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Sinopse

O espetáculo surge como resposta aos estudos que deram origem ao projeto Ficções, sequência de seis solos nos quais a narrativa se aproximava da biografia dos atores. Agora, 02 Ficções parte da memória do próprio diretor e dramaturgo da companhia, Leonardo Moreira, para construir um jogo sobre o fazer teatral, apoiando-se nos universos de Tchekhov e Ian McEwan.
Dividido em duas plateias distintas, o público tem a possibilidade de visitar o trabalho e assisti-lo por diferentes acessos: em um, pessoal e íntimo; no outro, mais estruturado como um espaço de teatro. Assistir aos dois ângulos amplia a percepção ficcional da proposta, ao mesmo tempo em que reconduz ao interior do processo de criação da companhia. Em ambos, ficção e memória são possibilidades possíveis, deixando ao espectador decifrar seus momentos e perceber ser o artista também um objeto para invenção.

Há duas formas de interação com o espetáculo:
PLATEIA A – VERSO (coxia)
PLATEIA B – FRENTE (público)
*O espetáculo se inicia com um áudio tour pelo fosso do teatro, aberto ao público em geral a partir das 15h. Esta obra sonora, parte integrante do projeto 02 Ficções, está disponível na unidade do SESC e para download em: www.ciahiato.com.br

Ficha-técnica

Direção e Dramaturgia Geral: Leonardo Moreira. Com fragmentos de A Gaivota, de A. Tchekhov e Reparação, de I. McEwan.
Elenco: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Mariah Amélia Farah, Paula Picarelli & Thiago Amoral
Cenografia, Espaço Cênico e Desenho de Luz: Marisa Bentivegna
Música Original: Marcelo Pellegrini
Figurino: João Pimenta
Produção: Aura Cunha

site oficial da cia

Resenha

Das grandes verdades do contemporâneo reside o paradoxo de ser impossível compreendermos a verdade, reconhecermos a própria face como deformidade do real, dada a condição de ser inviável ao indivíduo reconstruir com precisão sua condição. Então ele a recria, a reinventa, torna pessoal a perspectiva preenchendo de crença a imagem de sua identidade. O teatro complica esse processo ainda mais ao trazer o artista à cena feito argumento narrativo. A cena autorreferente atual não vislumbra apenas a capacidade de contar a história do autor; revela também a possibilidade narrativa da face idealizada do próprio artista. É impossível chegarmos à verdade real. Se todo indivíduo é conclusivamente uma ficção de si mesmo, todo teatro autobiográfico é a dobra ficcional estética decorrente da crença sobre si. Chegar-se-á ao entendimento de ser uma obra teatral a ficção de um alguém. Se concreta ou inventiva, pouco importa.

Ficções, projeto da Cia. Hiato, começou pela investigação particular e íntima dos materiais biográficos dos atores. Foram seis monólogos nos quais vida e cena se fundiam como possibilidades, restando ao público conviver simultaneamente com verdades e invenções. Agora, em formato mais teatral, 02 Ficções explora Leonardo Moreira, diretor da companhia, e a perspectiva de suas verdades possíveis. A plateia dividida em dois grupos experiencia diferentemente a obra. Para uma é oferecida a perspectiva afetiva, através da recuperação metafórica das memórias do autor – a instalação de uma casa em ruínas ou suas sobras –, até chegar ao espetáculo-ensaio ficcional Mir, construído a partir do universo de Antón Tchekhov e Ian McEwan. À outra plateia, a cena é oferecida frontal e tradicional. Verdade ou não, assiste-se à presença de um processo criativo, no qual a realidade é a condição subliminar de ficcionalização. Tudo é verdade e criação, por fim. Em 02 Ficções, mais do que subverter os códigos, a Cia. Hiato confirma ser o artista também um espaço possível de invento.

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02 Ficções (Foto: Otávio Dantas)