Sinopse
O Coletivo convida o publico a percorrer diversos espaços do centro histórico. Partindo da Praça Mauá até a Casa da Frontaria Azulejada, compondo mais de dez estações cênicas, o universo da loucura é apresentado a partir de pesquisas sobre as personas de Bispo do Rosário, Estela do Patrocínio e Profeta Gentileza. Mas não se trata de um espetáculo biográfico. Os personagens configuram todos os loucos urbanos, apresentando suas expressões escondidas e esquecidas nas ruas, vielas e praças. Sempre pela perspectiva do excluído, a loucura ora é prisão, que não permite ter contato e convívio com sociedade, ora é liberdade, que possibilita escapes da estrutura dominante e da ordem vigente, tanto para o indivíduo quanto para o artista.
Ficha-técnica
Direção: Kadu Veríssimo
Atores-criadores:Juliana Sucila, Junior Brassalotti, Lucas Oliveira, Malvina Costa, Rafael de Souza, Renata Carvalho, Rony Magno, Sérgio Bratz, Thalita Nascimento, Wendell Medeiros e Zécarlos Gomes
Assistência Geral e Dramaturgia: Junior Texaco
Figurinos: Gilda Dos Andradas
Iluminação: Alessandro Cruz
Trilha Sonora: Elias Tomais e Kadu Verissimo
Resenha
Feito um louco perambulando no cotidiano, fugindo das instâncias seguras propiciadas pela cultura. Feito um louco percorrendo os cantos, em uma espécie de fuga para dentro de si mesmo, em busca de maior liberdade. Assim, um tanto artista, um tanto prisioneiro, um tanto paciente e interno, um tanto com asas próprias e contato com o divino, Bispo do Rosário forneceu uma observação sobre a loucura diferente e a colocou em xeque. Foi quando a criação supria a compreensão de sanidade, fazia da expressão estética a condição primeira de sobriedade. Então quem são os loucos, afinal? Seria preciso investigar a consciência, pois dela depende a compreensão da realidade, e atribuiu-se a isso a classificação de normalidade. Mas não há um real a ser percebido se não pelo estado puro de sua presença sobre o homem. Então, não há igualmente normalidade, pois esta depende de quem a percebe e como coexistem. A tal da loucura se formaliza por fora da norma, portanto. Loucos são, antes, aqueles cuja liberdade atua sobre as prisões culturais e sociais, desconfigurando seus limites.
O Coletivo vai a ruas, vielas, praças, marquises, espaços onde os excluídos constroem suas bases de pertencimento e solidão. São espaços espalhados pelo centro histórico de Santos. São onze signos possíveis de investigação, que abordam a violência sub-reptícia acometida sobre os mais esquecidos da sociedade. Construir uma realidade seria errar tanto quanto a sociedade ao julgar como uma mesma coisa. E o espetáculo é constantemente descontruído como realidade cênica, originando a singularidade de cada instante e a acumulação das experiências. A rua é talvez a face da loucura, onde o homem se revela apenas espelho de uma sociedade em descompasso e desfigurada. O louco, seja ele Bispo, Estela do Patrocínio, Profeta Gentileza e tantos outros, tantos anônimos, tantos resquícios da nossa falência, é a soma paradoxal da divisão. Em um mundo limitado ao sobreviver em estado de perfeição determinada, louca talvez seja a violenta expressão do existir artista compreendendo a si mesmo como unidade fundamental do todo.