País

Brasil

Sinopse

Em um primeiro momento, o público é convidado a assistir aos dançarinos lidarem com as sensações de descontrole e naufrágio a partir da representação de sua relação com a natureza, através de elementos como ventanias e tempestades. Em um segundo instante, o corpo nu passa a ser a experiência do reconhecimento do outro, pela elaboração de um jogo cujo tempo de convívio determina um olhar sobre o movimento e o contexto de maneira muito particular. O espetáculo se utiliza de uma impactante arquitetura estética para construir a representação do homem em estado inicial. O público assiste ao espetáculo próximo dos dançarinos, existindo cúmplice e observador. É um trabalho ao mesmo tempo intimista e explosivo, poético e violento, que trata sobre os primórdios da nossa origem antropológica e social, tendo a água como percurso narrativo simbólico e real.

A Lia Rodrigues Companhia de Danças recebeu patrocínio para criação de Pindorama da Petrobras e do Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet – lei federal de incentivo à cultura – dinheiro público, originário de renúncia fiscal, dentro do programa Petrobras Cultural 2010 de “manutenção – nos anos de 2012 e 2013 – de grupos e companhias de teatro e dança”.

Criação e Direção: Lia Rodrigues
Assistente de Direção: Amália Lima
Dançarinos-criadores: Amália Lima, Clara Castro, Clara Cavalcante, Dora Selva, Felipe Vian, Francisco Thiago Cavalcanti, Gabriele Nascimento, Glaciel Farias, Leonardo Nunes, Luana Bezerra, Thiago de Souza. Participação de Gabriela Cordovez
Dramaturgia: Silvia Soter
Colaboração Artística: Guillaume Bernardi
Criação de Luz: Nicolas Boudier

Resenha

Encontrar o outro. E pelo outro, a constituição de si mesmo a partir da compreensão coletiva do ser. Então, entender o homem pelo estar junto. Mas, antes de revelar o outro como complemento, o homem encontrava na natureza a relação. Ventos, ventanias, tempestades, oceano, mares, naufrágios, corpos nus. O universo de Pindorama é exatamente o esperado, o início de nosso existir, o reconhecimento do ancestral. A natureza, feita companhia, dialoga com o ser por meio de sua independência e imposição. Não é possível controlar a água e seu temperamento. Também não é possível controlar o deslocamento do homem no seu compromisso de sociabilidade. Invadem-se, portanto, um no outro. Exige-se o convívio como proposta de reconhecimento do existir, atribuindo ao indivíduo seus limites e singularidades. Exatamente o que se imagina assistir. E não tão simples.

As impressionantes imagens criadas para dar conta do encontro entre natureza e homem, homem e homem, extrapolam a previsibilidade dos efeitos e imprimem imediatamente a potência de uma poética única. Então o outro é também o público, pertencente ao desenho amorfo circundante, participativo pela imposição dos movimentos das massas-corpos e das buscas pelo olhar mais íntimo. Se o outro passa a ser a imagem, portanto cena, a relação é deslocada entre convívio e arte. São esses os polos da experiência. O outro (ou nós) é também o sobreviver residual de uma presença natural na história. Percorremos as entranhas das imagens feitos reféns de sua poesia, afogados pela busca de mais, de mergulhos mais profundos, enquanto os dançarinos bailam a sensação de existirem água e náufragos, acúmulos e encontros. Lia Rodrigues gera em Pindorama mais do que um artifício para representação de sensações; avança sobre nossa condição original, pois viemos da água. Há no homem a virgindade de um território a ser invadido e desbravado, a liquidez ora violenta e explosiva, ora sutil e intempestiva. Dança-se a presença do existir. Assiste-se ao existir outro.

TAGS
Compartilhe
Pindorama (Foto: Sammi Landweer)