País

Espanha

Sinopse

Fugir. Em um primeiro olhar pode parecer apenas o afastamento de algo ou alguém. Estamos acostumados a impedir as fugas. Mas, e quando elas significam retomar o passado e nele encontrar os sentidos e os medos, para então mudar tudo? No espetáculo, a personagem chega aos 40 anos morando com a mãe e trabalhando como locutora de rádio. Um existir monótono em pleno paraíso de areia e mar. Ela precisa fugir, portanto. E segue para uma jornada através de seus cartões-postais. O mapa desenhado do passado a faz retornar à raiz de seus medos e ao primeiro amor. O espetáculo trata das dobras da vida e dos recessos da alma, revelando o quanto a realidade pode ser mais dura que qualquer um. Cabe encontrar dentro de si mesmo outra perspectiva de viver, mais sensorial e sincera, como meio de construir outros caminhos e possibilidades para continuar.

Ficha-técnica

Direção e Encenação: Pepe Bablé
Dramaturgia: Abel González Melo
Elenco: Carmen Reiné, Charo Sabio, Jay García e Susana Rosado
Figurinos: Carolina Bablé
Iluminação: Luís Jiménez e Pepe Bablé
Fotografia: Rafael Sabio
Dramaturgismo: Eberto García Abreu
Assistente de Direção: Luís Jiménez

Resenha

O teatro contempla o acontecimento como movimento em pleno estado de presente, mas tudo aquilo revelado ao outro surge no seu reconhecimento na qualidade de passado, já que o absorver, o interpretar e o compreender ocupam certa temporalidade física. No entanto, lidamos com os acontecimentos como experiências distantes e desconectadas do presente, como se fosse possível configurar o agora sem seus antecedentes. Cádiz en mi Corazón: Postales de un Viaje Imposible, da Compañia Albanta, revela a história de uma mulher que necessita recuperar seu passado como meio de modificar seu presente. As lembranças se tornam sua única maneira de retornar. Assim como o teatro se configura pelo acúmulo de pequenos instantes desenhando um percurso específico, a que se denomina narrativa, os postais da personagem recuperam o passado por pequenos pedaços a serem interligados pela memória.

Só que a memória, em si mesma, pode levar à construção da narrativa e à construção de informação pela costura inconsciente das lembranças, fazendo com que o indivíduo se proteja o máximo possível. A experiência de caminhar pelo passado, então, se valida verdadeiramente na esfera de uma criação controlada como no teatro, em que até mesmo as fragilidades são calculadas para ofertar uma percepção narrativa específica. Cabe à arte, por fim, oferecer ao indivíduo a dimensão mais profunda de seu percurso no passado. Sem ela, o homem estaria fadado à falência do retrospecto de sua jornada. Por isso o interesse nas histórias ficcionais, nas narrativas inventadas, nas pessoas rascunhadas como possibilidade. São elas causadoras das transferências mais íntimas do indivíduo, a única maneira sincera de se admitir pelo trajeto do outro o reconhecimento mais belo e dolorido do realizado por si mesmo.

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Cádiz em Meu Coração: Postais de uma Viagem Impossível (Foto:  Rafael Sabio)