Bob Sousa – Sesc Mirada https://mirada.sescsp.org.br/2016 MIRADA - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos Tue, 31 Jan 2017 21:44:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.5.8 A memória do teatro paulista pelas lentes de Bob Sousa https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/a-memoria-do-teatro-paulista-pelas-lentes-de-bob-sousa/ https://mirada.sescsp.org.br/2016/digital/a-memoria-do-teatro-paulista-pelas-lentes-de-bob-sousa/#respond Fri, 16 Sep 2016 19:39:32 +0000 https://mirada.sescsp.org.br/2016/?p=2435 Por Rafael Munduruca – Sesc SP e Iran Giusti – Chicken or Pasta

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Há quinze anos, Bob Sousa decidiu se dedicar a unificar suas paixões: a fotografia e o teatro. De forma independente passou a clicar espetáculos em São Paulo, e aos poucos se tornou uma referência em retratar o que se passa nos palcos.

Formado em publicidade, ensaiou o estudo do teatro na adolescência, mas foi só nos anos 90 que sua relação com os palcos se estreitaram. “Eu assistia muito [a companhia de teatro paulistana] Ornitorrinco. Eu fazia cursinho com o Eduardo Silva, ator do grupo e acabei indo duas, três vezes na mesma peça”, conta Bob, lembrando que ao fazer retratos para seu primeiro livro, “Retratos do Teatro”, tinha como propósito fotografar todas as peças do grupo. “E eu consegui quase todos”, comemora.

O processo para a produção dessas imagens é elaborado e intenso. “Primeiro eu analiso o texto, de quem é, o que é, o grupo, a estética que o grupo tem. Eu dou uma pesquisada antes”, diz, explicando ainda que também conta com regras impostas pela produção dos espetáculos e por si mesmo. “Sempre fico sentado, nunca me movimento, não uso flash, desligo todos os botões da câmera que podem emitir luz ou barulho”.

Das dificuldades, Bob destaca problemas técnicos como barulho ou pouca luz, porém nada que inviabilize o trabalho. “Acabo resolvendo de algum jeito, com lentes mais claras e tripé. E também vai da linguagem. Você pode desfocar uma imagem, tecnicamente, que ela vai representar o que é”. Além desses percalços tem a questão de entendimento dos atores da importância do registro. “Quando você encontra um grupo que sabe que você está ali, que respeita o seu trabalho, que quer aquilo, é muito bacana. Quando não, tudo se torna muito difícil. Acho que pra qualquer profissional”, completa.

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Cena do espetáculo “Sua Incelença Ricardo III” no Mirada 2016, por Bob Sousa.

Relembrando o começo do seu trabalho, Bob conta os problemas que teve com o Teatro Oficina, o icônico grupo liderado pelo dramaturgo Zé Celso. “Na época, estavam encenando ‘Os Sertões’ (obra dividida em cinco espetáculos) e faltava uma parte para acabar e eu não pude fotografar, falaram que só podia se fosse da imprensa”. Hoje, no entanto, o fotografo é sempre o primeiro a registrar o trabalho do grupo, antes mesmo da mídia.

Diante dessa abertura, o fotógrafo acabou sendo peça importante na preservação da memória do teatro paulistano, e na academia encontrou o espaço ideal para organizar todo o material coletado. “Fiz o mestrado na Unesp, orientado pelo pesquisador Alexandre Mate. O objetivo inicial era a fotografia de teatro mas no fim acabou sendo a minha fotografia. Acabei pesquisando a mim mesmo, algo muito difícil. Abordo qual é o lugar da fotografia na cena e, consequentemente, qual o lugar do fotógrafo, da estética e por aí vai”.

Para a Unesp, Bob doou parte de seu acervo para o Portal de História do Teatro Mundial e Brasileiro. “E continuo subindo aos poucos, porque não para. Mas é um lugar que está lá. Eu queria muito isso porque, por ser eu sozinho, por eu não ser de um jornal, não ser de uma instituição, eu tinha que manter isso. Eu tinha medo que isso se perdesse comigo”, explica.

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Cena do espetáculo “O Avesso do Claustro” no Mirada 2016, por Bob Sousa.

O fotógrafo explica ainda as diferentes formas de realizar os registros. “São várias vertentes na fotografia: tem a foto de divulgação, que pode ser posada, pode ser construída. Tem a foto de imprensa, que pode ser pautada pelo veículo, algo que não gosto porque, em geral, as coisas surgem do momento”, dispara. Sua preferência é ser espectador e inclusive evita acompanhar ensaios ou fazer fotos posadas. “Gosto de sentar ali e assistir, de me jogar no buraco, no abismo, sem saber o que vai acontecer. Chorar junto, rir junto, realmente captar o olhar de espectador”. A técnica, porém, o impede de conseguir ver espetáculos sem a companhia das suas lentes. “Não dá, eu fico pensando que poderia ter feito foto daquele momento, observando uma luz bonita, me desconcentro todo, ao contrário de quando estou com a câmera”.

Em 2016, Bob veio pela primeira vez ao Mirada e a impressão foi das melhores. “Estar em um festival com vários espetáculos, de vários grupos, de outros países até, é muito bacana. É muito diferente daquela pauta que você vai e está tudo combinadinho. Essa loucura de vai pra lá e vai pra cá, das relações. A fotografia está sendo construída aí, nesses caminhos”, finaliza.

Clique aqui para saber mais sobre o trabalho do fotógrafo.

*Leia mais artigos sobre o Mirada 2016 aqui.

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