“Vivemos uma época de confusão de coisas, de politica, e também de massificação. Temos muito de tudo. Nesse sentido, a individualidade está sumindo, entrando em uma forma de trabalhar um pouco mais poliédrica: os coletivos”. Essa é a reflexão que faz Claudi Carreras, curador de E.CO: Exposição de Coletivos Fotográficos Ibero-Americanos. Além de trazer um retrato da cidade de Santos, a exposição ainda celebra a produção em conjunto, um dos temas dos quais Claudi é entusiasta. “Foi uma forma de entender a coletividade, e uma forma muito bonita. Além disso, alguns coletivos disseram que foi o encontro mais frutífero que eles foram, porque todos pensaram juntos. Foi um evento verdadeiramente participativo”, conta.

A exposição é resultado do trabalho de 20 coletivos fotográficos durante a semana anterior ao Mirada. “Neste modelo de evento participam 70 ou 80 pessoas e o objetivo é produzir, expor e montar a exposição em dez dias”, explica Paulo Fehlauer, jornalista e fotógrafo do Coletivo Garapa, um dos participantes do encontro.

Assim como Claudi, Paulo partilha do entusiasmo pela criação coletiva, e reafirma a ideia de dividir as forças. “Da nossa parte, existe uma disposição para trabalhar em colaboração. Quase todos os nossos projetos são desenvolvidos com colaborações de outros profissionais, sejam jornalistas ou designers, gente do cinema. A gente sempre busca isso. Pra nós isso é importante porque é uma forma de trabalhar diferente, não é apenas uma relação de contratação de forma hierárquica. A gente tenta inverter a dinâmica e pensar como parceria, uma colaboração horizontal”, conta Rafael Vilela, do Mídia Ninja, também participante do evento. “Não há outra forma mais interessante e inteligente do que o trabalho coletivo no século 21. Barateamos os custos e compartilhamos as angústias e críticas: tudo já sai mais delineado, com mais debate. A inteligência coletiva é fundamental para fotografia. As pessoas tem que sair de suas bolhas, largar seu ego e partir para essa aventura”.

O processo de produção e o resultado

“Eu pesquiso há dez anos sobre a cena latino-americana. Em 2006 comecei a mapear esse trabalho e em 2008 fizemos a primeira exposição como um encontro de coletivos. A partir dai fizemos uma pesquisa continuada, com uma curadoria mais abrangente desses países”, conta Claudi. “Fotograficamente, o Brasil me fascinou. A partir disso, a exposição fez todo sentido”, acrescentou.

Rafael Vilela também explicou o trabalho do Mídia Ninja dentro do projeto. “Foram 10 dias juntos, uma explosão de alegria, de trocas e de conhecimento. Já viemos trabalhando nos últimos anos na concepção de uma rede latino-americana de fotografia, linkando articulações distintas”, revela. Como resultado, ele acredita em um trabalho que além de interessante, possa ser duradouro. “A ideia da fotografia enquanto vetor de conexão é muito potente, tenho certeza que essas trocas irão gerar consequências deliciosas nos meses que seguem, como a revista de fotografia latino-americana gerida pelos coletivos, que criamos em uma reunião aberta fora dos espaços formais do encontro em Santos. O E.CO é excelente, ao meu ver, ao possibilitar essas conexões e permitir que se criem estruturas e projetos para além dele”, disse.

Laura del Rey, fotógrafa participante, contou como funcionou o trabalho: “Eu e outros 13 fotógrafos, jornalistas, historiadores e professores, participamos da fase chamada ‘esquenta’ do E.CO, que teve três workshops. Fiz o Orla Latente, com o Coletivo Garapa. Nesse esquenta, foram três dias de encontros, sendo o primeiro uma conversa geral, um pouco da história, trabalho e metodologia deles. Foi um grande brainstorm sobre Santos e o que fotografaríamos no dia seguinte. O segundo dia já foi a saída dos minigrupos (2 ou 3 pessoas por coletivo), cada qual com seu respectivo canal da orla para registrar. O terceiro dia foi a edição das imagens”, explica.

“Foi muito importante estar dentro de um evento internacional ibero-americano. Porque os meus trabalhos tem uma ligação muito forte com isso. O próprio nome indica: mirada. E nós trouxemos um olhar sobre a cidade de Santos”, finalizou Claudi.

 

Coletivo Pão & Circo

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