Mirada » » criadouro https://mirada2014.sescsp.org.br/pt Festival Ibero-Americano de artes Cênicas de Santos Mon, 02 Feb 2015 13:08:25 +0000 pt-BR hourly 1 A presença feminina na programação https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/a-presenca-feminina-na-programacao-do-festival/ https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/a-presenca-feminina-na-programacao-do-festival/#comments Wed, 10 Sep 2014 21:48:38 +0000 https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/?p=1478 Yerma. Foto: Marta Coelho

Os espetáculos que utilizam o ponto de vista ou o corpo feminino como parte da narrativa geram reflexão no público do Mirada. “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”, disse Simone de Beauvoir. A utilização da palavra homem por uma escritora com um simbolismo tão grande pode ou não ter sido proposital. De todo modo, ela serve como uma provocação. Assim como na colocação da escritora, a curadoria do festival pensou a questão de maneira geral, como explica Leonardo Nicoletti: "As questões femininas são uma coincidência, pois dentro da proposta do festival se pensou na questão da construção da família. Então são diversos espetáculos que falam das relações familiares, para se ter todos os lados: o machismo, a mulher oprimida, a reafirmação de questões femininas, a beleza". A presença feminina na programação acaba trazendo um forte tom emocional, nem sempre delicado. O espetáculo peruano Criadouro tem três atrizes que contam suas histórias de vida sob a perspectiva de filhas de mulheres fortes. A narrativa não-linear as apresenta também como mães e tia - a dúvida sobre a maternidade também entra em foco. Nadine Vallejo, codiretora da produção, conta que de 2011 até agora a peça foi encenada continuamente em Lima. Ela credita o sucesso à empatia que as pessoas criam com os depoimentos (extra)ordinários, comuns em muitas famílias. “O público sai emocionado da apresentação”, conta. Yerma, do diretor português João Garcia Miguel, enxerga a mulher como um elo de ligação entre a terra e a vida. “Pra mim esse assunto foi importante porque eu nunca tinha olhado pra mulher como este símbolo de ligação com o mundo. Ela é aquilo que faz tudo andar, e continuar a procriar e a existir. Nunca tinha pensando tão fortemente na mulher como símbolo de luz e de continuidade na vida humana. Ao meu ver acho que as mulheres de hoje esquecem do quão fundamental é o papel delas aqui e a sua existência. É uma mensagem importante para sempre lembrar: O que é ser mulher”. A peça é baseada em um poema do espanhol García Lorca, e mostra a infertilidade de um casal sob o ponto da personagem-título. Às vezes o papel da criadora do mundo aparece com o único propósito de celebrar sua delicadeza. É o caso de Utopia, da coreógrafa espanhola Maria Pagés. Naiá Gago, produtora do Teatro Coliseu, onde a peça foi apresentada, conta que se emocionou no espetáculo: “Um gestual e uma feminilidade espetaculares. A Maria Pagés, que já é uma senhora, representou a essência da beleza, do corpo longilíneo, dos gestos, dos leques e símbolos femininos”.

Otelo (Foto: Rafael Arenas)

Em contraponto, o espetáculo chileno Otelo traz a representação da mulher oprimida. “Otelo é um femicida. No Chile temos um femicídio por semana, é uma sociedade muito machista. Como ser dono de uma mulher? A única forma de ser dono totalmente, é matá-la. São mulheres que estão submetidas a um mundo masculino e militar”, comenta o o ator e diretor do espetáculo, Jaime Lorca. O dicionário português brasileiro define a palavra “ultrapassar” como uma transposição. A relação das palavras com a afirmação de Beauvoir não parece ter sido mais acertada para o Mirada.  Aqui, a mulher se transpôs na arte, e mostrou a sua força na sobrevivência. Coletivo Pão & Circo]]>
Yerma. Foto: Marta Coelho

