Carlos Gallegos – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 [Crítica] A saga de medo e superação de Alfonsito https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/a-saga-de-medo-e-superacao-de-alfonsito/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/critica/a-saga-de-medo-e-superacao-de-alfonsito/#respond Mon, 19 Sep 2016 12:57:40 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2922 barrio-ok-materia

Por Pollyanna Diniz, do blog Satisfeita, Yolanda?

Escrutinar o personagem Alfonsito, do monólogo Barrio Caleidoscopio, do Teatro de La Vuelta (criado no Equador, mas sediado na França), significa olhar os nossos próprios medos e desafios com uma lente de aumento. Talvez enxergar os exageros e superlativos que nos colocamos cotidianamente ao observamos esse outro, um ser metódico e paranoico, construído com maestria por Carlos Gallegos. Também dramaturgo, diretor e pedagogo, o espetáculo tem como principal destaque a atuação do equatoriano, que interpreta o personagem desde 2010. Entre as principais ferramentas utilizadas está o trabalho do clown. Do palhaço que ri e chora de si mesmo, que se faz esperto e idiota, e transforma cada gesto em possibilidade de descoberta, troca e interação com o espectador.

A dramaturgia, também assinada por Gallegos, é baseada numa situação de banalidade: Alfonsito decide sair de casa para ir até a esquina, comprar um pão ou, quem sabe, dois. Mesmo podendo ser considerada frágil, porque sem argumento ou apelo, a história vai sendo ampliada pelo trabalho do ator diante do texto. Alfonsito se prepara para sair de casa, enfrenta os seus medos, encontra algumas pessoas pela rua e até se revela apaixonado. Por fim, consegue superar os obstáculos; ainda que saibamos que o ciclo recomeçará na manhã seguinte, talvez com desafios ainda maiores a serem transpostos. A história não está localizada em nenhum contexto específico. A impressão é de que Alfonsito pode ser um personagem de qualquer época, uma alegoria atemporal que trata do homem e dos seus medos.

Contando essa história em terceira pessoa, um dos méritos do trabalho do ator é estimular a imaginação da plateia, conseguindo levar os espectadores a construírem as suas próprias imagens a partir da dramaturgia. Acompanhamos Alfonsito como num filme, mesmo que não haja elementos de cena. Estamos com ele enquanto escova os dentes, enfrenta a porta gigante, os perigos e os encontros na rua. Isso tudo sem que haja um cenário de elementos, mesmo os mais simples, que poderiam servir de trunfo ao palhaço. Ao contrário, Gallegos conta quase que exclusivamente com o próprio corpo. Em cena, somente o essencial e o mínimo de movimentação. O ator está praticamente a peça inteira sentado numa cadeira. A iluminação complementa a dramaturgia e o trabalho do ator, compondo espaços e significados.

O espectador acompanha e surpreende-se rindo ou se emocionando com a trajetória desse personagem e dos outros tantos interpretados também por Gallegos em Barrio Caleidoscopio. A relação estabelecida com o público se dá de maneira muito rápida e efetiva. De fato, o trabalho do ator e, mais especificamente, do palhaço, só se completa no outro, também responsável por manter esse vínculo.

A peça demonstra que experimentação artística pode ser levada a cabo utilizando-se qualquer linguagem. Para quem acompanhou a programação do Mirada de forma mais ampla, talvez tenha sido a chance de rir um pouco, de conferir-se uma pausa nos temas mais duros de tantas montagens, dando um intervalo nas propostas estéticas baseadas na radicalidade e nos mergulhos verticais. Nesse sentido, Barrio Caleidoscopio foi um sopro de leveza, mostrando que a superação e o riso precisam ser cotidianos.  

