Dança – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Webdoc] Monotonia de Aproximação e Fuga para Sete Corpos – Grupo Cena 11 Cia. de Dança https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-monotonia-de-aproximacao-e-fuga-para-sete-corpos-grupo-cena-11-cia-de-danca/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/webdoc/webdoc-monotonia-de-aproximacao-e-fuga-para-sete-corpos-grupo-cena-11-cia-de-danca/#respond Tue, 11 Oct 2016 15:07:06 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2987

“Todas as questões culturais são invenções nossas sobre o corpo, sobre percepções, sobre ideias de corpo.”

Neste quarto episódio da série de webdocumentários criados para o Mirada 2016 traz a proposta do Grupo Cena 11 Cia. de Dança. Um ato de emergência daquilo que surge das relações no tempo, com o poder de revelar novos caminhos e universos possíveis, compartilhados com o público que ocupa uma arena no palco, ou seja, no mesmo plano dos artistas.

*Leia mais artigos sobre o Mirada 2016 aqui.

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[Crítica] Respirar não é um ato banal https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-respirar-nao-e-um-ato-banal/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/critica-respirar-nao-e-um-ato-banal/#respond Fri, 23 Sep 2016 22:27:05 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2942 Por Ivana Moura, do Blog Satisfeita, Yolanda?

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Respirar é uma façanha primordial. Ação elementar, para se permanecer vivo. Tem gente que não sabe respirar. Ou melhor, para ser mais precisa, não sabe respirar bem. E compromete o desempenho de funções vitais, com repercussão em todas as atividades. Afeta o seu estar no mundo. Acapela, espetáculo de dança da coreógrafa chilena Javiera Peón-Veiga, explora o potencial revolucionário desse procedimento: os efeitos sobre os estados de consciência, a percepção da realidade e as emoções ativadas. A peça foi apresentada em duas sessões para cerca 100 pessoas cada uma, durante o MIRADA, Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, em São Paulo.

Antes de entrar na instalação-pulmão, o público larga os sapatos e seus pertences do lado de fora. Depois se acomoda no chão da tenda branca. E o grupo de artistas, em pontos distintos, executa movimentos que vão do gesto mínimo ao exagero do corpo expandido. Puxam fios imaginários com as mãos e depois acionam o corpo todo.

Vestidos de branco, os bailarinos caminham ou correm de olhos fechados, respiram de forma exagerada, jogam entre si, e assinalam tempos e emoções. A plateia não é envolvida diretamente, mas está conectada pelo ar que aspira e expira.

Na sessão de domingo, pelo menos dez pessoas deixaram o local, cinco já nos primeiros 10 minutos de apresentação. Eu senti um pouco de claustrofobia e tive que controlar o medo da falta de ar, de estar naquele globo inflado, que busca simular um pulmão vivo, expandindo e diminuindo continuamente.

A produção modula a entrada de oxigênio, que na chegada do público está a “plenos pulmões”. Mas baixa a correnteza de ar em determinado momento para criar as condições da experiência.
Instantes de vida

O elenco se desloca pelo espaço utilizando a respiração como motor invisível da consciência e dos movimentos, para atingir vários estágios físicos. Em cenas fugazes, fiapos de narrativa são exibidas para a leitura do público. Convergem para as questões de sobrevivência individual, da autonomia da vida e de que cada um traça/ constrói um destino.

Os artistas criam imagens potentes. Mas são flashes. De corpos coléricos e efusivos. Entre sutilezas do fôlego e suas sonoridades. Sopros permanentes e dinâmicas breves. Imitações de bestialidade, construções de estruturas com os corpos e sucessão de selvageria beirando a violência.

A influência de Acapela vem das artes marciais orientais e técnicas de meditação, com forte dose de improvisação. A diretora Javiera Peón-Veiga também recorre aos estudos em Psicologia, Dança Contemporânea e Coreografia, que fez respectivamente no Chile, na Inglaterra e na França. Participam dessa criação e interpretação os bailarinos Macarena Campbell, Carolina Cifras, Angélica Vial, Ariel Hermosilla, Emilio Edwards, Claudio Muñoz Desenho Cênico Antonia Peón-Veiga e Claudia Yolín.
Entre mudanças de ritmos e diversas formas de fôlego há períodos de afago e de sufocamento. E ações para testar a capacidade pulmonar e o rendimento físico dos bailarinos.
Uma cena que se destaca é a que remete à performance de Marina Abramovic e Ulay: Death Self, de 1977. Nesse desempenho, os dois artistas se conectaram pela boca até esgotar o oxigênio disponível.