Os espetáculos que utilizam o ponto de vista ou o corpo feminino como parte da narrativa geram reflexão no público do Mirada. “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”, disse Simone de Beauvoir. A utilização da palavra homem por uma escritora com um simbolismo tão grande pode ou não ter sido proposital. De todo modo, ela serve como uma provocação. Assim como na colocação da escritora, a curadoria do festival pensou a questão de maneira geral, como explica Leonardo Nicoletti: "As questões femininas são uma coincidência, pois dentro da proposta do festival se pensou na questão da construção da família. Então são diversos espetáculos que falam das relações familiares, para se ter todos os lados: o machismo, a mulher oprimida, a reafirmação de questões femininas, a beleza". A presença feminina na programação acaba trazendo um forte tom emocional, nem sempre delicado. O espetáculo peruano Criadouro tem três atrizes que contam suas histórias de vida sob a perspectiva de filhas de mulheres fortes. A narrativa não-linear as apresenta também como mães e tia - a dúvida sobre a maternidade também entra em foco. Nadine Vallejo, codiretora da produção, conta que de 2011 até agora a peça foi encenada continuamente em Lima. Ela credita o sucesso à empatia que as pessoas criam com os depoimentos (extra)ordinários, comuns em muitas famílias. “O público sai emocionado da apresentação”, conta. Yerma, do diretor português João Garcia Miguel, enxerga a mulher como um elo de ligação entre a terra e a vida. “Pra mim esse assunto foi importante porque eu nunca tinha olhado pra mulher como este símbolo de ligação com o mundo. Ela é aquilo que faz tudo andar, e continuar a procriar e a existir. Nunca tinha pensando tão fortemente na mulher como símbolo de luz e de continuidade na vida humana. Ao meu ver acho que as mulheres de hoje esquecem do quão fundamental é o papel delas aqui e a sua existência. É uma mensagem importante para sempre lembrar: O que é ser mulher”. A peça é baseada em um poema do espanhol García Lorca, e mostra a infertilidade de um casal sob o ponto da personagem-título. Às vezes o papel da criadora do mundo aparece com o único propósito de celebrar sua delicadeza. É o caso de Utopia, da coreógrafa espanhola Maria Pagés. Naiá Gago, produtora do Teatro Coliseu, onde a peça foi apresentada, conta que se emocionou no espetáculo: “Um gestual e uma feminilidade espetaculares. A Maria Pagés, que já é uma senhora, representou a essência da beleza, do corpo longilíneo, dos gestos, dos leques e símbolos femininos”.

Otelo (Foto: Rafael Arenas)

Em contraponto, o espetáculo chileno Otelo traz a representação da mulher oprimida. “Otelo é um femicida. No Chile temos um femicídio por semana, é uma sociedade muito machista. Como ser dono de uma mulher? A única forma de ser dono totalmente, é matá-la. São mulheres que estão submetidas a um mundo masculino e militar”, comenta o o ator e diretor do espetáculo, Jaime Lorca. O dicionário português brasileiro define a palavra “ultrapassar” como uma transposição. A relação das palavras com a afirmação de Beauvoir não parece ter sido mais acertada para o Mirada.  Aqui, a mulher se transpôs na arte, e mostrou a sua força na sobrevivência. Coletivo Pão & Circo]]>
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Os personagens reais do Mirada https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/os-personagens-reais-dentro-do-mirada/ https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/os-personagens-reais-dentro-do-mirada/#comments Wed, 10 Sep 2014 12:00:13 +0000 https://mirada2014.sescsp.org.br/pt/?p=1451 Foto: Otávio Dantas