*Pollyanna Diniz é jornalista, crítica e pesquisadora de teatro. Mestranda em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (USP), há cinco anos edita e produz conteúdo para o blog Satisfeita, Yolanda?, do qual é uma das idealizadoras. Participou de coberturas de festivais e mostras como a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (2014, 2015 e 2016), a Mostra Latino Americana de Teatro de Grupo (2015) e a Bienal Internacional de Teatro da USP (2015). Integra a DocumentaCena – Plataforma de Crítica e a Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT-IACT, filiada à Unesco.`

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10 espetáculos que estão por vir no Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/10-espetaculos-que-estao-por-vir-no-mirada/#respond Tue, 13 Sep 2016 18:32:32 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=1873 Por Patrícia Diguê

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1) Leite derramado (Brasil)

A estreia nacional da peça do Club Noir, de São Paulo, será nesta quinta-feira (15), às 21h, no Teatro do Sesc. Haverá mais uma sessão na sexta-feira (16), no mesmo horário. É uma adaptação cênica do premiado romance homônimo de Chico Buarque, de 2009. O espetáculo concebe uma visão panorâmica de séculos da história do país, apontando a necessidade urgente de reconstruirmos procedimentos éticos em direção a novas possibilidades de ação política. Em seu estertor delirante, abandonado numa maca em corredor de hospital público, o protagonista Eulálio Assumpção, de 100 anos, é atravessado por um pandemônio no qual ruem as fronteiras que separam mundo interno e mundo externo, passado e presente, memória e imaginação, religião e poder, indivíduo e sociedade, política e mitologia.

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2) Ãrrã (Brasil)

O Empório de Teatro Sortido (SP) apresenta duas sessões da peça de Vinicius Calderoni, na quarta-feira, às 19h e às 21h, no Ginásio do Sesc. Toda interjeição ou onomatopeia, como a do título, têm a ver com o brincar com a língua. É por aí que caminha a peça, num jogo de vozes de dois atores, em que a escrita/fala soa como se não fosse da jurisdição do que é um texto dramático, num moto-contínuo de diálogos e narrações feéricos. Sob figurino-base preto e espaço cênico dominantemente vazio, triunfa a dupla de comediantes (na acepção mais nobre) Luciana Paes e Thiago Amaral.

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3) Barrio Caleidoscopio (Equador)

Com um mote próximo do imponderável, o solo do ator, pedagogo, dramaturgo e diretor Carlos Gallegos pretende surpreender o público com as peripécias de Afonsito. O personagem (uma criança, um adolescente, um adulto?) amanhece com vontade de ir ao armazém e comprar pão, talvez dois, dependendo do preço. Mas seu maior obstáculo será encarar, finalmente, o sentimento que costuma paralisá-lo: o medo. É a única apresentação equatoriana na mostra, na quarta e na quinta-feira, às 20h, na Casa Rosada.

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4) Antigonón, un contingente épico (Cuba)

Uma profunda reflexão sobre Cuba e os cubanos segundo um dos grupos mais ativos de Havana, o Teatro El Público. O contraponto está no diálogo geracional entre dramaturgo e atores na casa dos 20 e 30 anos, ávidos por cultivar a arte no presente e perceber o passado sem mitificação. Parafraseando Antígona, a heroína grega de Sófocles que enfrenta o rei pelo direito de levar o irmão à cova, a questão de fundo é viver com o enterrado ou enterrar o vivido. Não há trama, mas sucessão de quadros, por vezes carnavalizados, mesclando personalidades da Revolução Cubana (em poemas ou imagens) e figuras comuns como trabalhadores e estudantes de hoje. Duas sessões: quinta e sexta, às 22h, no Coliseu.

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5) Acapela (Chile)

Nos dois últimos dias de festival, o Ginásio do Sesc recebe o espetáculo de dança que provoca o público a ressignificar os sentidos da respiração. A ação vital para qualquer ser vivo é a razão de ser da obra em dança, disposta a estimular o sujeito a perceber sua maneira de estar no mundo e, às vezes, reinventá-la. O espaço silencioso, sensorial, pode ser ilustrado como uma instalação-pulmão e seu movimento duplo e contínuo de inspiração e expiração. A sonoridade do fôlego é sutil, um sopro permanente. Serão duas sessões, sábado e domingo, às 18h, no Ginásio do Sesc.