Diante da radicalidade de Death Self (Abramovic e Ulay caem inconscientes 17 minutos depois do início do programa), Acapela se mostra frágil. No espetáculo de Javiera Peón-Veiga os bailarinos aos pares realizam a ação, em poucos minutos de resistência. E a cena se mostra débil, quase como uma mera demonstração.
A matéria sonora e vibrátil atesta a fisicalidade em pulsação de Acapela; da leveza do desenho animado à bestialidade, que alude ao clichê dos nossos ancestrais na linha evolutiva de Charles Darwin. Além de outros efeitos de respiração, numa saturação errática do construto. Mas sem deixar grandes marcas no nosso corpo.

*Ivana Moura é jornalista, crítica cultural, pesquisadora de teatro, atriz e dramaturga. Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde 2011 edita e produz conteúdo para o blog Satisfeita, Yolanda?, do qual é uma das idealizadoras. Participou de coberturas de festivais e mostras como a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo – MITsp (2014, 2015 e 2016), a Mostra Latino Americana de Teatro de Grupo (2015), Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015) e Bienal Internacional de Teatro da USP (2015). Integra a DocumentaCena – Plataforma de Crítica e a Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT-IACT, filiada à Unesco.

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Por dentro d’Acapela https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/por-dentro-dacapella/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/por-dentro-dacapella/#respond Sun, 18 Sep 2016 14:38:03 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2767 Por André Venancio / SescSP

acapellaCena de Acapela, espetáculo chileno que leva a respiração a limites inimagináveis

Preciso parar de fumar. Dentro daquele casulo excessivamente branco, pousado no Ginásio do Sesc Santos, eu olhava ao redor, e a maior parte das pessoas tinha uma expressão de tranquilidade no olhar. Já eu procurava o ar que parecia não conseguir entrar nos pulmões, apesar do meu diafragma estar se contraindo em seu máximo. Preciso parar.

Quando chegamos ao Ginásio, às 18h, fomos orientados pela produtora chilena – esforçando-se muito para se comunicar em português – a tirar os calçados, as meias e as bolsas. Tudo ficou acomodado metodicamente nas arquibancadas, fazendo aquele espaço ganhar um ar meio mórbido, cheio de pares de sapatos enfileirados como covas dispostas lado a lado. No centro, um enorme casulo branco se impunha soberano. Nós, descalços, íamos em fila até uma pequena fenda aberta nele. Um a um, adentramos o espaço.

acapella2A bolha onde o espetáculo acontece, no ginásio do Sesc Santos

Sentados em círculo, quase encostados nas paredes internas feitas com algum material delicado como uma seda, o público se entreolhava. Ansiedade, curiosidade e um pouco de medo dominava alguns dos olhares. Um zíper fecha delicadamente a fenda por onde entramos. Vai começar “Acapela”.

“Preciso parar de fumar.” Inspira

“Acho que só eu estou sentindo a respiração desconfortável”. Expira

“Quanto tempo vai durar isso mesmo? Setenta minutos?” Inspira

“Quanto tempo será que já passou?” Expira

“E se alguém passar mal?” Inspira

“Se eu pedir pra abrir essa maldita fenda agora, vou estragar tudo, não vou?” Expira.

O isolamento acústico daquela bolha-casulo é impressionante, mas pensamentos não davam pra ouvir, eu acho. Se bem que, por mais de uma vez, notei que algumas pessoas – mulheres, sempre! – me olhavam de forma acalentadora, como se dissessem que está tudo bem e me acariciassem no rosto.

Ao redor da bolha, os seis artistas estavam de pé, de costas para o público, vestidos totalmente de branco. Os olhos fechados, numa espécie de transe, totalmente imóveis. Percebo no que está mais próximo a mim um movimento muito sutil na ponta dos dedos da mão esquerda. Apesar de me parecer que a carne tremia involuntariamente, havia um ritmo ali. Nada era involuntário.

Preciso parar de fumar. Inspira. Olho as pessoas à minha volta, e algumas se alongam. Começo a notar traços de desconforto em mais alguém, além de mim. Expira.

Os bailarinos começam a se mover para o centro da roda formada pelo público, em movimentos que me lembram insetos, com um alongamento excessivo das extremidades do corpo. O som da respiração deles é a única coisa que se ouve, e a respiração conduz a ação de cada um, ainda em transe, ainda com os olhos fechados.

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O que parecia um exercício de respiração rotineiro, com movimentos leves do corpo, ganha ares de tensão. A iluminação da bolha vai variando lentamente, do branco ao amarelo, que pareceu esquentar ainda mais o espaço. Os movimentos daquela dança vão, a cada segundo, exigindo mais fôlego dos performers. Ao longo do espetáculo, é com a respiração que cada um deles demonstra força, raiva, alegria e tesão. A intensidade com que eles puxam o ar para dentro, ou expulsam-no para fora do próprio corpo, durante toda a apresentação, é sempre brutal. Expira.

“Quanto tempo vai durar isso mesmo? Setenta minutos?” Inspira

“Quanto tempo será que já passou?” Expira

“E se alguém passar mal?” Inspira

Os movimentos da dança, a intensidade da respiração, as reações do público, o branco irritante daquela bolha. Tudo em “Acapella” é intenso. Não há um som sequer que não seja causado pelo barulho da respiração dos performers, porém é como se ouvíssemos gritos, risadas, gemidos, sussurros.