Criar ficção a partir da realidade parece uma ideia louca – mas no Mirada, completamente possível. Afinal, quando o ator deixa de lado a máscara de seu personagem para ser ele mesmo, ainda há atuação. Seja no gesto, no tom, no semblante que traz de sua vivência para acrescentar ao espetáculo. Mas vestir-se com o próprio rosto, no entanto, pode ser uma tarefa muito difícil para o ator, acostumado a interpretar. “Existe um desenho de cena, mas o gestual é muito próximo do seu pessoal, o tom de voz é o seu”, conta Paula Picarelli, atriz de 02 Ficções, de Leonardo Moreira. Foto: Paola Vera O desafio também é um exercício da vivência dos próprio atores. A atriz Renata Carvalho, de Projeto Bispo, conta que a criação dos personagens de sua peça se fez de forma semelhante. “A gente coloca [na peça] quem seriam os excluídos de hoje. A rua é o grito de cada um, de cada participante desse coletivo. Jogamos um pouco pra fora os problemas que cada um, no seu universo, mais ou menos conhece”, diz. Trazer a própria emoção para dentro do palco resulta em uma grande empatia do público, que acaba se identificando em pequena frivolidades diárias retratadas em cena. Criadouro, espetáculo peruano dirigido por Mariana de Althaus, utiliza-se dessa identificação para contar a história das três atrizes no palco. “Tudo o que elas dizem em cena é verdade, aconteceu em sua vida”, revela a codiretora Nadine Vallejo. Foto: Adriana Marchiori Por outro lado, muitas vezes o próprio corpo do ator, que não se veste de um personagem, serve como mensagem de uma arte. É o caso do espetáculo-intervenção Cidade Proibida, do grupo gaúcho Companhia Rústica. “Os atores transitam por várias possibilidades e são eles mesmos, na maior parte do tempo. São eles dentro do jogo”, afirma a diretora Patrícia Fagundes. Aqui, o não-uso de personagens palpáveis (sem nome ou falas), desnuda o ator e acaba dando foco a um novo protagonista: o cenário. Coletivo Pão & Circo ]]>
Foto: Otávio Dantas

Criar ficção a partir da realidade parece uma ideia louca – mas no Mirada, completamente possível. Afinal, quando o ator deixa de lado a máscara de seu personagem para ser ele mesmo, ainda há atuação. Seja no gesto, no tom, no semblante que traz de sua vivência para acrescentar ao espetáculo. Mas vestir-se com o próprio rosto, no entanto, pode ser uma tarefa muito difícil para o ator, acostumado a interpretar. “Existe um desenho de cena, mas o gestual é muito próximo do seu pessoal, o tom de voz é o seu”, conta Paula Picarelli, atriz de 02 Ficções, de Leonardo Moreira. Foto: Paola Vera O desafio também é um exercício da vivência dos próprio atores. A atriz Renata Carvalho, de Projeto Bispo, conta que a criação dos personagens de sua peça se fez de forma semelhante. “A gente coloca [na peça] quem seriam os excluídos de hoje. A rua é o grito de cada um, de cada participante desse coletivo. Jogamos um pouco pra fora os problemas que cada um, no seu universo, mais ou menos conhece”, diz. Trazer a própria emoção para dentro do palco resulta em uma grande empatia do público, que acaba se identificando em pequena frivolidades diárias retratadas em cena. Criadouro, espetáculo peruano dirigido por Mariana de Althaus, utiliza-se dessa identificação para contar a história das três atrizes no palco. “Tudo o que elas dizem em cena é verdade, aconteceu em sua vida”, revela a codiretora Nadine Vallejo. Foto: Adriana Marchiori Por outro lado, muitas vezes o próprio corpo do ator, que não se veste de um personagem, serve como mensagem de uma arte. É o caso do espetáculo-intervenção Cidade Proibida, do grupo gaúcho Companhia Rústica. “Os atores transitam por várias possibilidades e são eles mesmos, na maior parte do tempo. São eles dentro do jogo”, afirma a diretora Patrícia Fagundes. Aqui, o não-uso de personagens palpáveis (sem nome ou falas), desnuda o ator e acaba dando foco a um novo protagonista: o cenário. Coletivo Pão & Circo ]]>
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