País

Espanha

Sinopse

A integração entre diversas artes e linguagens é uma das mais fortes características do que se pode denominar experimentação nas artes cênicas. Com os avanços tecnológicos e a quebra do paradigma de que ao teatro cabe apenas o que é do teatro, os coletivos reúnem artistas visuais, videoartistas, músicos, escritores e o que mais houver. Esse é também o caminho de Insectotròpics, coletivo espanhol fundado em 2011. Definindo o espetáculo como a gravação de um filme no instante de sua realização, a proposta é oferecer ao público a bservação simultânea dos principais focos projetados em uma grande tela e também do making of. Como argumento o grupo escolheu se apropriar e revisitar um tema conhecido de todos, o conto Chapeuzinho Vermelho. A plasticidade se torna aqui a paisagem cênica para a exploração dos recursos técnicos e performativos, em que dois artistas trabalham com pinturas e materiais reciclados, enquanto o filme é realizado e a trilha é executada ao vivo, distorcendo texturas musicais e vozes.

Ficha-técnica

Insectotròpics: iex, Laia Ribas, Mar Nicolás, Maria Thorson, Tullis Rennie, Vicenç Viaplana Ventura e Xanu

site oficial da cia

Resenha

No mesmo momento da história, um homem desenha sobre uma tela bidimensional uma estrutura tentando dar conta de representar simultaneamente todos os lados de uma estrutura tridimensional. Em outro lugar, outro homem comprova a presença de um elétron marcado com radioatividade em dois lugares ao mesmo tempo, levando a uma complexa mudança de observação da realidade física. Nasciam na ciência o quântico e nas artes o cubismo. Em ambas, o paradigma da simultaneidade como ampliação do existir e perceber. Muito foi explorado a partir de suas respostas estéticas e filosóficas, e com o advento ininterrupto de novos equipamentos e instrumentais tecnológicos, a discussão permanece viva e fundamental.

É também esse o caminho conceitual escolhido pelo coletivo espanhol Insectotròpics. A possibilidade de o espectador assistir à criação de um filme e seu making of ao mesmo tempo. O espetáculo confunde propositadamente as duas instâncias, performatizando também as fronteiras entre as linguagens visuais, cênicas e tecnológicas. Se, para tanto, é preciso oferecer um caminho de reconhecimento, garantindo ao espectador maior proveito, a fábula de Chapeuzinho Vermelho foi a escolhida. Curiosamente, a narrativa clássica apresenta uma menina em processo de amadurecimento, cuja liberdade configura-se um risco ao existir adulto, frente ao desejo e ao prazer. São valores próximos à sedução da simultaneidade, como quando é induzido o deslocamento da percepção do olhar, gerando prazer pela presença daquilo que naturalmente não estaria junto. Assistir aos dois lados exige o risco da escolha, tanto como atravessar uma floresta. Está no desconhecido a dimensão mais profunda do risco. No caso da simultaneidade entre o fazer e o contar, assistir e ser cúmplice, a multiplicidade torna-se a soma das linguagens estéticas, a floresta a ser desbravada.

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Chapeuzinho Galáctico (Foto: Rosa Collel)