Quando o suor já exibia a pele molhada por baixo dos figurinos brancos dos performers, que estavam em um movimento quase sexual onde a única penetração envolvida era o ar, as paredes internas da bolha começam a se mover, como se recebessem – pelo lado de fora – uma rajada de vento.

Inspira.

A fenda se abre e adentra ao espaço um ventilador, que naquele momento poderia ser comparado a uma turbina de um avião de pequeno porte, sem qualquer exagero. Os performers parecem, então, consumir o ar gerado pelo equipamento, como as mariposas parecem consumir a luz das lâmpadas ao anoitecer. Tal como quem tem sede e encontra um lago, aquelas seis pessoas pareciam beber o vento, colocando cada gota de ar para dentro.

Expira.

Após saciarem a sede, eles abandonam o casulo que, com a fenda aberta, começa a cair suavemente sobre o público. É hora de sair.

Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira. Inspira. Expira.

Preciso de um cigarro.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.

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7 gifs para entender melhor a dança contemporânea https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/7-gifs-para-entender-melhor-a-danca-contemporanea/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/7-gifs-para-entender-melhor-a-danca-contemporanea/#respond Wed, 14 Sep 2016 20:03:38 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2115 por Renan Abreu – Sesc Consolação

Possivelmente um motivo que leva as pessoas a se distanciarem da dança contemporânea é a sua estranheza. Em termos técnicos, ela tende a combinar diversas qualidades de movimento, uma vez que não se prende às estéticas pré-estabelecidas.  Como ela não se define em técnicas ou movimentos específicos, como o ballet por exemplo, o intérprete ou bailarino ganha autonomia para construir suas próprias coreografias a partir de métodos e procedimentos de pesquisa.

Foi olhando para um passado bem distante (de mais de 500 anos) que o grupo catarinense Cena 11 construiu o projeto coreográfico de “Monotonia de aproximação e fuga de sete corpos”. O espetáculo retrata um estilo de composição musical denominada fuga, que teve origem na música barroca e atingiu o seu ápice nas obras de Johann Sebastian Bach (1685-1750).

A fuga na música, assim como a dança contemporânea, não possui um modelo. Também não há uma fuga igual a outra em termos de estrutura, mas ela possui seus personagens. Na música, por exemplo, ela sempre começa com uma voz desacompanhada cantando o sujeito da fuga. Uma vez o sujeito exposto por completo, as outras vozes começam a entrar em sequência, sempre cantando o sujeito, e sempre esperando a voz anterior concluir o tema antes de entrar.

O experimento do Cena 11 não é diferente, mas ganha um aspecto e uma estética futurista que, de alguma forma, consegue romper essa barreira da estranheza. Aqui, separamos 7 momentos do espetáculo ilustrados em gifs.

1

No início, somos transportados diretamente a um palco, onde o público senta em cubos de papelão dispostos como uma imensa roda. Ao chegar no local, notamos que os sete bailarinos encontram-se sentados também. Eretos, imóveis, absolutamente concentrados.

2

Em determinado momento, estes seres quase robóticos iniciam uma aproximação ao centro do palco. A cada movimento, sensores de aproximação acoplados em seus corpos começam a emitir um som que é repetido a cada entrada em cena e, a cada inspiração profunda, emitem uma fumaça com um ruído que mais parece o Darth Vader.

3

Os movimentos de aproximação dos bailarinos parecem uma tentativa de comunicação. Os 7 assemelham-se a elementos de um circuito em curto; quanto mais se aproximam, mais intenso se torna o som do dispositivo. A música que embala é de Bach, reproduzida pela banda que não é está aos olhos do público. É tudo muito estranho, mas as referências trazidas pela companhia parecem sobrepor o que parece hermético. Uma roda é formada.

4

Até aí não há dança, mas os movimentos tornam-se cada vez mais acentuados. Há muita repetição e parece que é a partir dela que novos movimentos começam a existir. O que era um passo para uma direção, inverte-se a outra e não há choque. Os bailarinos se tocam, mas logo se distanciam e a música se intensifica.

5

A performance fica histérica. Parece um jogo. Ao tentar entrar na fuga, os bailarinos procuram sempre um “tom acima” e chega-se ao caos, mas os corpos não colidem entre si. Eles se aproximam do chão e, a partir desse momento, a intensidade coloca em evidência a força, resistência e preparo físico dos dançarinos.

6

A movimentação regressa a um estado mais lento e o caos perde força. Um exercício: escolha um deles e veja como se comportam em relação a música.

7

Os movimentos cessam e os dançarinos regressam aos seus lugares iniciais como um loop reverso. Recompõem-se e a luz faz o papel da música. Lentamente o espaço se escurece. É o fim da fuga.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.

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