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6) Andante (Espanha)

O espetáculo de rua será realizado em três cidades diferentes: São Vicente (Praça Barão do Rio Branco, Centro), quinta, às 12h30; Santos (Fonte do Sapo), sábado, às 19h; e Cubatão (Parque Novo Anilinas, Centro), domingo, às 16h. Antes de surgirem os atores, o caminho ao ar livre recebe cinco instalações em diferentes pontos, distantes cerca de 30 metros entre si. São nichos artísticos. Sugerem imagens visuais por meio de sapatos, botas, malas, velas, um espelho trincado, uma cadeira quebrada, um microfone antigo, areia, cacos de telha, etc. Quem passa pelo local público se pergunta do significado. No segundo momento, com a chegada de três atores e um músico, a bordo ou empurrando sua espécie de carroça mambembe, aqueles objetos ganham nexo.

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7) Camargo (Colômbia)

Como a arte pode abordar a mente de um psicopata que matou mais de 150 mulheres, entre 8 e 20 anos, por considerá-las virgens? A companhia La Congregación Teatro transpõe para o espaço cênico as terríveis alegações e práticas reais de Daniel Camargo Barbosa (1930-1994), confrontadas ao ponto de vista das vítimas. O colombiano, que se dizia evangélico e soava amável em sua debilidade, transitou ainda por Brasil e Equador, sendo este o país onde cometeu a maioria dos crimes na década de 1980. Sexta e sábado, às 19h, no Auditório do Sesc.

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8) Dínamo (Argentina)

O espetáculo argentino traz o inusitado contexto de três mulheres que compartilham um trailer perdido em alguma estrada qualquer. Em princípio, elas não sabem da presença das demais. A peça expõe como tanta solidão e estranhamento podem gerar novas energias à vida. Ada é a anfitriã. Ela tem 70 anos, trabalhou com arte performática e anseia reencontrar o pulso criativo e o amor. A chegada da sobrinha, Marisa, a mobiliza em outros sentidos: a moça deseja voltar a ser tenista após anos internada por causa de alucinações. O surgimento da terceira personagem torna ainda mais surpreendente o convívio nessa casa sobre rodas. Harima brota dos recônditos do apertado vagão cenográfico: ela é imigrante e tenta contatar a família e o filho pequeno que ficaram para trás. Sexta às 20h e sábado às 21h, no Ginásio do Sesc.

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9) No Daré Hijos, Daré Versos (Uruguai)

O drama intercala prosa e canções a partir da vida e da obra da poeta Delmira Agustini (1886-1914), cuja memória e arte andavam relegadas até ganhar novo alento nos últimos anos. Ela morreu assassinada a tiros pelo ex-marido. Referência no teatro de pesquisa em seu país, a dramaturga e diretora Marianella Morena compõe três atos. Abre com o então casal no quarto, multiplicado por três mulheres e três homens sobre a cama. Em seguida, foca o ambiente familiar da escritora, patriarcal e falso moralista. Por fim, salta para o século XXI, quando uma casa de leilão dispõe um lote contendo o revólver do crime, uma gravação confessional e a correspondência inédita de Delmira com um político. Sexta e sábado, às 21h, no Guarany.

10) Cuban Beats All Stars (Show)

A banda cubana, formada por Vladimir Nuñez, Nelson Palacios, Roy Pinatel, DJ Dadtlef e MC Harold, apresenta uma fusão entre a música tradicional cubana, os sons eletrônicos e influências tribais, com canções que transitam entre a crítica social e o despojamento das festas urbanas. Será a última apresentação musical do Mirada, no domingo, às 22h, na Área de Convivência do Sesc. É de graça e a retirada de ingressos deve ser feita na bilheteria do Sesc, no dia do show, a partir das 10h. Não é permitida entrada de menores de 18 anos.

*Leia mais sobre o Mirada 2016 aqui.

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