falso moralista. Por fim, salta para o século XXI, quando uma casa de leilão dispõe um lote contendo o revólver do crime, uma gravação confessional e a correspondência inédita de Delmira com um político. Sexta e sábado, às 21h, no Guarany.

10) Cuban Beats All Stars (Show)

A banda cubana, formada por Vladimir Nuñez, Nelson Palacios, Roy Pinatel, DJ Dadtlef e MC Harold, apresenta uma fusão entre a música tradicional cubana, os sons eletrônicos e influências tribais, com canções que transitam entre a crítica social e o despojamento das festas urbanas. Será a última apresentação musical do Mirada, no domingo, às 22h, na Área de Convivência do Sesc. É de graça e a retirada de ingressos deve ser feita na bilheteria do Sesc, no dia do show, a partir das 10h. Não é permitida entrada de menores de 18 anos.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.

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