Sinopse
Uma mulher admirada por todos vive nos anos 1920, na cidade de Assunção, capital do Paraguai. Décadas depois, em 1970, uma menina interiorana de 13 anos, de origem humilde, viaja com a família para a capital em busca do progresso. Como aproximar as duas? E de que maneira a história pode ser contada por quatro homens? É o que En Borrador se propõe a investigar. O espetáculo tem por eixo a teoria de que qualquer pessoa está separada de outra por seis graus. E a obra é construída de acordo com a observação do espaço em que será realizada e o que ele oferece como signo e narrativa. O grupo cria sem uma direção pré-estabelecida, com a colaboração de artistas multidisciplinares reunindo elementos culturais, aspectos do imaginário coletivo, folclore, idioma guarani e espanhol. Um espetáculo criado na presença do público sem perder a qualidade de construção ficcional.
Ficha Técnica
Conceito, Dramaturgia e Direção Geral: Paola Irún
Produção: Anahi Zaldivar
Elenco e Criação: Héctor Silva, Jorge Báez, Rayam Mussi e Silvio Rodas
Ator Convidado: Nelson Viveros
Direção de Arte: Carlo Spatuzza
Assistência de Direção: Julio Varesini
Apoio: Fondec (Fondo Nacional de la Cultura e las Artes) y Centro Cultural de la República Cabildo
Direção de Produção no Mirada:Carla Stefan
Resenha
En Borrador, companhia paraguaia, apresenta um espetáculo criado a partir do nada. Não o nada como tema, mas, como explicam, partindo de coisa nenhuma para iniciar a criação. Aos poucos os temas revelam-se e dialogam com o ambiente, definindo os caminhos do que será a peça. Surgem desse desvelamento e das respostas às provocações durante o ensaio os temas de Teoria dos Seis Graus de Separação. Originária nos Estados Unidos, a teoria traz a ideia de que qualquer um estaria ligado afetivamente a outro por seis pessoas no máximo. Também é site specific, quando a obra assume a ambiência espacial e territorial como cofundadora dos princípios simbólicos-narrativos.
Para dar conta dos dois temas, o espetáculo traz a história de uma mulher no ano de 1920 e uma garota na década de 1970. A aproximação dos temas escolhidos configura também a pertinência de uma reflexão mais ampla sobre o entendimento da história. Habitando a narrativa em dois momentos distantes no tempo, a companhia gera a percepção no espectador de um acompanhamento linear. Todavia, é preciso perceber o espetáculo em diálogo com o instante presente, ao construi-lo pelas condições e particularidades do espaço. Essa concretude interfere sobre a ficcionalidade da cena e inclui o espectador como presentificação do acontecimento. Não bastaria a história ser contada, mas ela precisa ser vivenciada pela concretude do espectador. Esse estado de presença impõe à história outro valor, ultrapassando a dimensão óbvia da ficção para inclui-la sobre uma carga de cumplicidade. Então a história se faz em três instantes, sendo o terceiro momento aquele de sua realização. O trajeto narrativo implica em reconhecer a construção temporal constituída pelas décadas dos personagens e o agora da apresentação. Ao espectador, por fim, sobra a sensação de ser a narrativa a história com pontos ligados entre acontecimentos (talvez sempre possíveis de seis?), o site specific do tempo.