País

Peru

Sinopse

Três atrizes ocupam o palco e apresentam narrativas construídas a partir de experiências pessoais, testemunhos surgidos pela ótica da mulher, como filhas e mães. Permeado por música, vídeo e dança, o espetáculo multimídia abriga histórias interrompidas por gritos e bolas de futebol. É como se o universo feminino fosse invadido pelos códigos masculinos e por esse processo distintivo as personagens apresentassem sua intimidade. Para o grupo, Criadero não se trata de um espetáculo de teatro, mas um exercício de tornar a própria vida o material de ficção. A perspectiva de uma produção peruana apresenta outro questionamento. O quanto de mulher e de feminino existe em nossas diferenças culturais? O espetáculo convida a todos a se aproximar, ouvir, assistir, sentir e descobrir.

Ficha-técnica

Dramaturgia, Direção Artística e Direção de Vídeo: Mariana de Althaus
Elenco: Alejandra Guerra, Denise Arregui e Lita Baluarte
Codireção: Nadine Vallejo
Iluminação: Rodolfo Acosta
Ilustrações: Andrea Lértora
Edição de Som e Efeitos: Rodolfo Acosta
Assistência de Vídeo: Monserrat Gómez de la Torre
Fotografia: Paola Vera

Resenha

A interface e a vida têm sido ampliadas de muitas maneiras no teatro contemporâneo. O uso do particular como vocabulário narrativo por vezes trata fatos como parâmetros, mas também como desconfiança. O Centro Cultural da Pontifícia Universidade Católica do Peru, no entanto, escolhe trazer pelo depoimento a desconfiguração da teatralidade; torna a vida ficção pela exposição de seus sedimentos mais íntimos. As três mulheres, atrizes, são filhas, mães (ao menos duas), e a soma de tudo isso no palco. Aproximando-se da dança, música e vídeo, o espetáculo convida ao íntimo feminino, complexo e, por vezes, indecifrável. O convívio com a fala feminina não necessita, todavia, existir na redundância da voz da mulher. Sendo dela, espera-se que o feminino surja com naturalidade. No entanto, nem sempre esse aspecto é assim tão evidente. Escondem-se nos dizeres femininos muitos dos aspectos que se impõem à mulher e como ela deve ser reconhecida. Esse atrito entre descobrir sua propriedade e as demandas exigidas no ser de um jeito específico depende igualmente de como a cultura sustenta ambas as faces da exposição.
O espetáculo peruano nos aproxima da mulher em seu estado latino. Nele reconhecemos um pouco das condições de nossa criação e valores. Só que o Peru é também um tanto enigmático para os brasileiros, distantes que somos dos vizinhos. É exatamente o vácuo entre as duas culturas que pode ser o veio para a surpresa de um olhar original ou extremamente similar. Se igual, a mulher latina está cada vez mais próxima de sua condição feminina na construção de um olhar único a partir do contemporâneo. Se original, a fala das atrizes refletir-se-á o como a dimensão de uma cultura outra, em que o feminino é capaz de sustentar particularidades e oferecer entradas absolutamente novas. Em ambos os sentidos, apreende-se mais do que nos discursos; amplia-se a percepção sobre o existir mulher, e isso é já importante a todos os gêneros, independentemente de sua sociedade, cultura e certezas. Mas isso depende do mais íntimo e particular de cada um dos espectadores.

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Criadouro (Foto: Paola Vera)