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Sinopse

A partir da obra de Arístides Vargas – última parte da Trilogia do Exílio, como denomina o autor exilado e radicado no Equador, fugindo da ditadura argentina – o grupo investiga as relações da memória e identidade somando também as experiências provocadas pelo golpe militar brasileiro de 1964. Aproximando o realismo fantástico-surrealista do político-épico, as histórias de Nuestra Senhora de las Nuvens são apresentadas por quatro atores, tendo por fio condutor os encontros entre Oscar e Bruna. A narrativa permeia o universo do exílio através do humor, violência, crítica e lirismo, expondo a estrutura do discurso político. Entre o exílio imposto e o “in”xílio autoprovocado, há mais a ser encontrado e descoberto. Nenhuma pessoa está totalmente livre do exílio da plenitude de sua própria realidade.

Ficha-técnica

Direção: Fernando Yamamoto
Diretora Assistente: Camille Carvalho
Dramaturgia: Arístides Vargas
Tradução: Fernando Yamamoto
Elenco: João Ricardo Aguiar, Joel Monteiro, Paula Queiroz e Renata Kaiser
Figurino e Adereços: João Ricardo Aguiar e Maria de Jesus
Assistente de Figurinos: Viviane WeiAn Chen
Cenografia: Fernando Yamamoto e João Ricardo Aguiar
Música: Rafael Telles e Marco França
Preparação Vocal: Babaya
Iluminação: Ronaldo Costa
Assistentes Técnicos: Janielson Silva e Nando Galdino
Secretariado: Myllena Silva
Coordenação de Produção: Rafael Telles

Resenha

A identidade de alguém também expõe sua relação com a cultura, a sociedade, a história que o circunda. Localizar territorialmente o sujeito, portanto implica em determinar-lhe traços e especificidades. Mas não é apenas isso. Dentre as mais variadas maneiras de desconstruir o sujeito, está a imposição de seu exílio. O afastamento do meio original dimensiona o homem a um estágio de isolamento e à ausência de referências caras ao seu próprio entendimento. Então se destrói, desde as certezas até as partituras mais íntimas adquiridas na subjetividade do coletivo.

Como Arístides Vargas, escritor argentino, radicado no Equador após ser exilado pela ditadura em seu país. Ele aprendeu a lidar com ausências e novas estruturas simbólicas e emotivas, e delas originou o que denominou por Trilogia do Exílio. Nuestra Senhora de las Nuvens finaliza a composição, e é a partir de sua narrativa que o Clowns de Shakespeare criam o espetáculo, estabelecendo elos com a memória ainda presente do golpe militar brasileiro, agora completando 50 anos. Aproximando o realismo fantástico-surrealista do escritor, marca presente em muitos textos latino-americanos, dos instrumentais políticos das estruturas épicas, amplia-se o exílio para o que denominam por “in”xílio, a interiorização do sujeito como fuga de sua relação com o exterior. Pois há na fuga ou autoisolamento igual tentativa de sobreviver ao contexto exposto, provocando igual desfacelamento da identidade e sustentação dos princípios originais do sujeito. A descaracterização da dimensão de autoidentificação serve ao enfraquecimento da identidade como valor de presença, sem a qual o homem passa a ser politicamente insignificante no sistema. Trazer ao público o encontro com o esfacelamento provocado pelo exílio amplia a observação sobre sua realidade. Muitos são os exílios simbólicos e indiretos. Muitos os silêncios autoinfligidos como tentativas de proteção. E o teatro pode ser a melhor maneira de implodir as proteções, sejam elas impostas ou construídas como fugas de si mesmo.

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Nuestra Senhora de las Nuvens (Foto: Rafael Telles)