Sinopse
Miranda, uma menina de dez anos, vai passar as férias na mansão de seu tio, em uma cidade distante. Proibida de circular pela casa, torna-se amiga de Brigite e Marluce, um sofá e uma cadeira, até conhecer Nicolau, o menino jardineiro. Fora da casa, ela se depara com os muros de um jardim secreto, mantido fechado desde a morte de sua tia. Mais tarde, Miranda descobre seu primo Gregório, da mesma idade, mantido em um quarto escuro, tratado como doente e frágil. Ela o convence a ir com eles ao jardim proibido, onde os três passam a cuidar da vegetação, deixando-o novamente florido e exuberante. Aos poucos, a alegria retorna à casa. Quando seu tio volta de viagem, encontra o filho saudável e a felicidade familiar.
Ficha-técnica
Direção: Rafaela Amado e Mariah Schwartz
Adaptação: Renata Mizrahi, com colaboração de Isabel Falcão, Luisa Arraes e Mariah Schwartz
Elenco: Celso André, Elisa Pinheiro, Isadora Medela, João Velho, Maíra Kestenberg, Michel Blois, Paula Sandroni, Pedro Henrique Monteiro e Rafaela Amado
Cenário: Analu Prestes
Figurino: Espetacular Produções e Artes – Dani Vidal, Ney Madeira & Pati Faedo
Iluminação: Luiz Paulo Nenen
Vídeos: Alexandre Antunes, Lucas Canavarro e Paola Barreto
Trilha Sonora Original e Direção Musical: Marcelo Neves
Direção de Movimento: Rafaela Amado e Mariana Baltar
Maquiagem: Fernanda Santoro
Diretor de Cena: Tallys Moreno
Direção de Produção: Carla Mullulo
Produção Executiva: Igor Veloso
Resenha
A história da pequena órfã que vai morar com o tio talvez traga ecos da própria condição da escritora inglesa Frances Hodgson Burnett, igualmente órfã de pai ainda cedo. A obra escrita em 1911 antecede a melancolia que permeará os anos seguintes, durante a Primeira Guerra Mundial, e reage, à sua maneira, ao pessimismo da virada do século XIX para o XX. O momento olhava o homem a partir de sua utilidade, quando o existir determinava a importância e a relevância no contexto social. Esses traços impregnam o pragmatismo do personagem tio e o desenham severo, distante e objetivo. Assim como o novo século se transformou devido ao desenvolvimento industrial e à aceleração dos centros urbanos, o isolamento do ser e o distanciamento dos laços afetivos se fizeram quase que naturais. É sobre esse existir ensimesmado e enclausurado que discorre a escritora, potencializando a dimensão poética do viver ao revirar tais perspectivas no encontro entre as crianças da história e o jardim escondido. Como se a beleza, antes esquecida e distanciada, estruturasse também no homem o mais belo de sua essência. Assim, o existir do novo século, da criança que será o adulto futuro, revela-se pela potência de redescobrir a si através da potência poética própria da natureza.
Um século a mais depois, agora, no nosso XXI, a discussão de reencontrar na natureza a essência natural do homem avança para discussões mais urgentes, desde as elaboradas a partir da ecologia até as que envolvem a compreensão de outro modo de viver. Então a poética do belo, perdida na Primeira Guerra, ressuscita na perspectiva de um novo romantismo, em que a natureza faz-se a melhor imagem do sublime, para além do belo circunstancial. Desenvolver tais aspectos na criança é acreditar, tal qual Frances, que é possível mover pelo poético um existir diferente dos estruturados pelos mecanismos vigentes. Basta oferecer-lhe o sonho como realidade. E nada pode ser mais onírico e verdadeiro do que o contato com a natureza e, por ele, a descoberta de ser o homem igualmente parte de um sistema natural.